Prestes a completar dois meses de isolamento social em razão da covid-19, as indústrias de Pernambuco vêm acumulando perdas no faturamento, deterioração dos postos de trabalho e redução do seu fluxo de caixa, segundo o levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe). A pesquisa aponta que 85,54% das indústrias locais registraram queda em seu faturamento, enquanto que quase 50% pretendem demitir em breve. A instituição alerta que o cenário pode ficar ainda mais drástico nas próximas semanas com o reflexo do isolamento mais rígido, quando as empresas estarão com a produtividade em baixa e sem condições de escoar a sua produção.
Para o gerente de relações industriais da Fiepe, Maurício Laranjeira, desde que a crise se agravou, as empresas já utilizaram todas as medidas alternativas para sobreviver, como férias coletivas, redução de carga horária e suspensão de salário. "Já que as soluções estão esgotadas, infelizmente, a alternativa será pela demissão para garantir o mínimo de sustentabilidade possível para os seus negócios”, lamentou Laranjeira que estima em 300 mil trabalhadores empregados nas industrias do estado.
"Temos feito conversas com o governo do estado, mas falta uma previsibilidade, algo mais concreto para que possamos fazer um planejamento deste retorno, que deve ser algo muito bem feito e envolver todos. O governo se propôs a conversar conosco, mas sentimos falta de uma maior celeridade", diz Maurício Laranjeira.
Lamentando o momento em que a indústria está vivendo, o presidente do Sistema Fiepe, Ricardo Essinger, teme que o cenário fique ainda pior nos próximos dias com o isolamento mais rígido que começará a vigorar a partir deste sábado (16). “Embora importante para não alastrar a doença, o isolamento mais rígido anunciado esta semana impõe um modelo de logística que não estamos preparados para absorver neste momento de crise”. A ponderação de Essinger está associada ao rodízio de veículos das frotas das indústrias, que, embora livre o transporte de bens essenciais, penaliza, segundo ele, atividades que dependam da importação de matérias-primas, por exemplo, impactando a recuperação do setor industrial.
PESQUISA
Das 253 empresas pesquisadas pela Fiepe, 61,96% optaram por antecipar as férias dos seus colaboradores. O setor da construção civil é o que mais tem recorrido à alternativa (28,4%), seguido das indústrias de bebidas (17,4%). Das que não precisaram tomar esta decisão, estão as indústrias de alimentos e as do setor químico. No ranking, elas aparecem no primeiro e no segundo lugar, com 18,8% e 10%. “O que vemos, da última pesquisa para esta, é que o faturamento das empresas continuam caindo e isso se deve ao fato de que muitas optaram por segurar os seus colaboradores na expectativa de que o cenário melhorasse no médio prazo, coisa que não aconteceu”, disse Laranjeira
Ainda segundo a pesquisa, dos 85,54% dos entrevistados que informaram ter queda no faturamento, 54,05% indicaram que a retração foi acima de 50%. Nesta situação, está a construção civil, que liderou o ranking, com 25,2%, seguido da indústria de bebidas e da indústria têxtil, que marcaram 15% e 11%, respectivamente. Para a Fiepe, os percentuais das que pretendem demitir e das que desejam manter o seu quadro de funcionário estão cada vez mais próximos, registrando 47,23% e 52,7%, respectivamente.
Dos segmentos que ainda pretendem realizar demissões, construção civil segue mais uma vez na ponta, com 25,2%. Já as indústrias de bebidas e têxtil aparecem com 17,1% e 9,9%, nesta ordem. 39,6% das empresas que pretendem demitir são de médio porte, frente as de pequeno porte, com 32,4%. As empresas de micro e grande porte também apresentam percentuais significativos das que pretendem realizar desligamentos, com 17,1% e 10,8% (nesta ordem).
Outro ponto abordado no estudo teve a ver com a Medida Provisória 936/20 – que flexibiliza os contratos de trabalho em tempos de pandemia. De acordo com o levantamento, 56,60% das empresas não fizeram negociação de redução de jornada e pouco mais de 60% das indústrias também responderam que não sentiram a necessidade de suspender os contratos de trabalho dos seus funcionários. Com essa decisão, a tentativa de equilibrar a folha de pagamento e as receitas ficou cada vez mais difícil, explicando assim o comprometimento e as reduções desenfreadas nos seus faturamentos, afirmou a Fiepe.
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