Os alimentos já são os principais responsáveis por pressionar a alta da inflação no Recife em 2020. No acumulado do ano, o grupo dispara com uma alta de 5,99%, refletindo por aqui o mesmo movimento das demais capitais do Nordeste e do restante do País. Na visão de especialistas, os números denotam o desequilíbrio entre oferta e demanda. O mercado interno ativando o consumo via auxílio emergencial, ao mesmo tempo em que a demanda externa segue a alta do dólar. Nessa conjuntura, consumidores têm ficado aflitos a cada ida ao supermercado. No mês de agosto, a inflação geral na capital pernambucana (0,46%) foi quase o dobro da média nacional (0,24%) e o quinto maior índice entre as 16 localidades pesquisadas pelo IBGE. Os alimentos não foram os principais responsáveis pela alta no mês, mas ainda assim subiram (0,45%). Segundo o Procon-PE, itens da cesta básica no Grande Recife podem variar até 420%.
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A inflação do mês de agosto ajudou a manter o Recife com a segunda maior alta no acumulado do ano em todo o País (1,98%). Seguindo uma tendência contrária ao índice nacional, enquanto o Brasil marcou 0,24% em agosto, desacelerando frente o mês de julho (0,36%), a capital pernambucana continuou na rota de elevação acima do patamar de 0,40% do mês retrasado.
“A gente vinha acompanhando o crescimento grande de alimentos, mas para este mês o principal impacto veio do combustível (3,18%). só a gasolina teve alta de 3,22%. Outro impacto muito forte foi o acesso à internet (12,18%) e energia (1,73%)”, aponta a gerente de planejamento e gestão do IBGE em Pernambuco, Fernanda Estelita.
Embora no último mês, o preço dos alimentos tenham se acomodado no comparativo com o mês de julho, no ano, o peso no bolso do consumidor das compras no supermercado são os mais significativos no acumulado de 2020. Entre janeiro e agosto, o custo da alimentação no domicílio subiu 6,93%, ao passo que alimentos e bebidas passaram a ter a maior alta dentre os grupos pesquisados no período, chegando a uma variação de 5,99%.
“O que a gente viu em alimentos é uma mudança de hábito de consumo. Vínhamos com uma situação de comer muito fora de casa, self-service, etc. De uma hora para outra, a questão do isolamento fez as pessoas ficarem em casa, sendo os alimentos básicos mais consumidos. Há uma situação de oferta e demanda, e com a oferta menor os preços tendem a subir”, reforça Fernanda Estelita.
A carestia no Recife
A inflação medida pelo IPCA apontou alta de 0,46% na Região Metropolitana do Recife no mês de agosto. No ano, o índice já acumula variação de 1,98%. Em 12 meses, 2,94%
Entre os nove grupos de produtos e serviços acompanhados pelo índice, Comunicação foi o que teve a maior alta, de 1,93%. O segundo setor que mais ajudou a pressionar a inflação em agosto foi Habitação (1,02%), seguido por Transportes (0,88%)
Alimentos
O grupo Alimentos e Bebidas teve alta de 0,45% em agosto. No ano, no entanto, a categoria lidera a elevação de preços (5,99%)
Alimento * Variação agosto(%) * Variação acumulado do ano (%)
Arroz * 3,43 * 15,80
Feijão Carioca * -6,08 * 28,90
Flocos de milho * 2,89 * 2,43
Batata Inglesa * -4,04 * 12,34
Tomate * 6,75 * 32,42
Cebola * -23,64 * 63,14
Açúcar * -2,77 * 8,85
Frutas * -1,44 * 9,46
Carnes * 3,04 * 3,93
Ovo de galinha * -0,54 * 9,30
Leite Longa Vida * 2,13 * 19,59
Óleo de soja * 5,77 * 17,45
Como agravamento, a alta do preço dos alimentos tem se dado sobretudo em itens básicos, que compõem a cesta básica. Entre os destaques do Recife, só no mês de agosto o arroz está 3,43% mais caro. O flocão de milho, 2,89%. As carnes subiram 3%, assim como o óleo de soja (5,7%) e o leite longa vida (2,13%). Quando postos sob a ótica da variação ao ano, os resultados são ainda maiores. O arroz já embala numa alta de 15,8% no Recife. O feijão mulatinho também subiu muito (31%). A cebola já está na casa dos 63%, ao passo que o açúcar alcança os 8,8% e o leite longa vida, 19%. O óleo de soja subiu no ano 17,4%; e o ovo de galinha, 9,3%.
“Podemos afirmar que a maioria das atividades agropecuárias recuperou os preços dos seus produtos. No entanto, esses aumentos têm sido acompanhados pela alta no custo de produção, o que demonstra que o produtor não está tirando vantagem sobre os outros elos da cadeia. Muitos produtores têm trabalhado com margens negativas, mas não pararam de trabalhar, mesmo na pandemia”, diz o superintendente técnico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Bruno Lucchi.
Segundo ele, a relação entre oferta e demanda impactou, assim como o mercado externo e uma sazonalidade negativa em se tratando de algumas culturas produtivas.
“No caso do arroz, por exemplo, a demanda se apresentou elevada durante os meses de março e abril em função da pandemia. Historicamente, esses deveriam ser os piores meses de preço em função da safra. No entanto, houve quebra na produção de importantes países produtores, como Índia e Tailândia, o que resultou na ampliação acentuada do preço no mercado internacional. Estamos pagando a conta da covid agora. Não apenas o produtor, mas todos os elos da cadeia produtiva”, complementa.
De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), no mês de Junho, as vendas do setor supermercadista em valores reais, deflacionadas pelo IPCA, apresentaram queda de -4,82% na comparação com o mês imediatamente anterior e alta de 2,78% em relação ao mesmo mês de 2019. No acumulado do ano, as vendas apresentaram crescimento de 4,47%, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Pelos números levantados pela startup de gestão de finanças pessoais Mobilis, com mais de 20 mil usuários, entre os meses de janeiro e julho de 2020, os gastos com supermercado cresceram 42,61%. O ticket médio saltou de R$ 450 para R$ 608.
Governo Federal
Com uma alta em diversos itens básicos à população, o presidente Jair Bolsonaro chegou a pedir aos supermercadistas lucro "próximo de zero". Passando a ser questionado cotidianamente sobre o assunto, o governo chegou, através da Secretária Nacional do Consumidor (Senacon) a notificar nesta quarta-feira (9) empresas e associações cooperativas ligadas à produção, distribuição e venda de alimentos da cesta básica para questionar a alta nos preços dos produtos.
No prazo de cinco dias, os estabelecimentos deverão informar quais os produtos da cesta básica possuem maior variação de preço no último mês, quais são os três principais fornecedores do produto, qual o preço médio praticado pelos fornecedores nos últimos seis meses, entre outras questões. O objetivo, segundo a Senacon, é coibir aumentos considerados abusivos.
Na última sexta-feira,(04/09) a Senacon promoveu uma articulação interministerialmente para conversar com os membros de outros ministérios que cuidam desse tema "para compreender o que houve para gerar esse salto no preço dos produtos".
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Na ocasião, tanto o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) quanto o Ministério da Economia se comprometeram a enviar os dados e informações necessários, principalmente relacionado a parte comércio exterior.
Preocupado com o efeito do aumento de preços dos alimentos na popularidade do presidente, o governo federal decidiu zerar as tarifas de importação de alguns itens da cesta básica para facilitar a entrada dos produtos estrangeiros. Bolsonaro já disse que o governo prepara medidas para encarar a inflação dos alimentos e "dar uma resposta a esses preços que dispararam nos supermercados".
Nesta quarta-feira (9), a Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu zerar a alíquota de importação para o arroz em casca e beneficiado até o dia 31 de dezembro. A redução está restrita à cota de 400 mil toneladas.
De janeiro a julho, a soja foi o produto número um em exportações, com vendas que somam US$ 23,795 bilhões (19,7% do total exportado). As importações do produto, no entanto, somaram apenas US$ 119,17 milhões (0,1% do total importado).
O Brasil importou US$ 78,13 milhões em milho (0,09% das importações totais) e exportou US$ 1,251 bilhão (1,04% das exportações). Em relação ao arroz, as importações somaram US$ 8,65 milhões (0,01% do total), enquanto as exportações não passaram de US$ 108,83 milhões (0,09%). A ideia do governo é estimular a importação dos produtos para abastecer o mercado interno. A medida não é vista com bons olhos por produtores locais, que avaliam um efeito prejudicial no mercado a longo prazo.
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