RESTRIÇÕES

Bares e restaurantes reclamam viver ''lockdown'' em Pernambuco e dizem que dinâmica de decisões do governo se tornou ''uma prática''

O Governo de Pernambuco anunciou, nesta quinta-feira (20), a manutenção das medidas restritivas até o próximo dia 6 de junho

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Rute Arruda, Luisa Farias

Publicado em 20/05/2021 às 21:06 | Atualizado em 21/05/2021 às 14:42
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A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes seccional Pernambuco (Abrasel -PE) criticou a decisão do governo estadual de prorrogar as medidas restritivas já em vigor até o próximo dia 6 de junho. De acordo com o presidente da Abrasel-PE, André Araújo, o horário de funcionamento não atende à demanda de clientes e pode ser comparado a um lockdown para o setor. "Dinâmica de decisões que já se tornou uma prática'', alerta ele. 

"É uma situação muito difícil de manter uma empresa funcionando por duas ou três horas por dia. Isso não dá resultado nenhum. Isso é como se fosse um lockdown. Tem praticamente o mesmo efeito danoso para a saúde financeira das empresas", avaliou.

Araújo afirmou que a prorrogação já era esperada pelo setor. "Existe um modus operandi do governo que acompanha a lógica desse percentual (da covid-19). E, pelo que nós já acompanhamos nesses últimos meses, nós comparamos e já esperávamos que essa medida fosse tomada em função dessa dinâmica de decisões que já se tornou uma prática", disse. 

Na visão do presidente da Abrasel-PE, as flexibilizações só devem ocorrer quando o percentual de ocupação leitos de enfermaria e unidades de terapia intensiva (UTIs) reduzir. "Esses índices de ocupação de leitos estão nesse patamar há quase dois meses. Enquanto não se abrir mais leitos vai continuar alto. Então, a nossa expectativa é que o governo abra essa frente de leitos para que esse número baixe e volte às flexibilizações que nós precisamos para sobreviver", pontuou. 

Queda

De acordo com um levantamento da Alelo, o consumo em restaurantes, bares, lanchonetes e padarias da região Nordeste registrou queda de 36,3% em março, enquanto a média nacional foi de -34,2%.

Os Índices de Consumo em Restaurantes (ICR) mostram ainda retração de 46,9% na quantidade de vendas, impacto ainda maior que o observado em fevereiro (-36,4%). Somado a isso, o número de estabelecimentos comerciais que efetivaram transações também foi inferior ao observado no mesmo mês de 2019 (-18%). Adotando como parâmetro o valor gasto em restaurantes, é possível evidenciar que as outras regiões mais impactadas em março foram: Centro-Oeste (-35,2%) e Sul (-34,3%).

Comércio

Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Recife, Fred Leal, embora haja uma preocupação em relação às restrições, o comércio permanece em atividade.

"A gente olha o lado econômico que está muito ruim, mas o comércio está funcionando na medida do possível. Eu acho que o governo deveria reavaliar a parte de alimentação dos shoppings que está prejudicando muito os shoppings centers, mas a parte do comércio de rua está abrindo praticamente normalmente. Então, eu estou mais preocupado com os shoppings, que estão fechando as praças de alimentação às 18h, 20h. Quando eu acho que não teria nenhum problema em flexibilizar esses horários para mais tarde, fechando as 22h. Porque é muito ruim. Quem vai fechar às 20h? Então isso prejudica os setores de bares e restaurantes", comentou. 

"O comércio se beneficia muito da movimentação dos bares e restaurantes. Fora isso, eu já esperava. O patamar está muito alto ainda. E o que a gente apela é que novas medidas sejam tomadas para sobrevivência das empresas", completou. 

A decisão do Governo de Pernambuco também era esperada pela Associação Pernambucana de Shoppings Centers (Apesce) "em razão dos números de pessoas com a doença e internadas nos hospitais".

No entanto, segundo o presidente da entidade, Paulo Carneiro, a avaliação do Governo de Pernambuco diverge da opinião da Apesce quanto ao horário de funcionamento dos centros de compra. "Entendemos que a ampliação do horário de funcionamento das atividades econômicas, como os shoppings, principalmente durante o final de semana, ajuda a diluir a presença de público", destacou.

"Mas seguimos cumprindo as medidas, oferecendo todos os cuidados para proteger as pessoas. O momento é de muita dificuldade para o comércio, mas esperamos uma melhora no quadro da saúde para trabalhar firme na recuperação do setor", finalizou Carneiro.

Restrições mantidas

As restrições, anunciadas nesta quinta-feira (20) em coletiva de imprensa do Governo de Pernambuco, foram mantidas devido a situação crítica da pandemia no Estado. O secretário André Longo apresentou os dados da semana epidemiológica nº 19 (de 9 a 15 de maio) em Pernambuco, que registrou uma situação de estabilidade alta, chamada de platô. De acordo com o secretário, houve um aumento de 4% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) em relação à semana 18 (2 a 8 de maio), embora tenha sido registrada uma redução de 1% em relação à semana nº 17 (25 de abril a 1º de maio).

Os dados da Central de Regulação de Leitos mostraram um incremento de 5,8% nas solicitações da semana epidemiológica 19 em relação à semana 18. Desses, 3% é de aumento das UTIs e 9% dos leitos de enfermaria.

"Ainda estamos em uma fase bastante crítica da pandemia aqui no nosso estado. Após análise desses números feito pelo Comitê Multidisciplinar de Enfrentamento à Covid-19 em Pernambuco, nós decidimos por ampliar as medidas restritivas vigentes no decreto atual, que se encerrariam agora no dia 23 de maio, por mais 15 dias, até o dia 6 de junho. Essas medidas são extremamente necessárias para que a gente possa conter o avanço da pandemia aqui no nosso estado.", afirmou Ana Paula Vilaça.

Atualmente, as atividades econômicas fora da região Agreste só podem funcionar até as 18h nos finais de semana. Isto vale para os estabelecimentos que abrirem às 10h. Para os que começarem a funcionar às 9h, o horário limite fica reduzido para as 17h. De segunda a sexta-feira, o horário para todos é de 10h às 20h, com duração máxima de funcionamento de 10 horas.

As celebrações religiosas presenciais podem ser realizadas dos dias de semana entre 5h e 20h. Já nos sábados, domingos, o horário passa a ser de 5h às 18h.

Em qualquer dia, estão proibidas atividades de clubes sociais, esportivos e agremiações, equipamentos culturais, parques de diversão, competições e práticas esportivas coletivas, com exceção para jogos de futebol.

Agreste

Diante da situação mais crítica no Agreste, o Governo de Pernambuco resolveu restringir ainda mais o funcionamento das atividades econômicas e sociais na região, dos dias 18 a 31 de maio. Essas medidas vão ser mantidas no tempo estipulado.

Foi verificado um aumento rápido no número de internações e procura por hospitais na região. "Para se ter uma ideia, enquanto nas outras regiões os casos de Srag tiveram queda ou oscilações abaixo de 5%, no agreste, o aumento foi acima de 10%, quando consideramos todas as solicitações de leitos", disse o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, durante coletiva nesta quinta (20).

As restrições valem para 53 municípios do Agreste que integram as 4ª e 5ª Gerências Regionais de Saúde (Geres), com sede em Caruaru e Garanhuns, respectivamente.

De segunda à sexta, os serviços não-essenciais - atividades econômicas e sociais, incluindo os templos religiosos - estão proibidos de funcionar das 18h às 5h do dia seguinte. Nos sábados e domingos, só poderão funcionar atividades essenciais, como farmácias, supermercados, padarias, postos de gasolina e feiras livres de produtos alimentícios.

Ana Paula Vilaça alertou que o Plano de Convivência com a Covid-19 pode ser revisto a qualquer momento, a depender da evolução dos números da doença no estado. E que assim como foram adotadas medidas mais restritivas nas 53 cidades agreste pernambucano, elas podem se estender para outros municípios caso seja necessário.

"Nós avaliamos e fazemos esse equilíbrio do funcionamento das atividades econômicas e sociais e os números da saúde, para que o governo consiga atender na sua rede hospitalar todos os pacientes, garantindo a preservação da vida das pessoas", afirmou.

A secretária também pediu comprometimento da população em geral, dos comerciantes, prestadores de serviços "para que cumpram e sigam os protocolos sanitários que foram construídos e elaboramos em parceria com todos os segmentos", disse.

Ela também reforçou a necessidade de seguir os protocolos sanitários para evitar a infecção pelo novo coronavírus. "O nosso comportamento também é um diferencial: o uso da máscara de forma correta e o tempo inteiro, evitar aglomerações, respeitar o distanciamento social, eventos sociais, corporativos, festas, que permanecem proibidos nesse momento", salientou.

 

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