CRISE

Brasil vive o seu Natal mais desigual, com recorde de diferença entre as compras de ricos e mais pobres

De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas, apesar da melhora na intenção de compra sobre 2020, a possibilidade de gastar com itens natalinos será restrita a menos pessoas

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 23/12/2021 às 9:15
FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
DISPARIDADE A intensificação da desigualdade, aguda no Natal, esteve presente no Brasil o ano todo, segundo levantamento da FGV Social - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
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No Natal, quando espalham-se mensagens de esperança e generosidade, o Brasil, na prática, ampliará a conta de quem vive à margem disso. As festas natalinas de 2021 deverão bater o recorde de desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres, deixando para os últimos a impossibilidade de comprarem presentes e outros itens. Reflexo direto do impacto nocivo da inflação e perda de renda em função da pandemia da covid-19, que deixa na penúria por mais tempo quem antes já sobrevivia com o pouco.

Na série histórica da pesquisa de intenção de compra da Fundação Getúlio Vargas (FGV), nunca antes se chegou a uma diferença tão grande entre os gastos de quem tem maior renda e a parcela que menos tem. O número inclui as faixas de pobreza e extrema pobreza, mas também abarca as famílias que vivem com mais de 4 salários mínimos. Levando o recorte dos núcleos familiares com renda de até R$ 4,8 mil, a diferença da intenção de compra natalina em relação aos com renda acima desse patamar saltou para 44,4 pontos, atingindo seu pico no período de 14 anos. 

“O indicador que mede a intenção de gastos com compras de Natal mostra que será um período melhor para o comércio do que no ano passado, ainda que as famílias continuem cautelosas em relação ao consumo. Entretanto, isso ainda não é um resultado favorável comparando com anos anteriores. As famílias de mais baixa renda, maior parcela da população, são as mais afetadas. Para elas, o Natal será mais magro. Muitos não irão comprar presentes, e mesmo para aqueles que irão comprar, dizem que gastarão menos”, analisa Viviane Seda, coordenadora das Sondagens do FGV IBRE.

A melhora nas compras deste ano é impulsionada pelo avanço da vacinação e flexibilização das restrições, que ainda se fazia presente mais fortemente no ano passado. O indicador em 2021 alcançou os 60,1 pontos. Em 2020, foi de 40,7 pontos. Ainda que melhor do que o ano imediatamente anterior, no geral, a intenção de compra está num patamar abaixo aos vistos desde 2017.

De acordo com os dados da FGV, o indicador da intenção de compras no Natal foi puxado pelo crescimento da proporção de consumidores que pretendem aumentar o gasto com presentes, que saltou de 5,5% em 2020 para 15,4%, este ano. O preço médio dos presentes passou de R$ 104 para R$ 106, mantendo-se relativamente estável.

A variação, no entanto, segue uma tendência de concentração em determinados estratos. O maior avanço na intenção de compra foi entre os consumidores com renda de R$ 2,1 mil a R$ 4,8 mil, cujo preço médio subiu de R$ 70 (2020) para R$ 85. Já para os consumidores de renda mais baixa, o valor médio de presentes é o menor, cedendo para R$ 59 em 2021. 

As famílias com renda de até R$ 2,1 mil são as que vão comprar muito menos este ano. Ao todo, 46,3% delas. No caso das famílias com renda acima de R$ 9,6 mil, o percentual de quem vai comprar muito menos este ano é de apenas 16,1%. 

A intensificação da desigualdade, aguda no Natal, esteve presente no Brasil o ano todo. Levantamento da FGV Social com dados do Gallup World Poll já apontavam em outubro o cenário recorde de desigualdade no Brasil, pior do que em outros 40 países nesse quesito. E não foi apenas na renda que as pessoas mais pobres sentiram a diferença. A satisfação com saúde e educação, por exemplo, caiu 10,5% e 22%, respectivamente, entre os mais pobres. 

No quesito renda, no primeiro trimestre de 2021, a renda média per capita despencou e deixou clara a piora dos indicadores que medem a desigualdade. No menor nível da série histórica, a renda média per capita ficou em R$ 995, abaixo dos R$ 1 mil pela primeira vez. O resultado representa uma queda de 11,3% ante a renda média recorde de R$ 1.122 alcançada no primeiro trimestre de 2020.

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