Petrobras reduz preço da gasolina na refinaria mas desconto não chega nos postos. Conheça os motivos
Apesar do preço da gasolina ter caído nas refinarias (2%), o movimento nos postos é de alta no valor do combustível. Impostos, demanda e até o fim da safra da cana influenciam
O último reajuste da Petrobras sobre o preço da gasolina foi para baixo. Desde o sábado (11), a estatal aplicou uma redução de 2% no preço do combustível que passou a custar R$ 2,53 por litro. Este é o preço cobrado nas refinarias para as distribuidoras.
Mas nos postos de combustíveis o que pôde se observar na última semana é que o movimento foi inverso. O preço vem subindo e já chega a R$ 6 nas bombas. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço médio da gasolina no Recife na última semana foi de R$ 5,598, e o preço máximo registrado de R$ 5, 897.
Já nesta segunda-feira (21) vários postos da Zona Sul do Recife cobravam em média R$ 5, 886 pelo litro da gasolina à vista e R$ 5,986 à prazo no cartão de crédito. A gasolina aditivada então, ultrapassou a barreira dos R$ 6. Em um posto da Avenida Domingos Ferreira, em Boa Viagem, era vendida a R$ 6,059 o litro.
CONSUMIDORES
O consultor técnico Luciano Carvalho, abasteceu o carro e percebeu o aumento no preço. Para ele, o problema do aumento dos combustíveis está no efeito dominó que ele provoca. "Quando aumenta combustível, aumenta vários outros itens, como alimentação, transporte, assim até a convivência com a Covid fica mais difícil", acredita ele. O mesmo raciocínio tem o representante Walter Lucas, para quem a gasolina "não para de aumentar". "Eu preciso do carro no meu trabalho, o resultado é que estou abastecendo mais e rodando menos", resumiu.
O advogado Luciano Carvalho observou que nos últimos quatro meses os aumentos são praticamente mensais. "Não só a gasolina, mas também o diesel vem aumentando, até no interior do Estado. Quem viveu o tempo da hiperinflação sabe o que significa", diz Luciano. O empresário Vicente Silva foi outro consumidor que associou o encarecimento dos combustíveis ao aumento do custo de vida. "A inflação já está chegando numa fase que não tem mais controle. Vamos logo, logo chegar na inflação de dois dígitos", acredita o empresário.
NORTE
Na Zona Norte a situação não era diferente. Em postos da Avenida Norte, o litro da gasolina C está custando R$ 5,87 par pagamento à vista e R$ 5,97 no crédito. A gasolina aditivada no crédito chega a quase inacreditáveis R$ 6,37. Se o dono de um carro popular resolver encher o tanque de gasolina aditivada para pagar com 30 dias, irá botar na fatura do cartão o valor de R$ 318,40 para um tanque de 50 litros.
Em Olinda, o preço também não estava melhor. Encontramos no Bairro de Casa Caiada, a gasolina C à vista por R$ 5,886 o litro, e a prazo R$ 5,986. Mas, se a Petrobrás aplica descontos no preço base do produto, mesmo que pequeno como foi agora (2%), porque não vimos o preço cair nas bombas?
POSTOS
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Pernambuco (Sindicombustíveis-PE), Alfredo Pinheiro Ramos, explica que o preço do combustível na refinaria é apenas um dos vários componentes que formam o preço final na bomba. E, dependendo da época do ano, os reajustes da Petrobras tem mais ou menos peso na composição do preço. "Neste último movimento do mercado, o preço da gasolina na refinaria caiu 5 centavos por litro, mas a pauta fiscal do Estado, o valor cobrado de ICMS, subiu 4 centavos. Então a redução real foi de apenas 1 centavo sobre o preço base"
Alfredo Ramos ainda cita o fato de estamos na entressafra da cana-de-acuçar na região, o que aumenta o preço do álcool anidro adicionado a gasolina. "Essa adição é feita pela distribuidora na proporção de 27%. Se o etanol sobe, a gasolina acompanha". Ramos explica ainda que o etanol não tem um "preço oficial" como a gasolina vendida pela Petrobrás. "São o mercado e os usineiros que definem o preço do etanol, mas quando ele sobe, a gasolina acompanha", diz o presidente do Sindicombustíveis.
Alfredo Ramos ainda contextualiza o momento atual do mercado de combustíveis, que ainda não voltou para os níveis de consumo de antes da pandemia "A comercialização não recuperou a demanda que havia há um ano e meio. tem áreas da cidade em que os postos trabalham com a demanda de 50% em relação ao que tinham antes. Como as escolas não voltaram em sua totalidade, o comércio funciona com restrições e quem tinha dois carros passou a usar um apenas, o consumo de combustíveis caiu, então o dono de combustível que tem mais boletos pra pagar precisa em um determinado momento, tentar faturar um pouco mais. Mas há preços bem variados no mercado", esclarece.
PETROBRAS
A Petrobras destaca que os combustíveis derivados de petróleo são commodities e têm seus preços atrelados aos mercados internacionais, cujas cotações variam diariamente, para cima e para baixo. Essa lógica se aplica a outros tipos de commodities nas economias abertas, onde é possível importar e exportar como, por exemplo, trigo, café, metais, etc. A estatal ainda informa que "o valor pago pelo consumidor final não está sob gestão da Petrobras e é composto por quatro fatores: Preços do produtor ou importador de gasolina bruta; carga tributária; custo do etanol obrigatório; margens da distribuição e revenda. E conclui:"os preços são livres nos postos e somos apenas um dos agentes na produção e na comercialização da gasolina no Brasil".