ARTESANATO

Mestre Nido e as suas esculturas que dão mais graça à Fenearte

O artesão conta como a feira ajudou a concretizar a sua carreira de escultor. A expectativa dos organizadores é de receber 200 mil pessoas no evento que vai até o domingo (19)

Angela Fernanda Belfort
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Angela Fernanda Belfort
Publicado em 14/12/2021 às 14:00
ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Mestre Nido de Serinhaém na 21ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato, a Fenearte - FOTO: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Logo na entrada da Fenearte, uma das esculturas que mais chama a atenção é a de um vaqueiro montado num cavalo, ambos em tamanho natural na Ala dos Mestres, uma das áreas mais valorizadas da feira que ocorre no Centro de Convenções, em Olinda, até o domingo (19).  A impressão é de que o vaqueiro está caindo do cavalo. "Ele não está caindo. Está derrubando o boi. Essa peça é uma homenagem a Raimundo Jacó, da Missa do Vaqueiro. E também a música Lengo Tengo, de Luiz Gonzaga", afirma o Mestre Nido, aos 41 anos, autor da escultura. A Lengo Tengo descreve a rotina de um vaqueiro no sertão. A história de Mestre Nido e da Fenearte se entrelaçam. O escultor atribui uma parte da carreira que construiu ao evento. Das 21 edições,  esteve presente em 19. E hoje está à frente do Instituto Jardim das Artes, em Sirinhaém, na Mata Sul de Pernambuco, ensinando escultura a 56 alunos, incluindo alguns que já vivem de artesanato. 

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"A primeira Fenearte que participei foi num estande da Prefeitura de Sirinhaém. Tinha 20 anos. Trouxe uma escultura de uma coruja - feita de um tronco de coqueiro -, de 50 centímetros, que eu tinha começado a esculpir em janeiro e em julho estava na Fenearte com a peça. Nos dois primeiros anos, vim com o estande da Prefeitura. No terceiro ano, vim num estande do Banco do Nordeste, trazendo uns bancos com uns animais ao redor. Vendi todos. E, no quarto ano, comecei a expor na Ala dos Mestres", lembra.

Ao participar da Ala dos Mestres, o escultor lembra que "pegou" uma época em que lá estavam muitas referências da arte popular pernambucana, como Ana das Carrancas, Severino Vitalino - filho do escultor caruaruense Mestre Vitalino -, Mestre Salustiano e até o escritor "Ariano Suassuna, com quem chegou a dividir um espaço numa das Feneartes". E acrescenta: "aprendi muito com essa convivência. Era muito jovem, o povo olhava desconfiado, mas hoje tenho o respeito de todo mundo".

"A Fenearte é uma vitrine e fez toda diferença na minha vida. É uma oportunidade de mostrar o talento e fazer bons negócios", conta Nido. E foi na feira que as peças dele começaram a ficar conhecidas. "Já fui reconhecido até por ex-presidente da República, como Lula (PT), no qual participei de um jantar com ele no dia 28 de outubro de 2010 no Marco Zero, no Recife", recorda. 

Nido diz que "passou da água para o vinho", se referindo ao fato que o seu primeiro trabalho foi no corte da cana-de-açúcar na Usina Trapiche, na Mata Sul de Pernambuco. O pai dele também trabalhou no corte da planta. "Pedia a Deus que me tirasse daquela vida dura", recorda. 

De Fenearte em Fenearte, Nido foi deixando a cana de lado e passando a retirar mais dinheiro com as suas peças. E ele criou o hábito de levar sempre uma escultura em tamanho natural para a feira. A última foi uma do engenheiro e colecionador de artes, Ricardo Brennand e um soldado medieval, que foi comprada pela família do empresário. "Doze anos depois que deixei de trabalhar na usina, encontrei com seu Ricardo Brennand aqui. Ele comprou uma escultura gigante minha de Luiz Gonzaga", conta Nido, emocionado, pois Ricardo Brennand já tinha sido dono da usina onde ele começou a trabalhar no corte da cana. 

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Mestre Nido de Serinhaem na 21ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato, a Fenearte - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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21ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato, a Fenearte, que segue até o dia 19 de dezembro, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. Com o tema "É Festa no Reino da Arte", o evento homenageia o Movimento Armorial, iniciativa artístico-cultural idealizada pelo escritor e dramaturgo Ariano Suassuna - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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21ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato, a Fenearte, que segue até o dia 19 de dezembro, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. Com o tema "É Festa no Reino da Arte", o evento homenageia o Movimento Armorial, iniciativa artístico-cultural idealizada pelo escritor e dramaturgo Ariano Suassuna - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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21ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato, a Fenearte, que segue até o dia 19 de dezembro, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. Com o tema "É Festa no Reino da Arte", o evento homenageia o Movimento Armorial, iniciativa artístico-cultural idealizada pelo escritor e dramaturgo Ariano Suassuna - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

AUTODIDATA

Os detalhes do cavalo esculpido em tamanho natural chamam a atenção. Nido se chama Eronildo José Carlos Honorato. Como aprendeu a esculpir ? "Sou autodidata. E não sei desenhar. Coloco a madeira em pé e começo a esculpir", conta. A escultura do cavalo com o vaqueiro que está chamando a atenção na Fenearte foi iniciada em fevereiro de 2020 e deve estar finalizada em dois meses. A peça não está à venda e deve ficar exposta no Instituto Jardim das Artes, que "transforma pedaço de madeira em obra de arte".

A escola tem 56 alunos, sendo 26 fixos, que frequentam o local diariamente, e o restante faz aulas duas vezes por semana. No estande de Nido, também estão à venda peças feitas pelos seus alunos, como uma coruja.  "Já tenho alunos vivendo só de artesanato e que são monitores, porque auxiliam os que estão chegando", comenta. O instituto já tem 17 anos de atuação. 

"Toda Fenearte trago uma escultura gigante", afirma Nido. A escultura do cavalo e o vaqueiro surgiu de um tronco de Jaqueira. "A primeira vez que fiz um cavalo, tracei as linhas na parede. Depois, coloquei um cavalo próximo da parede e percebi que a proporção das linhas eram as mesmas que eu tinha traçado. As peças mais baratas do estande de Nido são esculturas pequenas de pássaros e custam R$ 60,00. 

EVENTO 

A 21ª edição da Fenearte acontece até domingo (19) no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. Os ingressos custam a partir de R$ 5. Nesta edição, ocorreu um investimento de R$ 7 milhões. A expectativa é de que o evento gere 2,5 mil postos de trabalho temporários e de que ocorram vendas de aproximadamente R$ 40 milhões. Os organizadores esperam atrair 200 mil visitantes e que sejam fechados negócios da ordem de R$ 40 milhões. 

O funcionamento da feira é das 14h às 22h, da segunda a sexta-feira. E, nos finais de semana, o evento começa às 10h e vai até as 22 horas. A Praça de Alimentação com seus 2.418m² de área ficou mais ampla com um novo projeto que humanizou o espaço e trouxe mais conforto para quem percorreu as ruas da feira.

O consumidor pode encontrar quadros, cerâmica, utilitários (de diversos tipos), objetos de decoração, bordados, bebidas, queijos, mobiliário e muitos outros objetos na Fenearte, que é uma realização do Governo do Estado, da Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (Adepe) / Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (Sdec) e conta com o apoio de instituições, como o Sebrae, e empresas da iniciativa privada, como é o caso da Stellantis, a dona da fábrica da Jeep, em Goiana. 

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