Caminhoneiros voltam a bloquear BR-101 em Igarassu, no Grande Recife, diz PRF
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) confirmou a nova interdição aproximadamente 22h40
Atualizada em 09.09.21, às 11h45
Depois de ter sido liberada por volta das 19h15 dessa quarta-feira (8), a BR-101, em Igarassu, no Grande Recife, voltou a ser bloqueada no quilômetro 43 por caminhoneiros bolsonaristas. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) confirmou a nova interdição aproximadamente às 22h40. No início da manhã desta quinta-feira (9), a via permanecia interditada e foi totalmente liberada por volta das 7h55. No período, segundo a PRF, havia uma faixa liberada em cada sentido da rodovia para circulação de veículos de passeio, ambulâncias e ônibus.
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No quilômetro 83 da BR-408, em Paudalho, na Zona da Mata, havia um bloqueio parcial, segundo a PRF. Na noite da quarta, um grupo ateou fogo em pneus e o estaria liberando a passagem só de carros de passeio, veículos de emergência e caminhões com cargas perecíveis. Os manifestantes também liberaram o local na manhã desta quinta.
Os bloqueios no País começaram nesta quarta (7) durante as manifestações convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em Igarassu, segundo a PRF, o movimento era pela diminuição do preço dos combustíveis e implantação do voto impresso nas eleições de 2022.
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Na noite desta quarta-feira (8), havia concentração de caminhoneiros em ao menos 16 estados. O presidente Jair Bolsonaro fez um apelo à categoria para que as estradas sejam liberadas. Em um áudio, o chefe do Executivo diz que o bloqueio de rodovias provoca "desabastecimento, inflação e prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres".
"Fala para os caminhoneiros aí, que são nossos aliados, mas esses bloqueios atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação e prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres. Então, dá um toque no caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade. Deixa com a gente em Brasília aqui e agora. Mas não é fácil negociar e conversar por aqui com autoridades. Não é fácil. Mas a gente vai fazer a nossa parte aqui e vamos buscar uma solução para isso, tá ok? E aproveita, em meu nome, dá um abraço em todos os caminhoneiros. Valeu", diz o presidente no áudio, enviado ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
Ouça o apelo de Bolsonaro aos caminhoneiros:
Filas nos postos do Grande Recife
Os bloqueios realizados pelos caminhoneiros já preocupa distribuidoras de combustíveis que temem o desabastecimento dos mercados. A situação mais crítica é em Santa Catarina e Mato Grosso, mas algumas cidades de outros estados já estão com fornecimento comprometido. Em toda a Região Metropolitana do Recife, postos registrara enormes filas.
Para Alfredo Pinheiro Ramos, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicombustíveis-PE), não há risco de desabastecimento de combustível em postos de gasolina no Estado até então.
"A gente está entendendo que isso (desabastecimento) não vai acontecer, mas estamos em alerta. Estamos monitorando a situação. Aqui em Pernambuco, até as 20h, não havia isso", afirmou Alfredo.
De acordo com o presidente do Sindicombustíveis, áudios e vídeos alertando para a falta de combustíveis não condizem com a realidade. "As filas que têm são para o abastecimento de gás natural. Se você andar pelo Recife, você não vai encontrar fila para abastecer", disse antes do registro de grandes filas ao fim da noite.
Em nota de repúdio aos bloqueios, a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), que representa transportadoras, afirmou que as paralisações poderão causar sérios transtornos à atividade de transporte realizada pelas empresas, com graves consequências para o abastecimento de estabelecimentos de produção e comércio. A entidade reforçou que tais bloqueios e suas eventuais consequências para o abastecimento poderão atingir diretamente o consumidor final e o comércio de produtos de todas as naturezas, incluindo alimentos, medicamentos e combustíveis.
Paralisação de natureza política
A NTC&Logística, que diz congregar cerca de 4.000 empresas de transporte associadas direta e indiretamente e mais de 50 entidades patronais, afirmou que a movimentação é de natureza política e está dissociada das bandeiras e reivindicações da categoria de caminhoneiros autônomos.
Um dos líderes do movimento intitulado de caminhoneiros patriotas, Francisco Burgardt, conhecido como Chicão Caminhoneiro, diz que entregará um documento ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pedindo a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). "O povo brasileiro não aguenta mais esse momento que País está atravessando através da forma impositiva que STF vem se posicionando. O povo brasileiro está aqui (Esplanada dos Ministérios) buscando solução e só vamos sair daqui com solução na mão", disse Chicão, que preside União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), em vídeo que circula pelas redes sociais. Segundo ele, o documento também será entregue ao presidente Jair Bolsonaro. Em outro vídeo, Burgardt fala em um prazo de 24 horas para a resposta das autoridades ao pedido do movimento.
A paralisação, contudo, não é uma decisão unânime da categoria. Entidades que representam caminhoneiros autônomos e que chamam mobilizações a favor de demandas específicas da categoria não aderiram aos atos. Na semana passada, representantes da categoria já consideravam que poderia haver a presença pontual de transportadores nos movimentos, mas de forma isolada, sem organização associativa.
A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), a Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB), a Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Carga em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens-SP), o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo (Sindicam-SP) e o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam) informaram que não apoiam a paralisação e não estão participando dos atos, assim como a NTC&Logística.
O presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como Chorão, avalia que o movimento é de cunho político com participação de empresários de transporte e seus funcionários celetistas, e não de transportadores autônomos. "Os caminhoneiros estão sendo usados como massa de manobra. Existe um movimento com interesse de empresas e do agronegócio atrás do financiamento desses atos. Está claro que a pauta não é da categoria", disse Chorão. De acordo com ele, uma greve geral neste momento seria prejudicial às atividades dos autônomos. "Uma paralisação nesse momento tiraria vários transportadores do ramo e ainda em uma pauta política seria prejudicial à categoria. Muitos motoristas não conseguiriam parar 10 a 15 dias", afirmou Chorão, que foi um dos principais líderes da categoria na greve de 2018.