Conheça 'Malu', filme premiado de Pedro Freire que se inspirou em 'Aquarius'
Baseado na vida de sua mãe, a atriz paulista Malu Rocha, o diretor encontrou em memórias familiares o combustível para criar uma obra catártica

A arte tem o poder de transformar histórias pessoais em narrativas universais, e "Malu" é um exemplo desse feito. Inspirado na vida de sua mãe, a atriz paulista Malu Rocha, o diretor Pedro Freire encontrou nas suas próprias memórias o combustível para criar uma obra que ecoa em diversos públicos e gerações.
O filme, que chega ao circuito comercial nesta quinta-feira (14), já coleciona prêmios e aplausos em festivais importantes, incluindo o Janela Internacional de Cinema do Recife e a Première Brasil no Festival do Rio, onde levou cinco Troféus Redentor.
Em "Malu", a personagem-título (interpretada por Yara de Novaes) vive uma crise existencial, presa a memórias de um passado glorioso nos palcos.
Sua relação conturbada com a filha (Carol Duarte), também atriz, e a mãe conservadora (Juliana Carneiro da Cunha) expõe as complexidades do envelhecimento e do conflito entre gerações.
Processo criativo
Em conversa com o JC, Pedro Freire revelou que a criação de "Malu" foi, no início, uma experiência pessoal.
"Meu processo inicial foi colocar todas as minhas memórias no papel, especialmente sobre o que ocorreu com minha mãe. Reuni também muitas lembranças da minha irmã, que me contou as memórias dela. Coloquei tudo no papel e, ao olhar para aquilo, percebi que havia muito material que poderia servir para criar um filme", diz.

"Algumas dessas memórias eram úteis para mim, mas também tinham o potencial de serem levadas a público e analisadas. Fiz uma separação entre o que poderia contar a história da Malu para o espectador e o que era mais íntimo. Consegui me distanciar um pouco, porque queria realmente fazer esse filme para o público, e não apenas para mim."
Influência de 'Aquarius'
Originalmente, o diretor pensou em ambientar a trama em uma época em que sua mãe fosse jovem, sob o regime militar. No entanto, essa visão mudou ao assistir ao filme "Aquarius", de Kleber Mendonça Filho.
"Ao assistir Aquarius, percebi que estava sendo etarista. Achei muito mais interessante contar a história de uma mulher de 50 e poucos anos", diz.
"O filme fala muito do Rio e de São Paulo, porque a personagem quer se mudar para São Paulo. No entanto, é uma obra com uma atmosfera bem recifense, influenciada pelo cinema de Kleber Mendonça Filho."
Gerações
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Por faltar em idades, o conflito entre gerações é uma linha central em "Malu", especialmente na relação da protagonista com sua mãe e filha.
"Cada geração carrega suas características e traumas, e o filme explora muito a questão dos traumas, que acabam contaminando a geração seguinte", diz Freire.
"Isso é algo que vejo com frequência: você tenta de tudo para não repetir com seus filhos os erros dos seus pais, mas, sem perceber, acaba cometendo novos erros. Existe essa ideia de que, se você errar, ao menos que erre melhor da próxima vez."
Recepção nos festivais
"Malu" estreou mundialmente no Sundance Film Festival e seguiu uma trajetória de destaque em eventos como o New Directors New Films em Nova York e a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, onde recebeu o Prêmio Paradiso para apoiar sua distribuição nos cinemas.
Freire se mostra emocionado com a recepção da obra. "O reconhecimento mais bonito é ver as pessoas saindo emocionadas, muitas vezes chorando. Frequentemente, elas vêm até mim emocionadas, agradecem e compartilham histórias, falando sobre como se conectaram com suas mães, avós ou filhas. Algumas pessoas contam suas histórias de maneira muito íntima, quase se expondo demais.
"O filme tem causado uma certa catarse, levando pessoas a me procurarem nas redes sociais para compartilhar o quanto a obra mexeu com elas. Esse é um prêmio inestimável, ver como o trabalho toca o público", finaliza o diretor.