Negócios

Empreendedores evangélicos unem fé em Deus e capacidade de fazer negócio na retomada econômica pós-pandemia

Após dois anos sem realização da Gospel Fashion Day, por conta da covid-19, empresários apostam no retorno da feira para alavancar os negócios e voltar a turbinar um nicho que não parava de crescer

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 22/11/2021 às 19:15
FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
BK STORE Loja mira em atender público que busca beleza, mas também seguir regras de vestimenta - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
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A empreendedora Danielle Alves, 37 anos, estava com medo de voltar a apostar em um novo negócio, depois de fechar uma loja online de revenda de tênis. Desempregada desde 2018, não queria retornar ao tradicional mercado de trabalho, mas precisava reforçar a renda da casa, formada apenas pelo salário do marido. Nas pesquisas em busca de um novo negócio, em que pudesse imprimir sua criatividade e sua veia empreendedora, Danielle encontrou o pano de prato. Sim, aquele prosaico pedaço de tecido, que uma hora está pendurado no ganchinho da cozinha e na outra passeia sob nosso ombro. 

Na época, a única coisa que Danielle dispunha para começar o negócio era uma máquina de costura, que tinha comprado com o dinheiro do auxílio emergencial. Na época, a máquina foi usada para costurar máscaras, mas acabou ficando escanteada. O ato de coragem, que marcou seu reinício como empreendedora, foi a compra de 24 panos de prato no cartão de crédito. 

Para dar um toque de inovação ao produto, Danielle uniu os panos de prato às bandejas de madeira e cerâmica confeccionada pelo pai. Marceneiro de talento reconhecido, Seu Domingos Alves costumava fazer as bandejas para presentear os clientes como um mimo. Na ocasião, ele tinha umas nove bandejas disponíveis e cedeu à filha.  

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Feira Gospel no Shopping Camará - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Assim, na primeira metade de 2021, surgiu a Mais que pano (@maisquepano), com um conceito fiel ao seu nome. "Eu fui na oficina do meu pai e perguntei quantas bandejas ele tinha para vender e disse que ia vender tudo. Meu pai ficou rindo de mim, mas eu realmente vendi tudo na semana do Dia das Mães deste ano. E e o empreendedor quando vende fica motivado. Era isso que eu precisava para me encorajar a vender meu pano de prato. E o nome remete ao fato de não ser apenas um pano de prato. Ele tem amor, valor, afeto. Traz frases inspiradoras, motivadoras e com humor", conta Danielle. 

São panos sugerindo não meter o bedelho na cozinha, com apelo religioso, referências ao Nordeste e outros, como "Que falte tudo, menos Deus"; "Antes de tudo fé, depois de tudo gratidão"; "Estado civil, arretada"; "Eu te amo mais que cuscuz"; "Meu país Pernambuco"; "Te amo visse" e outros. Os panos são confeccionados em tecidos 100% algodão (tricoline).  

Os panos são de produção artesanal, com pintura feita à mão e costurados por Danielle. Os preços são a partir de R$ 18 para os modelos sem barras e de R$ 22 nas versões com barras. Já as bandejas custam R$ 35 o modelo mini e R$ 70 a grande. As primeiras coleções trazem os nomes da mãe de Danielle, Dona Carmem e da avó paterna dela (Luzia) e da avó do marido João Marcos (Alzira). 

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Feira Gospel no Shopping Camará - FILIPE JORD�O/JC IMAGEM

As embalagens são um encantamento à parte. Feito com papel madeira, amarrado com cordão, coração pintado e a inscrição "Aqui tem amor", lembra aos pacotes antigos, agregam valor ao produto, criam uma identidade para a marca e conquistam os clientes pelo emocional. Quem tem coragem de jogar uma embalagem dessas fora? "Eu costumo dizer que a Mais que pano não é minha, é de Deus. Eu senti muito medo de voltar a empreender e foi ele quem fez tudo. Um dos presentes mais especiais que recebi e que me fez chorar foi a arte visual da empresa, que minha minha (Jamile), meu genro e meu marido me deram", diz.  

Hoje, a Mais que Pano participa da Feira de Casa Forte, nos dias de sábado e na Feira do Bom Jesus, aos domingos. Este ano também fez sua estreia na Gospel Fashion Day, realizada de sexta a domingo (19 a 21), no Camará Shopping, em Camaragibe. Em sua 9ª edição, a feira é considerada uma espécie de talismã para os empreendedores evangélicos, que costumam se profissionalizar e expandir os negócios a partir da participação nela, organizada por Vívian Oliveira. 

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Feira Gospel no Shopping Camará - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Hadassa é grife evangélica de bolsa 

Estefância Cândico, conhecida como Ester, conta que estava grávida da filha Hadassa, quando pediu ao marido que fizesse uma bolsa para ela. Diante da demora do esposo, ela comprou uma bolsa. Quando chegou em casa com o produto, o marido perguntou se ela teria coragem de usar aquela ao invés de uma confeccionada por ele e fez uma nova bolsa. O caso passou a fazer parte da história da Hadassa, grife de bolsas voltada para o público evangélico que surgiu em Jaboatão dos Guararapes. 

O nome é uma homenagem à filha, que ganhou o nome hebraico graças ao interesse bíblico dos pais, que são da igreja Assembleia de Deus. Ester costuma brincar que o marido Berg é a própria fábrica, enquanto ela cuida da parte de divulgação, marketing e compra de matéria-prima. "A fábrica fica na nossa própria casa e ele é design, cortador e costureiro das bolsas. Ele é muito exigente com o produto e pode olhar para cada bolsa nessa que não vai se ver nenhum linha torta ou fora do lugar", orgulha-se.

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Feira Gospel no Shopping Camará - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Com 6 anos de mercado, a Hadassa conta com uma loja física do bairro de Jardim Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, além das vendas online pelo Instagram. A grife tem bolsas de festa, bolsas para usar no dia a dia, necessaire e outras. "A participação na Gospel Fashion Day fez toda a diferença para nós. Nossa loja física só aconteceu depois dessa experiência. Começamos a participar em 2018 e não paramos mais. A pandemia fez com que a feira fosse suspensa, mas assim que retornou voltamos juntos", afirma Ester.   

Família unida nos negócios 

O negócio da família de Rose Leão, 40 anos, começou voltado para o setor infantil. Em 2009, a Baby Kids começou sua trajetória vendendo enxovais e móveis para bebês no mercado de Escada. Com o tempo, as mães que compravam os itens infantis começaram a demandar outras peças e a empresas foi incluído produtos para o público adulto. A divisão de foco foi tanta que se tornou necessário mudar o nome da empresa. 

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Feira Gospel no Shopping Camará - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
 

"Como não tinha mais sentido deixa Baby Kids, porque a empresa não focava mais apenas no público infantil, então decidimos fazer a junção das primeiras letras do nome. Aí ficou BK Stores", revela Rose. Apesar de a família ser de Vitória de Santo Antão e morar lá, o marido de Rose, Alcemir, já negociava em Escada. Atualmente a BK tem lojas físicas nos municípios de Escada, Ribeirão e há pouco mais de uma semana inaugurou uma nova unidade no Cabo de Santo Agostinho. Além dessas, a BK tem uma unidade voltada para o público infantil em Vitória, que é comandada por uma das filhas do casal: Anny. A outra filha, Alícia, está junto com os pais nas outras unidades. 

A BK Stores não tem produção própria e conta com fornecedores em várias cidades do País, que comercializam coleções fechadas e produtos mais voltados às necessidades da marca. A empresa tem parceiras em várias cidades do Polo de Confecções de Pernambuco, além de São Paulo, Fortaleza e Maringá (PR).  

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Feira Gospel no Shopping Camará - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

"Nosso público-alvo é o evangélico cristão, com roupas para o público feminino e infantil (menino e menina). Eu me tornei evangélica há 22 anos, depois do nascimento da minha primeira filha e confesso que naquela época tinha dificuldade em me vestir de maneira elegante e dentro dos padrões da igreja, porque não existiam lojas especializadas como hoje. Antes você gostava de uma roupa, mas ela tinha alça, por exemplo, aí era preciso levar na costureira para reparo. Agora é bem mais fácil estar vestida adequadamente", destaca Rose.   

A empresária está falando de um público que cresce ano a ano no Brasil e em Pernambuco. O Estado tem a maior população de evangélicos entre os estados do Nordeste, além de uma média muito acima da nacional. Vívian Oliveira, da Gospel Fashion Day, lembra que a moda evangélica é bastante movimentada. "As pessoas se produzem para ir ao culto e não gostam de repetir o mesmo look. Por isso, o setor de moda é o que mais cresce", observa.    

Definitivamente não é um público a se ignorar, tanto que a Associação de Empresas e Profissionais Evangélicos do Brasil calcula que o mercado movimenta R$ 21,5 bilhões por ano e gera 2 milhões de empregos diretos. 

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