Energia: proposta de Bolsonaro para suspender bandeira vermelha pode triplicar alta em 2022
Atualmente, País enfrenta escassez hídrica, que pode se agravar, e paga bandeira vermelha "Escassez Hídrica"
A crise hídrica que atinge o País não será resolvida com a suspensão da bandeira tarifária vermelha. Isso é o que aponta um levantamento da consultoria PSR, tradicional no setor elétrico. De acordo com a consultoria, caso a "bandeira de escassez hídrica" seja cancelada, o reajuste esperado para 2022 pode, na verdade, até triplicar. Na última quinta-feira (14), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que iria determinar a volta "á bandeira normal" a partir de novembro, após o País começar a pagar no mês de outubro uma bandeira mais cara na conta de energia.
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Os dados do estudo foram apresentados pelo jornal O Globo. Num conta considerada conservadora, a PSR estima que uma volta ao patamar mínimo da bandeira tarifária neste momento pode representar um aumento de 5% na energia elétrica no próximo ano.
As simulações feitas pela PSR indicam que, sem a bandeira atual, a conta poderia subir até 17,3%, se não houver qualquer tipo de cobrança extra até abril, previsão para manutenção em caráter excepcional da “bandeira escassez hídrica”, no valor de R$ 14,20 por 100 kWh.
Caso o governo passe a adotar a bandeira vermelha nível 2 (R$ 9,49 a mais na conta), o reajuste do próximo ano ficaria, em média, em 9%, ainda de acordo com a PSR.
CRISE
A situação de armazenamento de água dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste continua preocupante. Os reservatórios estavam com 16,7% da sua capacidade de armazenamento no último dia 30. A expectativa do governo federal era de que eles chegassem a outubro com 20% da sua capacidade, segundo previsões feitas em maio último. Quer dizer: a situação já está pior do que a prevista. E cerca de 70% de toda a água que pode ser acumulada para gerar energia no Brasil estão nos reservatórios das duas regiões.
A última vez que o Brasil teve apagão e racionamento foi em 2001 pelo mesma razão que ocorre agora: pouca quantidade de água armazenada nos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste.
Atualmente, as hidrelétricas têm em torno de 64% da capacidade instalada total de produzir energia elétrica no País. Em 2001, cerca de 90% da energia do País vinha das hidrelétricas. Com a crise hídrica, é preciso adicionar ao sistema energia produzida por outros meios, como as usinas termelétricas, que são bem mais caras.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou na última quinta-feira (14) que determinará ao Ministério de Minas e Energia (MME) que altere a bandeira tarifária de energia elétrica para rebaixá-la a um valor menor a partir do mês que vem. A declaração foi feita durante discurso na Conferência Global Millenium, um evento que reúne igrejas evangélicas.
"Estávamos na iminência de um colapso. Não podíamos transmitir pânico à sociedade. Dói a gente autorizar o ministro Bento [Albuquerque], das Minas e Energia, a decretar a bandeira vermelha. Dói no coração, sabemos da dificuldade da energia elétrica. Vou determinar que ele volte à bandeira normal a partir do mês que vem", disse o presidente, sem entrar em detalhes sobre qual seria a redução pretendida.
O País enfrenta a maior crise hídrica em 91 anos, o que tem afetado os reservatórios das usinas hidrelétricas.
Bandeiras
Criada em 2015 pela Aneel, as bandeiras tarifárias refletem os custos variáveis da geração de energia elétrica e é dividida em níveis. Elas indicam quanto está custando para o Sistema Interligado Nacional (SIN) gerar a energia usada nas casas, em estabelecimentos comerciais e nas indústrias. Quando a conta de luz é calculada pela bandeira verde, significa que a conta não sofre nenhum acréscimo.
A bandeira amarela significa que as condições de geração de energia não estão favoráveis e a conta sofre acréscimo de R$ 1,874 por 100 kWh consumido. A bandeira vermelha mostra que está mais caro gerar energia naquele período. A bandeira vermelha é dividida em dois patamares. No primeiro patamar, o valor adicional cobrado passa a ser proporcional ao consumo na razão de R$ 3,971 por 100 kWh; o patamar 2 aplica a razão de R$ 9,492 por 100 kWh. Acima da bandeira vermelha, está a bandeira escassez hídrica, atualmente em vigor.