Em um ano, fome chega a mais 14 milhões de brasileiros, e patamar de insegurança alimentar é o pior em duas décadas
2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil mostrou que só 4 em cada 10 domicílios conseguem manter acesso pleno à alimentação
O que há de mais básico para a subsistência humana não tem chegado a mais de 33,1 milhões de brasileiros em 2022. O 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado nesta quarta-feira (8), revelou que esse é o número de pessoas no País que não têm o que comer, e que mais da metade da população brasileira (58,7%) vive hoje em situação de insegurança alimentar.
A pesquisa, feita pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), afirmou que o País regrediu a um patamar equivalente ao da década de 1990. O levantamento anterior, de 2020, mostrava que a fome no Brasil tinha voltado para patamares equivalentes aos de 2004.
Ainda mostrou que, em 2022, só 4 em cada 10 domicílios conseguem manter acesso pleno à alimentação – ou seja, estão em condição de segurança alimentar. Os outros 6 lares se dividem numa escala, que vai dos que permanecem preocupados com a possibilidade de não ter alimentos no futuro até os que já passam fome.
Isso representa um aumento de 7,2% no número de brasileiros que passaram por algum grau de insegurança alimentar desde 2020, e de 60% em comparação com 2018.
O levantamento foi feito entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir da realização de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal. A Segurança Alimentar e a Insegurança Alimentar foram medidas, mais uma vez, pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), que também é utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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Para a rede PENSSAN, os números alarmantes desta segunda pesquisa se dão pela "continuidade do desmonte de políticas públicas, a piora no cenário econômico, o acirramento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia da Covid-19."
“A pandemia surge neste contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, aponta Ana Maria Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede PENSSAN.
Insegurança alimentar tem cor, gênero e localização
O inquérito reafirmou que, no Brasil, a insegurança alimentar tem cor, gênero e localização. Ela chega mais ao Norte e Nordeste, com números que chegam a 71,6% e 68%, acima da média nacional de 58,7%. A fome fez parte do dia a dia de 25,7% das famílias na região Norte e de 21% no Nordeste. A média nacional é de aproximadamente 15%, e, do Sul, de 10%.
A diferença também acontece entre áreas rurais, com insegurança alimentar em 60% das casas, e urbanas. A fome até mesmo atingiu 21,8% dos lares de lares de agricultores familiares e pequenos produtores.
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Em torno de 65% dos lares comandados por pessoas pretas ou pardas convivem com restrição de alimentos em algum nível. A fome saltou de 10,4% para 18,1% nestes lares entre 2020 e 2022. Nos lares chefiados por mulheres, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%.