SUSTENTÁVEL

Hidrogênio verde vai ajudar o mundo a emitir menos gases que contribuem para o aquecimento global; entenda

Especialistas apontam que a produção do hidrogênio verde vai contribuir para que os países cumpram as metas de redução de carbono divulgadas durante a COP 26, que está acontecendo até o dia 12 deste mês em Glasgow, na Escócia

Angela Fernanda Belfort
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Angela Fernanda Belfort
Publicado em 07/11/2021 às 7:00
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EM PERNAMBUCO Duas empresas, a Qair Brasil e a Neoenergia, têm interesse em implantar fábricas de hidrogênio verde no Porto de Suape - FOTO: REPRODUÇÃO/QAIR
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Um carro movido a hidrogênio joga água em vapor na atmosfera, enquanto os que usam combustíveis fósseis - como a gasolina ou o diesel - eliminam os gases que contribuem para o aquecimento global, como o dióxido de carbono. Nesta semana, representantes de vários países do mundo que participaram da COP 26 uma conferência que discute os rumos do planeta que ocorreu em Glasgow, na Escócia - se comprometeram em diminuir em 30% as emissões de carbono até 2030. Para isso, é necessário diminuir o uso dos derivados de petróleo. "O hidrogênio verde é a alternativa na emissão dos gases do efeito estufa e faz parte da transição da matriz energética mundial que vai substituir os combustíveis fósseis", afirma o presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Anísio Coelho. A entidade realizou até um seminário na semana passada para debater o assunto.

>> Presidente mundial da Qair visita Suape e conhece infraestrutura para futuro projeto de hidrogênio verde

"Depois da COP 26 vai ocorrer um maior engajamento dos governos dos principais países da Europa e dos Estados Unidos para acelerar a produção e o desenvolvimento de plantas de hidrogênio verde, que pode promover uma descarbonização profunda da economia", explica o diretor de Operações da Qair Brasil, Gustavo Silva. Cerca de 73,2% das emissões dos gases do efeito estufa estão associados à produção de energia, utilizada pelos setores industrial, de transportes e outros usos, como aquecimento e refrigeração. A Qair do Brasil está fazendo um estudo de viabilidade para implantar uma fábrica de hidrogênio verde no Porto de Suape e também já assinou um memorando para implantar uma unidade de produção do hidrogênio verde no Ceará. 

Antes da COP 26, a União Europeia (UE) já tinha anunciado um investimento de US$ 430 bilhões em hidrogênio verde até 2030. Estes recursos seriam empregados em fábricas de hidrogênio renovável que teriam a capacidade instalada de gerar 40 gigawatts (GW) na próxima década, contribuindo para a UE alcançar a meta de ter impacto neutro no clima até 2050. Para isso, seriam necessários uma produção de aproximadamente 10 milhões de tonelada de hidrogênio verde por ano. Nesta primeira etapa, o que esses países estão fazendo é garantindo a compra futura deste gás. 

Ainda durante a COP 26, a Aliança Financeira de Glasgow - formada por grupos financeiros que enviaram representantes ao evento - se comprometeu a empregar US$130 trilhões - sendo US$ 100 trilhões até 2050 - no financiamento de novas tecnologias. Uma parte deste total provavelmente será empregado em pesquisas na área do hidrogênio verde. 

Outro fator que pesa a favor do hidrogênio verde é a facilidade de transportar grandes quantidades deste gás. "Até hoje, os combustíveis transportados, em larga escala, são os fosseis. O hidrogênio vai permitir o estoque e o transporte da energia elétrica em grandes quantidades", diz Gustavo, acrescentando que é impossível transportar atualmente energia eólica ou solar em grandes volumes de um país para outros distantes. Um dos maiores portos da Europa, o de Rotterdã, na Holanda, está se preparando para ser o grande distribuidor de hidrogênio verde naquele continente.

"A pressão geopolítica vai ser imensa para que a indústria do hidrogênio verde surja e se consolide depois da COP-26", comenta Gustavo. A produção de hidrogênio verde está iniciando. No entanto, o  hidrogênio já é fabricado em vários locais do mundo, inclusive para a indústria, e também faz parte de alguns processos industriais, por exemplo o refino do petróleo. No mundo, cerca de 94% do hidrogênio produzido é classificado como cinza, porque é feito a partir de energia gerada por combustíveis poluentes ou fosseis, como o carvão, o óleo diesel ou o gás natural e joga carbono - que contribui para o aquecimento global - na atmosfera. Também há produção do hidrogênio azul - que captura 90% do carbono gerado no processo industrial e vende o CO2 para outras indústrias, como a de refrigerantes e a cimenteira. Na realidade, o que faz o hidrogênio ser verde (ambientalmente correto) é utilizar energia limpa - como a éolica ou solar -  no seu processo de fabricação. 

A atual tecnologia usada para fazer o hidrogênio verde é considerada cara, como também ocorreu quando foram iniciadas as primeiras experiências de produção de energia solar e eólica, cujos equipamentos e custo de produção ficaram mais baratos nas últimas duas décadas. Em agosto do ano passado, a renomada consultoria de energia estimou que os custos de produção do hidrogênio verde cairão até 64% na próxima década. E este mercado vai ultrapassar os US$ 11 trilhões em 2050, de acordo com uma estimativa do banco Goldman Sachs.

SITUAÇÃO ATUAL

As plantas de hidrogênio verde estão em projetos e pelo menos seis países estão algumas unidades em construção. Para produzir hidrogênio verde é necessário água - formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio - e muita energia. E, energia no Brasil não é barata. "O hidrogênio verde pode representar uma grande oportunidade para o Nordeste brasileiro, caso seja produzido a partir da energia eólica ou solar", resume o secretário estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade, José Bertotti, que está acompanhando os debates da COP-26 e participou com uma reunião, na quinta-feira (04) para discutir possíveis acordos de cooperação para iniciativas sustentáveis. Segundo ele, as consultorias internacionais apontam que há dois lugares mais propícios para a produção de energia verde: a Austrália e o Brasil. 

"A nossa ideia é também desenvolver a indústria do hidrogênio verde, produzindo localmente, por exemplo, reatores que separam o oxigênio do hidrogênio", comenta Bertotti. A produção nacional de equipamentos usados na geração eólica também ajudou a baratear o custo de fabricação desta energia no Brasil, entre outras coisas.

DESAFIOS 

Além de iniciar a produção do hidrogênio verde nos próximos anos, o Brasil também tem outros desafios mais complexos pra reduzir a emissão dos gases que provocam o aquecimento global: diminuir o metano produzido pela agropecuária, que responde por 72% das emissões deste tipo de gás no Brasil. As emissões vem da fermentação entérica (o arroto do boi) e também das fezes dos animais.  Uma das soluções que vem sendo apontadas é reduzir para 14 meses o tempo em que o animal pode ser abatido. Hoje chega a 44 meses. O metano é mais de 20 vezes mais agressivo à camada de ozônio do que o dióxido de carbono.   

Outra ação que o Brasil vem se tornando campeão e que também contribui para emissão de gases do efeito estufa é o desmatamento, que é de difícil controle pela atual gestão do governo federal. Se quiser ser levado a sério diante da comunidade internacional, o País vai ter que apresentar um planejamento e metas pra tratar também dessas duas questões.  

Dois grupos pretendem instalar fábricas de hidrogênio verde em Suape

O hidrogênio verde é considerado o combustível do futuro e vai ajudar os países a cumprir as metas de redução de carbono

Dois grupos pretendem instalar fábricas de hidrogênio verde em Suape

Duas grandes corporações planejam implantar fábricas de hidrogênio verde no Porto de Suape. A Qair do Brasil que está fazendo um estudo de viabilidade técnica do empreendimento que deve entar em operação, na sua primeira etapa, em 2025. O grupo Neoenergia também assinou um memorando de entendimento com o governo do Estado0 para construir um projeto piloto de produção de hidrogênio verde no porto pernambucano.

“A iniciativa prevê encontrar oportunidades para viabilizar a demanda pelo produto e preparar o Porto Suape para ser um hub de produção de hidrogênio verde no futuro”, como diz a empresa em nota que fala também que o novo combustível (o hidrogênio) é “um importante vetor para acelerar a descarbonização industrial”.

O Neoenergia tem geradoras - incluindo de fontes renováveis como eólicas, uma termelétrica em Suape a gás natural e pelo menos três distribuidoras que atendem os Estados de Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte. É controlada pela empresa Iberdrola que tem metas ambiciosas de redução da emissão de carbono. A reportagem do JC contatou a assessoria de imprensa do Neoenergia, mas não foi disponibilizado porta-voz para falar sobre o projeto.

Atualmente, a Neoenergia possui a capacidade instalada de energias renováveis acima de 80%. Em 2022, este percentual chegará a 90%, caso sejam concluídos os projetos em andamento, segundo informações da empresa. O grupo é controlado pela Iberdrola.

 

Fábrica

Apesar de estar no estudo de viabilidade técnica, a fábrica de hidrogênio verde da Qair do Brasil planeja ter a sua primeira fase entrando em operação em 2025, quando pode estar produzindo 74 mil toneladas de hidrogênio verde. As outras etapas serão concluídas, respectivamente, em 2027, 2029 e 2031. Em cada uma delas a produção vai aumentar em 74 mil toneladas.

“O Nordeste é um local favorável para a produção de hidrogênio, porque tem um bom potencial de geração eólica e solar”, diz o diretor da Qair do Brasil, Gustavo Silva. A energia para a empresa produzir o hidrogênio sairá de unidades de geração de energia limpa que a empresa tem na Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

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