Imagine um mundo em que você não precise de uma senha para cada aplicativo, muito menos receber SMS para conseguir se autenticar num sistema que exige muita segurança. É um mundo assim, sem senhas, que promete a In Loco, empresa de tecnologia pernambucana que acaba de vender o seu braço de publicidade, a In Loco Media, para o Magazine Luiza, e com isso se capitalizar para investir pesado na área de segurança digital, com foco em setores sensíveis como o mercado financeiro e e-commerce.
O CEO da In Loco, André Ferraz, conversou na semana passada com a coluna, detalhando seus planos após a conclusão do negócio, em agosto (os valores da transação não foram revelados). "A gente já estava investindo nesse produto da identidade digital, para criar uma solução de autenticação de usuários usando internet das coisas", eplica.
E a solução que a In Loco está desenvolvendo — que nasce já multinacional, com clientes no Brasil e nos Estados Unidos — usa como base uma tecnologia em que a empresa tem grande experiência: a geolocalização. A identidade digital consegue autenticar um determinado usuário não pela senha ou pelo código que ele insere no aplicativo, mas pelo padrão de deslocamento que aquele usuário tem. "Os lugares em que você esteve ou a hora em que você esteve obedecem a um padrão único, praticamente impossível de ser copiado", detalha André Ferraz. No futuro, essa tecnologia pode substituir até o reconhecimento facial ou digital.
APPS FINANCEIROS
"É um produto pensado para o segmento financeiro, como apps de banco, de meios de pagamento ou de e-commerce, que têm grande volume de transações financeiras e que precisam de um nivel alto de segurança", continua Ferraz. O sistema da In Loco faz essa identificação de forma segura sem que o usuário precise decorar senhas ou receber códigos. "Temos caso de um cliente onde conseguimos reduzir em 60% o índice de fraudes usando o nosso sistema, que é único no mundo", diz André Ferraz, sem detalhar quem são seus clientes por razões de segurança.
"A identidade digital é uma nova forma de olhar para a segurança digital, que sempre seguiu um modelo de criar barreiras. Começou com login e senha, depois precisou adicionar várias etapas no meio do caminho, como captchas (aquele tipo de sistema que pede que você marque faixas de pedestres, montanhas ou semáforos para lhe autenticar), ou autenticação de dois passos (geralmente feita com o envio de SMS)", explica Ferraz. Tudo isso aumenta a segurança, mas também exige muito mais do usuário, por causa da quantidade de passos que a pessoa tem que dar para entrar no sistema.
Com a identidade digital conseguimos eliminar esses passos para tornar a experiência do usuário melhor e mais segura", garante. Ele lembra que, nesse processo cheio de barreiras, o elo mais fraco da cadeia é o usuário final, que conhece pouco de segurança. "Isso não vai mudar, a gente nunca terá uma geração de pessoas com conhecimento profundo em segurança da informação. E não adianta ficar culpando o usuário pelos problemas", diz.
"A gente resolveu transformar o elo fraco no elo forte", resume. Usamos o que é unico a cada pessoa, o seu comportamento, mais especificamente o comportamento de sua localização. Não existe uma única pessoa que vá para os mesmos lugares que você, nos mesmos momentos. Isso é uma forma de identidade. A maneira que você se move e os locais que você frequenta são únicos. Para roubar isso, a pessoa teria que se passar por você num nível de frequentar os mesmos lugares, nos mesmos horários, incluindo lugares privados, como sua casa, por exemplo", resume. Isso torna muito mais difícil um fraudador se passar por outra pessoa, roubar a conta dela e cometer crimes cibernéticos. No futuro, é possível que essa tecnologia até reduza o número de roubos de celular. "Nós conseguimos identificar a mudança no comportamento de um smartphone. em breve, roubar um celular se tornará um péssimo negócio", prevê.
A tecnologia identifica a mudança no comportamento do smartphone. Em breve, roubar um celular se tornará um péssimo negócio"André Ferraz, CEO da In Loco
"A ferramenta é simples de usar. O usuário final não precisa fazer nada, só autorizar a coleta da localização e ser ele mesmo. Enquanto ele se comportar como ele mesmo a gente vai conseguir autenticá-lo com segurança, sem importuná-lo."
PRIVACIDADE
E como fica a questão da privacidade? Segundo Ferraz, ela é totalmente garantida. "A gente consegue fazer isso tudo sem saber quem é a pessoa que está do outro lado. Estamos falando de comunicação entre dispositivos, seu dispositivo pessoal se comunicando com aplicativos e com os dispositivos ao seu redor. A gente cria essa identidade digital usando localização mas não precisa saber qual o bar ou restaurante que você foi, ou onde é a sua casa. O importante é que seu comportamento é unico e nenhuma outra pessoa que consegue replicá-lo", frisa.
Os dados são criptografados e anonimizados. São aplicadas técnicas sobre eles de forma que nem o sistema consegue saber as localizações que uma pessoa acessou. O importante é o padrão que o usuário gera, condizente com o comportamento daquele smartphone.
Um exemplo prático seria o caso da abertura de conta em um banco. Quando o usuário colocar o endereço, o banco envia para o sistema esse dado criptografado. Se houver um match, uma coincidência entre as informações, o sistema consegue confirmar que o usuário mora no endereço. Tudo isso sem saber qual é exatamente o endereço. Esse tipo de transação sem precisar de envio de comprovante de residência já é realidade hoje, com tecnologia In Loco.
PUBLICIDADE
André Ferraz também falou da venda do seu braço de mídia, primeiro modelo de negócio da startup, para o Magazine Luiza. "O negócio da publicidade estava enfrentando uma concorrência pesada. Tanto o Google quanto o Facebook lançaram suas ofertas de mídia geolocalizada. E com a escala que eles têm e o capital para investir, isso dificultou a nossa continuidade no crescimento do negócio", detalha.
A In Loco Media oferecia publicidade geolocalizada em aplicativos parceiros, um modelo muito focado no varejo físico. "A pandemia teve um impacto importante. De repente, os clientes tiveram que fechar e pararam de anunciar na plataforma", conta. Para o Magazine Luiza, que já opera no e-commerce, o negócio chega num ótimo momento para oferecer publicidade assertiva.
"Eles têm capital para investir de maneira agressiva no produto, e ainda contam com os dados do e-commerce", acrescenta. A combinação de informação sobre interesse de compra com dados geolocalidados é uma mistura poderosa para a publicidade online. Sem falar na grande rede de varejistas que já operada no Magazine Luiza. "O produto vai crescer mais rápido e vai crescer saudável", aposta Ferraz, comparando o posicionamento do Magalu no mercado brasileiro com a poderosa Amazon no Mercado Internacional.
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A tecnologia identifica a mudança no comportamento do smartphone. Em breve, roubar um celular se tornará um péssimo negócio"
André Ferraz, CEO da In Loco
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