Refinaria Abreu e Lima não pode repetir, 10 anos depois, fantasma de aumento no preço da obra
Obras do trem 2 esperadas para começar no final de 2024 foram adiadas para 2025. TCU voltou a encontrar preços muito acima do orçamento da Petrobras
Não teve corte de fita. Nem cerimônia de inauguração. Nem discursos nacionalistas. Nem mãos manchadas de óleo em macacões laranja. Há dez anos, no dia 6 de dezembro de 2014, a Petrobras iniciava a produção de diesel da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) em silêncio. O que se esperava era uma grande festa para comemorar a conclusão da primeira unidade de refino do País, após um longo intervalo de 34 anos sem novos projetos, mas não tinha clima. A operação Lava Jato já havia estourado e a Rnest estava no centro de um dos maiores esquemas de corrupção do País.
Projetada para funcionar com Dois Trens (duas etapas), cada um com capacidade para processar 130 mil barris de petróleo por dia, a Rnest foi entregue apenas com o Trem 1. Ainda assim, ficou faltando construir a unidade de abatimento de gases do efeito estufa e, por isso, o Trem 1 só está autorizado a processar 100 mil bpd, quando o previsto seria 115 mil bpd. Mesmo com sua capacidade total de produção pela metade, a refinaria foi considerada a mais cara do mundo (para seu porte), com orçamento de US$ 18,8 bilhões.
PRORROGAÇÃO
Em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a Suape e visitou a Rnest prometendo concluir o Trem 1 e reiniciar e entregar a obra do Trem 2. A estimativa inicial é de um investimento de R$ 8 bilhões e previsão de início das obras para o último trimestre de 2024 e a operação para 2028. Recentemente, a Petrobras informou que a previsão inicial não deverá se concretizar.
Na terça-feira (12), a governadora de Pernambuco participou de reunião, no Rio de Janeiro, com a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e retornou com a informação de que a expectativa é que as obras do segundo trem comecem no primeiro semestre de 2025.
“Temos a expectativa de que no primeiro semestre do próximo ano as obras sejam iniciadas. Já estamos próximos, dialogando com a Petrobras sobre qualificação profissional e o papel do Governo do Estado, a exemplo da dragagem do porto interno e externo que era um compromisso do Governo de Pernambuco desde o início das obras do primeiro trem da Refinaria Abreu e Lima”, destaca Raquel Lyra.
MESMOS PROBLEMAS?
As obras da Rnest estão sendo acompanhadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou que as propostas foram "significativamente maiores que o orçamento de referência da Petrobras, inviabilizando, segundo o TCU, a contratação e colocando em risco a viabilidade econômica do projeto". Na prática o TCU está dizendo que a obra está ficando cara novamente.
Em nota à imprensa, a Petrobras reiterou que a licitação para a retomada da construção do Trem 2 da Rnest foi encerrada em função da não convergência das propostas ao orçamento. “A Petrobras reafirma seu compromisso com a transparência e a conformidade, além de valorizar a atuação do TCU, que contribui para a melhoria contínua de nossos processos”, disse a estatal.
Para os trabalhadores a retomada das obras da refinaria é aguardada com expectativa para turbinar as oportunidades de emprego na região do Complexo de Suape, como aconteceu até 2014. A previsão é que a ampliação e modernização da Rnest seja responsável pela abertura de 10 mil vagas.
10 ANOS DE HISTÓRIA
2005
O projeto da RNEST é anunciado com a presença dos presidentes Lula e Hugo Chávez.
2007
Chávez reclama do atraso no cronograma da obra.
2009
Dilma Roussef anuncia que a refinaria será inaugurada no primeiro semestre de 2011.
2010
O Tribunal de Contas da União (TCU) recomenda a paralisação das obras por encontrar indícios de sobrepreço.
2013
A Venezuela desiste da parceria com a Petrobras, sem ter investido um centavo sequer.
2014
A Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção na Petrobras, atingindo as obras da Rnest. A refinaria começa a funcionar parcialmente em dezembro de 2014.
2015
As obras da RNEST são paralisadas devido às investigações da Lava Jato.
2022
O ex-presidente Bolsonaro tentou vender a Rnest, mas não teve sucesso
2023
A Petrobras anuncia a retomada das obras da refinaria, com início de operação previsto para 2027
2024
O presidente Lula visita a refinaria para corroborar o anúncio de que as obras da refinaria serão retomadas, com investimento de R$ 8 bilhões