ACOLHIMENTO

"Hospedar moradores de rua na rede hoteleira tradicional é inviável", diz presidente da ABIH-PE sobre projeto da Prefeitura do Recife

A prefeitura do Recife está preparando edital para contratação de 200 vagas de hospedagem para pessoas em situação de rua na capital

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Edilson Vieira

Publicado em 16/06/2021 às 19:05 | Atualizado em 16/06/2021 às 19:08
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‘É muito difícil um hoteleiro aceitar. Eu falei com diversos empresários e todos ficaram reticentes. Até porque o hotel inteiro teria que ficar destinado às pessoas indicadas pela prefeitura. Não haveria como misturar hóspedes com moradores de rua”, diz Eduardo Cavalcanti, presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira em Pernambuco (ABIH-PE).

Eduardo participou da audiência pública sobe o projeto de hospedagem de moradores de rua, que faz parte do programa Recife Acolhe, lançado pelo prefeito João Campos, na última segunda-feira (14) e que prevê a contratação de 200 vagas para serem custeadas 100% pelo município em hotéis, pousadas e outras instituições. A prefeitura está formatando os detalhes do edital que deve ser publicado nos próximos dias.


Eduardo Cavalcanti acha que o projeto pode funcionar em algumas situações específicas. “Alguns hoteleiros que estão pensando em fechar temporariamente ou até definitivamente seus hotéis podem se interessar pelo programa. Mesmo assim há o risco desses hotéis ficarem com a imagem de que se tornaram abrigos”.  Mas Eduardo pondera que para os estabelecimentos menores, como pousadas e hospedagens do tipo hostel, a ideia da prefeitura pode ser interessante. “Pousadas estão enfrentando muito mais dificuldade do que hotéis com a falta de público, e por serem empreendimentos de pequeno porte às vezes nem contam com capital de giro. Mas para os empreendimentos de maior porte este programa não representa um socorro, porque o setor hoteleiro mesmo não vai aderir”.

OCUPAÇÃO

Eduardo revela que os hotéis do Recife tinham uma taxa de ocupação média, antes da pandemia, de 75%, e hoje estão entre 24% e 26% de ocupação. “A crise é provocada pela falta de eventos no estado. Durante muito tempo quem salvou a hotelaria do Recife foi o Centro de Convenções. Hoje temos um Centro de Convenções defasado e sem eventos”, pontuou o presidente da ABIH-PE.

PROGRAMA

A Prefeitura do Recife lançou, nesta segunda-feira (14), o Programa Recife Acolhe, que consiste em uma série de medidas propostas para auxiliar a população em vulnerabilidade social durante os quatro anos de gestão do prefeito João Campos (PSB). Entre elas, duas são imediatas: a reabertura de um restaurante popular até o final do mês e o lançamento de um edital para contratação de 200 vagas em hotel, em pousada e em instituições localizados na capital pernambucana para acolher as pessoas em situação de rua.

As vagas serão totalmente custeadas pelo município e têm como objetivo "garantir um conforto para as famílias". "A gente quer criar uma rede de solidariedade em que a gente possa engajar as pessoas da cidade", disse o gestor durante o lançamento do evento na segunda-feira (14).

A assessoria de imprensa da Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Política Sobre Drogas do Recife afirmou que mais detalhes como longevidade do projeto e custos só serão dados a partir da publicação do edital no Diário Oficial da Prefeitura do Recife, e que a PCR têm 30 dias, contados a partir do dia 14 último, para concluir o edital. As empresas interessadas em participar da pesquisa devem encaminhar propostas de acordo com o texto que será divulgado.

Dados dão conta de que a população de rua na capital pernambucana tem aumentado. Em levantamento realizado pela Prefeitura do Recife em 2016, ela era de cerca de 1,2 mil pessoas. Em 2019, cresceu para 1,6 mil. Número que deve ser ainda maior agora, durante a pandemia da covid-19, segundo o coletivo Unificados Pela População em Situação de Rua. Atualmente, o executivo municipal tem registro de que 200 cidadãos sem teto do Recife estão em casas de acolhimento. Dessa forma, com o projeto recém anunciado, o total de pessoas acolhidas deve subir para 400: o que representaria cerca de 25% da população desabrigada na cidade.

 

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