A Associação Brasileira de Supermercados vai realizar uma reunião virtual nesta terça-feira (14) para discutir sobre o aumento do preço dos produtos da cesta básica, com a participação de representantes de todas as 27 associações estaduais. Já governo federal, através da Câmara de Comércio Exterior (Camex), liberou a importação de 400 mil toneladas de arroz com imposto zerado, na tentativa de amenizar a alta dos preços. Enquanto isso, os consumidores têm que se apertar para fechar a conta do supermercado, em especial os que recebem o auxílio emergencial, que será reduzido pela metade a partir deste mês de setembro.
Na Região Metropolitana do Recife (RMR), no mês de agosto, a alta do preço dos alimentos foi de 0,45% em relação ao mês anterior. O acumulado do ano chega a 5,99%, puxado pela alta do arroz, leite e óleo de soja. A alta desses itens básicos de alimentação afeta principalmente o orçamento da população mais pobre.
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De acordo com pesquisa realizada pelo Procon-PE, houve um aumento de 1,16% da cesta básica de agosto para setembro, passando de R$ 444,06 para R$ 449,22, o que configura um impacto de 42,99% no salário mínimo. A pesquisa considera uma quantidade de produtos destinada para uma família composta por quatro pessoas, sendo dois adultos e duas crianças.
Segundo o Dieese, a cesta básica de Pernambuco é composta de 4,5kg de carne, 6l de leite, 4,5kg de feijão, 3,6kg de arroz, 3kg de farinha, 12kg de tomate, 6kg de pão francês, 300g de café, 90 unidades de banana, 3kg de açúcar e 750g de óleo e 750g de manteiga.
Em um supermercado da Rede Tem, na PE-05, em Camaragibe, o custo ultrapassa um pouco o novo valor do auxílio emergencial, que será de R$ 300 e - R$ 600 para mães chefes de família - e será pago a partir da próxima quinta-feira (17). Considerando os as marcas mais baratas desses 13 itens, a cesta básica custa cerca de R$ 325.
Segundo a fiscal de caixa da Rede Tem Elines Ferreira, na semana passada, quando o supermercado ainda não havia repassado a última alta do preço do arroz, muitas pessoas estavam fizeram compras do produto em grande quantidade. “Eu vi as pessoas comprando de caixa e estocando, porque sabiam que em outros lugares estava mais caro”, disse.
A professora do curso de Ciências do Consumo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Laurileide Barbosa é crítica quanto a essa estratégia. “É preciso pensar que quanto mais você vai consumir, maior vai ser a demanda para a produção, que ainda está nesse ritmo de adaptação. Foi uma boa estratégia, mas neste momento não é bom, porque vai gerar uma demanda. Acho que agora é manter a calma e a tranquilidade, fazer a substituição se possível e esperar a melhora dos preços”, explica.
O eletricista Faviano Firmino Lopes, de 66 anos, conta que até então não abdicou de nenhum item da feira. Resolveu manter o mesmo padrão, mesmo precisando comprometer mais o orçamento familiar.
“Com R$ 600 você entra e não sai com nada, só duas sacolas. O problema é esse, quanto mais R$ 300. Estou comprando a mesma coisa e meu salário indo embora. Na época eu fazia uma compra com R$ 400. Hoje em dia eu estou fazendo com R$ 800. Sou só eu e minha esposa. Principalmente a carne, está uma coisa séria. Um quilo de carne de boi é R$ 24”, conta.
“Aumentou tudo, o arroz, o óleo, a carne também, depois que eles deram esse auxílio aumentou tudo. Você fazia uma compra com R$ 300 e hoje em dia você mesmo recebendo os R$ 600 não dá para fazer”, conta a autônoma Érica Ribeiro. Ela mora com outras quatro pessoas, sendo três adultos e uma criança. “Só com o grosso eu acho que gasto uns R$ 450, fora a carne que eu compro toda semana”, diz Érica.
No mercadinho Bem Bom, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife, a operadora de caixa Estela Maria da Silva consegue identificar no dia a dia o aumento dos preços e a consequente mudança de comportamento dos consumidores. “Eu percebi que o pessoal vem pesquisando, querendo comprar em maior quantidade, para ver se tem um valor menor e também procurando marcas menos conhecidas e mais acessíveis”, conta.
Com a redução de renda é preciso gerar renda ou reduzir o custo, explica Laurileide Barbosa. “A alimentação não é supérfluo, é um produto de necessidade básica. O consumidor pode não substituir, mas deixa de comprar outro alimento. Ele vai fazer um balanceamento do recurso que ela vai direcionar: ao invés da carne ser um bife, vai ser um ovo, frango, algo mais barato. Eu acho que é importante fazer compras coletivas, juntar vizinhos e familiares para comprar em grande, comprar por atacado e fazer o possível para que não haja desperdício de alimentos”, explica Laurileide.
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