O aeroporto do arquipélago de Fernando de Noronha será fechado aos turistas no próximo sábado (21). O decreto (Nº 48.822) do governador Paulo Câmara foi anunciado em coletiva de imprensa realizada na noite desta terça-feira (17) para atualização de dados sobre o coronavírus em Pernambuco. A decisão das autoridades sanitária e de saúde do Estado partiu da constatação de que um dos casos suspeitos de infecção pelo covid-19 é proveniente da ilha.
No único hospital de Noronha, o São Lucas, foram destinados dois leitos de enfermaria para isolar os pacientes com suspeita de infecção pelo coronavírus. A unidade de saúde, no entanto, não possui UTI, por ser de baixa complexidade. Dessa forma, se houver ocorrências graves, os pacientes deverão ser transferidos para o Recife.
Também nesta terça (17) à tarde, o governo federal havia anunciado o fechamento de parques nacionais no Brasil, entre eles o Parque Marinho de Fernando de Noronha, que ocupa 70% da ilha principal e as demais ilhas secundárias, incluindo praias famosas como as do Sancho, Leão e Sueste.
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VOOS EM FERNANDO DE NORONHA
Atualmente, duas companhias aéreas mantêm operações no aeroporto de Noronha: Azul e Gol. Ambas as empresas transportam cerca de 150 mil pessoas (turistas e moradores) ao ano, entre pousos de decolagens no arquipélago, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Pela Azul, antes da pandemia de coronavírus, eram praticados, em média, três voos por dia, sendo saídas de Recife e Natal. Por causa das medidas de segurança que vêm sendo tomadas para evitar proliferação maior do vírus, a empresa já havia anunciado a redução das frequências.
A partir deste sábado e domingo, por exemplo, a oferta da Azul passará a ser de apenas um voo por dia. Já entre o dia 23 de março e 30 de abril, haverá apenas uma frequência semanal, aos sábados. "Existe a possibilidade de adicionarmos voos extras para não desatender em carga e na necessidade de transporte os ilhéus", diz a companhia aérea em nota.
Já a Gol informa que "a programação de voos está passando por ajustes constantes que visam garantir o equilíbrio entre o novo cenário de demanda e a qualidade e amplitude da nossa malha aérea". A companhia opera dois voos diários para Fernando de Noronha e, até esta terça-feira (17), informa que não houve cancelamento ou suspensão das viagens.
Durante a coletiva de imprensa para anúncio da medidas, o administrador do arquipélago de Fernando de Noronha, Guilherme Rocha, disse que estão sendo avaliadas medidas para retirar os turistas da ilha. "Desde o início da crise estamos preocupados. É um debate entre a economia e a vida. Decidimos pela vida. Tínhamos de tomar atitude pra salvar as vidas. Curaçau, Aruba, outras ilhas se fecharam também", ressalta Rocha.
REAÇÃO DO TRADE
Representantes do trade turístico de Fernando de Noronha receberam a notícia com apreensão, mas ao mesmo tempo se mostraram resignados. "Foi a melhor decisão para preservar a saúde. A ilha é pequena. Só temos um respirador, que não daria conta de atender 7 mil pessoas (entre moradores e turistas)", observou a presidente do Conselho de Turismo (Contur) do arquipélago, Dora Costa, dona de uma pousada na ilha há 26 anos. De acordo com Dora, vários cancelamentos já vinham sendo registrados na última semana de turistas preocupados com o deslocamento até a ilha.
Vamos tentar sobreviver e aguardarDora Martins, presidente do Conselho de Turismo de Fernando de Noronha
Para o presidente da Associação das Hospedarias Domiciliares de Fernando de Noronha (AHDFE), Ivan Costa, o fechamento do arquipélago ao turismo é "tudo o que o setor temia". "É lamentável, mas necessário. A hora é de sacrifício, mas que precisa valer a pena para não arriscarmos a vida de ninguém", diz. Segundo Costa, a associação conta com 100 pousadas, que somam mais de 1.500 leitos.
Cerca de 95% da população de Noronha depende direta ou indiretamente do turismo, maior responsável pela receita da ilha, que gira em torno de R$ 42 milhões - sendo R$ 36 milhões vindos da Taxa de Preservação Ambiental e R$ 6 milhões do Imposto sobre Serviços (ISS).
A sobrevivência desses trabalhadores e a sustentabilidade dos negócios enquanto as atividades estiverem suspensas é uma das preocupações, em paralelo à contenção do contágio pelo novo coronavírus.
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REIVINDICAÇÕES
Para tentar minimizar os prejuízos, o trade protocolou um documento junto à Administração de Fernando de Noronha, com reivindicações que incluem isenção das cobranças de consumo de energia elétrica (Celpe) e água (Compesa) enquanto durar a pandemia e suspensão de cobrança de impostos e de dívidas, além de estabelecimento de uma linha de crédito a juros baixos para capital de giro e relativização das normas que regulam o Código de Defesa do Consumidor, possibilitando a devolução das diárias canceladas por meio de crédito ao cliente ou com prazo para reembolso de até 12 meses, a fim de evitar medidas judiciais.
O secretário de Turismo do Estado, Rodrigo Novaes, diz que já se reuniu ontem com o secretário de Finanças, Décio Padilha, para encaminhar as demandas do trade de todo o Estado, incluindo Noronha, e que uma definição deve ser anunciada em uma nova reunião na próxima segunda-feira (23). Por enquanto, o gestor conta que a Celpe já sinalizou positivamente sobre a cobrança apenas do valor de energia utilizado e não o total contratado, como costuma ocorrer, uma vez que os estabelecimentos não terão demanda para esse consumo. "Para um assunto grave, não há solução fácil. Mas o trade está consciente e unido para atravessar essa crise", afirma Novaes.
Em 2019, o número total de visitantes em Fernando de Noronha foi de 106.130, dos quais 9.162 foram estrangeiros (9,06%), em sua maioria (47%) vindos da Europa e América do Sul (32%). Entre os 95.918 (90,38%) de turistas nacionais, 45% vêm do Sudeste e 34% do Nordeste. Já o tempo de permanência média costuma ser de cinco dias. Os dados são do governo do Estado, contabilizados a partir do Controle Migratório do Aeroporto Governador Carlos Wilson Campos, em Fernando de Noronha.
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Vamos tentar sobreviver e aguardar
Dora Martins, presidente do Conselho de Turismo de Fernando de Noronha
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