POLÍTICA MONETÁRIA

Lula mantém BC no alvo mesmo com juro real menor do que nas suas demais gestões

Pela métrica dos juros reais "ex-ante", que descontam da Selic futura expectativa de inflação, a média dos juros reais sob Lula 1 foi de 19,4%

Publicado em 22/06/2024 às 19:03
Notícia

No radar de críticas do presidente Lula, os juros reais (descontada a inflação) no País hoje estão menores do que nos primeiros mandatos do atual governante petista. Com Campos Neto, presidente do Banco Central - autoridade monetária do País -, vindo ainda da gestão Bolsonaro, Lula tem endossado uma série de ataques ao BC, em virtude da política de manutenção do atual patamar da taxa básica de juros (Selic), num cenário de maior risco inflacionário e incerteza sobre a contenção de gastos por parte do governo. 

Pela métrica dos chamados juros reais “ex-ante”, que descontam da Selic futura as expectativas de inflação, a média dos juros reais no governo Lula 1 foi de 19,4%, caindo para 11,8% no segundo mandato de Lula, e agora está em 7,9%, segundo mostra o jornal Estado de São Paulo. 

Num compilado feito pela agência de classificação de risco Austin Rating, que mostra todo o período dos juros reais por essa métrica desde 1999, trimestre a trimestre, evidencia-se o alto patamar dos juros nos primeiros mandatos de Lula, influenciado pela vulnerabilidade externa que o País enfrentava naquele momento.

JUROS ALTOS NO BRASIL

À época, o Banco Central era comandado por Henrique Meirelles, indicado por Lula. O presidente manteve a política de superávits primários ao longo dos seus dois governos, conseguindo reduzir o endividamento do governo, além de ter dado autonomia na prática para o Banco Central perseguir a meta de inflação.

Atualmente, apesar da constatação em comparação a gestões de Lula, o juro real no Brasil está com valor inferior apenas ao da Rússia (8,91%), segundo o ranking elaborado pelo Portal MoneYou. Essa taxa é uma combinação da inflação projetada para os próximos 12 meses, de 3,96%, considerando dados do relatório Focus do BC, e dos juros de mercado de 12 meses à frente —utilizando o contrato de Depósito Interbancário. 

Calculada olhando para a expectativa futura, com base nas projeções para juros e inflação, o juro real “ex-ante” é relevante para a política monetária pois influencia decisões futuras de investimento e consumo da população.

ATAQUE A CAMPOS NETO

O presidente da República afirmou na última sexta-feira que o presidente do Banco Central é seu "adversário político" e o associou ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista à Rádio Mirante News, do Maranhão, Lula voltou a fazer críticas à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de interromper as quedas na taxa de juros e manter a Selic no patamar de 10,50%, apesar de o governo insistir que é necessário que a instituição baixe o porcentual.

"O presidente do Banco Central é um adversário político, ideológico e adversário do modelo de governança que nós fazemos. Ele foi indicado pelo governo anterior e faz questão de dar demonstração de que não está preocupado com a nossa governança", declarou Lula.

Ele relembrou que o mandato de Campos Neto se encerra em 2024 e que o governo poderá indicar um novo nome para o posto. "Nós estamos chegando no momento de trocar o presidente do Banco Central", destacou. "Eu acho que as coisas vão voltar à normalidade, porque o Brasil é um País de muita confiabilidade "

O presidente também voltou a dizer que "os bancos não querem emprestar dinheiro" e que "querem especular e ganhar com a taxa de juros". "O nervosismo especulativo que está acontecendo não vai mexer com a economia brasileira", acrescentou.

Lula já havia criticado a decisão do Banco Central em suas passagens por Piauí e Ceará, quando disse que a manutenção da Selic em 10,50% "foi uma pena" e que, com isso, "quem perde é o povo brasileiro".

Depois de sete quedas seguidas, o Copom do Banco Central interrompeu, em decisão unânime, o ciclo de cortes da taxa básica de juros, iniciado em agosto do ano passado, e manteve a Selic em 10,50% ao ano. O resultado, divulgado na quarta-feira (19), era amplamente esperado pelo mercado, em meio ao impasse do governo na condução da política fiscal e ao aumento das expectativas de inflação.

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