Foi no final da tarde de uma terça-feira de dezembro que a mineira Iza Sabino conversou com a reportagem do Jornal do Commercio. A pauta principal, claro, seria o lançamento de seu álbum de estreia solo, Glória, produzido por Coyote Beatz e disponível há algumas semanas nas plataformas. Mas além dele, os trinta minutos de entrevista passearam pelas mudanças significativas que 2020 - junto às imposições e aos imprevistos de alcance global - trouxe para a jovem rapper. Iza sai dele ainda mais forte e com seu nome fixado entre os principais da nova geração.
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Por videochamada, ela conta que a construção de Glória foi maturada por anos. "Queria algo que conseguisse passar quem eu realmente sou. Foi até bom não ter conseguido [fazer antes]. Fiz o Augusta (EP de 2019) e agora vim com ideias crescidas", diz ela sobre o trabalho que escolheu abrir com falas de Elza Soares, retiradas da entrevista concedida ao programa Roda Viva, em 2002.
Com exceção de Avisa, as letras das outras oito músicas foram escritas em uma semana e têm como mote principal temas caros à vivência de Iza: labirintos da cultura hip hop, racismo e amor - romântico ou não - entre mulheres. Em uma das mais interessantes, Pretas na Rua, convida as irmãs Tasha e Tracie Okereke: "A humildade que 'cês fala é eu aceitar ficar onde vocês coloca / Se depender de mim vão ficar sem refrão / Eu não era apresentável / Hoje eu dispenso apresentação".
"Quis abordar de forma agressiva o quanto não só na cena hip hop, mas também em outros tipo de trabalho, é tão naturalizado ser machista. Tem que existir essa 'balançada'. Muitos caras reagiram positivamente a ela. Não precisamos de aprovação [masculina], mas achei legal ter esse retorno. Foi um berro mesmo", observa.
A VIRADA BEST DUO
Iza é integrante do Original GE, coletivo mineiro do qual fazem parte outros excelentes nomes - Djonga e Clara Lima entre eles. E foi em parceira com outro conterrâneo, Fabrício Soares, o FBC, que lançou ainda no começo do ano o álbum Best Duo, uma virada de chave na carreira, segundo ela.
"Antes dele eu não tinha ideia do tamanho da minha versatilidade, o que posso fazer com minha voz, flow, métrica e até ideias também. Aprendi muito com o Fabrício e ele comigo. [Best Duo] me deixou pronta para o Glória".
Entre os dois registros e as restrições da pandemia, ela detalha que dedicou tempo a olhar para si, o que fez com que Glória assumisse as vezes de diário. "Me atualizei e evoluí como pessoa, artista e profissional. Assinei outro contato como streamer de jogo, aprendi muito como beatmaker, tem disco novo do [grupo] Fenda vindo...fiquei acelerada. Talvez se não fosse a pandemia, metade disso não teria acontecido", avalia.
E por que Glória, afinal? "A mensagem é que no final de tudo eu procuro sempre encontrar a glória. Coloquei esse nome porque eu sou a glória por dentro, como pessoa. Procuro ser, viver e passar glória em várias situações".
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