Depois de crescer no começo do ano, o mercado de computadores sentiu os impactos negativos da crise causada pela pandemia do novo coronavírus no segundo trimestre. Entre abril e junho as vendas de desktops e notebooks caíram 12,6% em relação ao mesmo período de 2019. Os dados são do estudo IDC Brazil PCs Tracker divulgados pela consultoria IDC, especialista em inteligência de mercado e de conferências para indústrias de Tecnologia de Informação e Comunicações.
Apesar da queda nas vendas, o aumento nos preços elevou a receita no segundo trimestre para R$ 5,3 bilhões, alta de em 18% em relação ao resultado de R$ 4,5 bilhões alcançado em 2019.
Nos primeiros três meses do ano, as vendas do setor haviam crescido 16% na comparação com o início de 2019, incluindo um incremento de mais de 18% na demanda por notebooks, impulsionada pelo trabalho e pelas aulas em casa por causa do isolamento social da população. No segundo trimestre, porém, houve uma redução de 205 mil máquinas vendidas em relação ao período de janeiro a março deste ano e de 183 mil ante o mesmo trimestre do ano passado.
O maior impacto foi sentido entre as empresas, que reduziram o ritmo de compras diante do cenário incerto, exceto no setor educacional cujas vendas aumentaram 11,2% em relação ao segundo trimestre de 2019. “Mais do que uma terrível crise sanitária, as empresas estão enfrentando uma crise de fluxo de caixa e precisam congelar investimentos”, explica Rodrigo Okayama Pereira, analista de mercado da IDC Brasil.
A previsão da IDC para as vendas do setor no terceiro trimestre é de crescimento tímido de 1,2% na comparação com igual período do ano passado. Para o quarto trimestre a expectativa é de alta de 3,5%. Neste caso, a IDC aposta na recuperação econômica de pequenas e médias empresas e na demanda contínua por notebooks. Para o ano de 2020, a estimativa da IDC Brasil é de crescimento de 4,4% nas vendas do varejo e de queda de 9,9% no corporativo.
“Aos poucos as empresas estão voltando a fazer negócios, principalmente as pequenas e médias, que sofreram muito com a pandemia mas têm condições de reagir mais rapidamente. Ao mesmo tempo, observamos índices ascendentes de confiança”, diz o analista da IDC.
A alta do dólar, a redução de fluxo de caixa e o aumento das alíquotas de IPI e ICMS entre março e abril colaboraram para a retração nas vendas no mercado corporativo, segundo a IDC. No total, o setor comprou 359,5 mil máquinas no segundo trimestre, sendo 221,6 mil notebooks e 137,8 mil desktops.
O varejo teve um desempenho mais favorável no período tanto nas vendas online como em lojas físicas considerando que hipermercados, que comercializam eletroeletrônicos, permaneceram abertos durante a pandemia. O destaque novamente ficou por conta dos notebooks com 795,3 mil unidades vendidas, mais de 87% do total de 906,4 mil computadores comercializados no varejo entre abril e junho. “Os notebooks vão fazer os números do ano, tanto no varejo como no mercado corporativo”, crava Okayama.
Com a alta do dólar e o aumento na demanda, os preços de desktops e notebooks subiram mais de 60% na comparação com o segundo trimestre do ano passado. O preço médio de um notebook subiu 62,6%, de R$ 2.670 para R$ 4.342, e o valor de um desktop aumentou ainda mais (67,8%) de R$ 2.150 para R$ 3.607 na comparação anual. Os preços também subiram em relação ao primeiro trimestre deste ano em 38,2% para notebooks e em 46,7% para desktops. “O segundo trimestre foi marcado pelo repasse de preços para o consumidor”, afirma Rodrigo Okayama.
De acordo com o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com o dólar acima dos R$ 5, os custos de importação de peças das fabricantes subiu, o que acabou sendo repassado ao consumidor. “Os eletrônicos são muito dependentes de insumos importados. Entre junho e a média de dezembro do ano passado, a taxa de câmbio subiu 26,5%, então houve uma pressão de custos muito acentuada”, diz o economista. Segundo ele, itens como computadores e celulares chegam a ter 70% de seus componentes importados do exterior.
O patamar alcançado pelos preços tende agora a se estabilizar, já que a perspectiva é que o dólar se mantenha na casa dos R$ 5, diz Braz. “Não acredito que haja muito fôlego para novos aumentos, até porque esbarra na questão da demanda, que já está enfraquecida.”