CINEMA

Rodado há quase 50 anos, "A Rainha Diaba" desafia o tempo; Janela exibe filme nesta sexta-feira (22)

Obra de Antonio Carlos da Fontoura foi lançada em 1974 e revela-se contemporânea, com qualidade artística e, surpreendentemente, também técnica

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Romero Rafael

Publicado em 21/07/2022 às 0:00 | Atualizado em 02/08/2022 às 21:34
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Os tempos passado e presente embaralharam-se, ou fundiram-se mesmo, na noite de terça-feira (19), no Cineteatro do Parque, na Boa Vista. A Rainha Diaba, filme de Antonio Carlos da Fontoura, rodado há quase 50 anos, em 1973, foi exibido pelo Janela Internacional de Cinema do Recife revelando-se uma obra contemporânea. Em sua qualidade artística e, supreendentemente, também técnica.

O longa-metragem, protagonizado por Milton Gonçalves, foi exibido em DCP 4K, após digitalizado por uma iniciativa do Janela junto com a organização Cinelimite e o laboratório Link Digital/Mapa Filmes. Com imagens que desafiam os efeitos de meio século, a obra ganha ainda mais potencial de ser retomada e voltar a circular e construir sentidos e debates.

"'A Rainha' está muito feliz de mostrar sua roupa nova neste cinema tão bonito! É a primeira vez que ela mostra o novo traje", disse Antonio Carlos da Fontoura, que estava presente na sessão. "É uma experiência fantástica ver como, 50 anos depois, o filme continua vivo, contemporâneo, e talvez até mais moderno do que era. O filme era um pouco precursor, e agora ele é alcançado pela realidade."

A plateia era quase toda formada por gente nascida depois do lançamento de A Rainha Diaba, em 1974. "Para vocês, é um filme novo."

A profissional de preservação Débora Butruce, que acompanhou o processo de digitalização de A Rainha Diaba — rodado em 35 mm —, enfatizou que "o digital trouxe possibilidades inimagináveis para a preservação audiovisual", com possibilidade de fazer intervenções no som e na imagem, mas "não faz milagre" se o material não estiver bem preservado — no caso, os negativos da obra.

"Como profissional de preservação há mais de 20 anos, foi surpreendente encontrar um material em tão bom estado, sabendo como é a área de preservação", contou Débora, referindo-se à falta de investimento. Os negativos estavam depositados no Arquivo Nacional.

"O resultado dessa digitalização é uma exceção, mas não pode se tornar a exceção. Que esse exemplo seja seguido por outros festivais, já que a preservação do audiovisual é um trabalho coletivo."

Toda exclamação sobre o bom estado da obra é devida. E quem quiser ver para crer, nesta sexta-feira (22), às 20h, haverá sessão extra, no Cinema da Fundação do Derby, ainda na programação do Janela, que segue até domingo (24).

Milton Gonçalves é "A Rainha Diaba"

DIVULGAÇÃO
Milton Gonçalves em "A Rainha Diaba", de Antônio Carlos Fontoura - DIVULGAÇÃO

Diaba (Milton Gonçalves) comanda, a partir de um quarto nos fundos de um bordel no Rio de Janeiro, uma quadrilha que controla pontos de venda de drogas na cidade. Até que a disputa por poder ameaça seu domínio. Enquanto isso, violências são geradas em muitas vias: não só física, mas de gênero, racial, orientação sexual.

Milton Gonçalves brilha no papel modulando entre um carrasco chefe de tráfico, envolto por um bando de criminosos, e uma bicha preta afeita a maquiagens e rodeada por travestis. Figuras marginais/marginalizadas. A Rainha Diaba tem sido "retomado como referência fundamental na historiografia — a se contar — de um cinema queer brasileiro", aponta a curadoria do Janela.

Pela interpretação, o ator, falecido em maio, aos 88 anos, recebeu os principais prêmios daquele ano, inclusive o Candango, do Festival do Cinema Brasileiro de Brasília.

Também aparecem em cena Odete Lara, Nelson Xavier, Stepan Nercessian e Yara Cortes.

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