ENERGIA

Empresas continuam investindo, na pandemia, para ter matriz energética limpa

Com a energia representando em geral o segundo maior custo fixo das companhias, consumidores comerciais apostam na geração distribuída

Lucas Moraes
Cadastrado por
Lucas Moraes
Publicado em 02/08/2020 às 7:00 | Atualizado em 03/08/2020 às 12:14
Divulgação
Usina solar fotovoltaica da Vivo já em operação em São Paulo - FOTO: Divulgação

A busca pela sustentabilidade e, sobretudo, pela redução dos custos operacionais são fatores que contribuíram para que empresas de todos os portes continuassem investindo na transição de suas fontes energéticas mesmo num cenário de pandemia. Com a energia representando em geral o segundo maior custo fixo das companhias, consumidores comerciais passam a ver na geração distribuída, através da qual o próprio consumidor gera sua energia, uma aliada para reduzir em até 30% essa despesa.

Até o último dia 30 de julho, segundo os dados de geração distribuída da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o País contabilizava 3,3 GW de potência instalada em geração distribuída de energia elétrica. Desse total, 1,3 GW estava concentrado em consumidores comerciais. O consumo desses clientes, por razões óbvias, é maior do que, por exemplo, o dos consumidores residenciais. Em número de conexões, a classe comercial detém ainda pouco mais de 48 mil do total de 267,8 mil conexões instaladas, ficando atrás da classe residencial, mas mantendo constante seu crescimento.

“A gente pode dizer o seguinte: É um setor que está em crescimento exponencial. A gente poderia ter crescido mais se não fosse esse período atual (pandemia), mas sem dúvida alguma a gente teve uma procura grande por parte de comércio”, afirma a vice-presidente de geração distribuída da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e CEO da consultoria Bright Strategies, Bárbara Rubim.

O destaque para os consumidores comerciais neste período de pandemia está calcado sobretudo na questão econômica. As empresas levam em consideração o fato de precisarem ser mais sustentáveis, Mas, se ao fazerem isso também for possível desafogar o caixa no médio e longo prazos, a renovação energética é ainda mais contundente.

Geração Distribuída no Brasil


O consumidor brasileiro pode gerar sua própria energia elétrica a partir de fontes renováveis ou cogeração qualificada e inclusive fornecer o excedente para a rede de distribuição de sua localidade desde 2012.

À mini e microgeração de energia é permitida o uso de qualquer fonte renovável, além da cogeração qualificada, denominando-se microgeração distribuída a central geradora com potência instalada até 75 quilowatts (KW) e minigeração distribuída aquela com potência acima de 75 kW e menor ou igual a 5 MW, conectadas na rede de distribuição a partir das unidades consumidoras

Modelos de contratação

Autoconsumo e autoconsumo remoto :

o consumidor gera a energia para a sua unidade consumidora e pode também abater o consumo de outras unidades consumidoras em seu nome, quando na mesma área de concessão da distribuidora. Quando a quantidade de energia gerada em determinado mês for superior à energia consumida, o consumidor fica com créditos que podem ser utilizados para diminuir a fatura dos meses seguintes

Geração distribuída em condomínios:

A energia gerada pode ser repartida entre os condôminos de empreendimentos com múltiplas unidades consumidoras em porcentagens definidas pelos próprios consumidores

Geração compartilhada:

Diversos interessados podem se unir em um consórcio ou em uma cooperativa, instalarem uma micro ou minigeração distribuída e utilizarem a energia gerada para redução das faturas dos consorciados ou cooperados

Fonte: Aneel

“O viés econômico tem sido o maior motivador. Quando a gente olha então para a geração distribuída, o consumidor vai fazer o investimento, mas isso se paga em mais ou menos cinco anos, tratando-se de um sistema que tem vida útil de 25 anos. O equipamento tem barateado também, há queda de preços, sobretudo no módulo fotovoltaico, entre 5% e 8% ao ano. Essa necessidade do consumidor buscar economia, a queda do preço dos equipamentos e o contraponto ao aumento das tarifas de energia acabam ampliando as possibilidades e tornando mais atrativa a geração própria de energia”, exemplifica Bárbara.

No caso do Nordeste, a evolução da geração distribuída em relação aos consumidores comerciais é percebida a partir do número de conexões. No ano de 2018, eram 1.143. Em 2019, a quantidade cresceu para 4.068. Ao passo que este ano já são 3.411 conexões. Em Pernambuco, de 161 conexões em 2018, houve um salto para 519 no ano passado. Este ano, até o mês de julho, o número de conexões já se aproxima dos 300, levando em conta todas as fontes.

Usina de Biogás em Caruaru

A energia solar fotovoltaica é a principal fonte utilizada quando se fala em geração distribuída, mas não a única. De acordo com a Associação Brasileira de Geração Distribuída (AGBD), tratando-se das fontes, cerca de 3% é de geração hidráulica; 2% de termelétrica; 1% de eólica; e 94% de solar, em todo o País.

Um dos próximos investimentos que devem aportar em Pernambuco, precisamente no Agreste, em Caruaru, é uma usina de biogás avaliada em R$ 15 milhões, e que atenderá 1.100 pontos de consumo que a empresa de telecomunicação Vivo mantém no Estado, como parte da estratégia nacional de geração distribuída da empresa. “Na Região Nordeste, serão instaladas 15 usinas. Especificamente no estado de Pernambuco, a fonte para geração de energia será o biogás (produzido por bactérias na decomposição da matéria orgânica presente nos resíduos) proveniente do aterro sanitário do município de Caruaru. A previsão é que o complexo entre em operação em março de 2021”, explica a Gerente de Energia e Eficiência da Vivo, Jussara Tassini.

O modelo de geração distribuída foi implementado na Vivo em 2018 a partir do Estado de Minas Gerais, para abastecimento das mais de 3 mil estações rádio base (ERBs) da empresa. Este mês, a companhia anunciou a expansão para todas as regiões do Brasil. Ao todo, cerca de 70 usinas atenderão mais de 80% do consumo em baixa tensão da empresa, gerando aproximadamente 670 mil MWh/ano de energia - o suficiente para abastecer todo o consumo de uma cidade de até 300 mil habitantes.

O plano de geração distribuída da Vivo utilizará fontes renováveis de origem solar (61%), hídrica (30%) e de biogás (9%), atendendo 22 Estados mais o Distrito Federal. Em Pernambuco, o investimento é da parceira Gera Energia Brasil, que tem como contrapartida contratos de longo prazo, de até 20 anos.

Em 2019, a energia proveniente de fontes renováveis permitiu à Vivo reduzir 50% de suas emissões diretas e indiretas de CO2 e viabilizou à empresa neutralizar suas emissões dos gases causadores do efeito estufa. A transição energética também contempla metas para aumento da eficiência e redução no consumo, que possibilitaram à empresa uma economia de cerca de 7% no uso de energia no ano passado.

Comentários

Últimas notícias