Futebol Internacional

Bérgamo, epicentro da covid-19 na Itália, tenta retomar vida com o futebol

A cidade italiana busca retomar rotina, após os vários casos da doença na região, se apoiando no ano histórico da Atalanta

AFP
Cadastrado por
AFP
Publicado em 20/06/2020 às 14:32 | Atualizado em 20/06/2020 às 15:14
Divulgação/Atalanta
O técnico da Atalanta revelou que teve covid-19 em março - FOTO: Divulgação/Atalanta

Uma das maiores vítimas da pandemia do coronavírus na Itália, Bérgamo é uma cidade mártir que tenta voltar a viver e que se reencontrará neste domingo com sua equipe de futebol, a Atalanta, que atravessa temporada histórica.

As imagens de dezenas de caixões reunidos na igreja do cemitério da cidade deram a volta ao mundo.

"Foram meses difíceis. Há um grande alívio agora. Voltamos a ter uma situação relativamente normal", explicou recentemente o prefeito da cidade, Giorgio Gori.

"Na província, houve 6.000 mortes a mais que o normal neste período, 670 em Bérgamo. O equivalente a 45.000 em Nova York", completou Gori.

Praticamente todos os habitantes perderam um amigo, um colega ou um vizinho durante a pandemia. E o duelo de ida das oitavas de final da Champions entre a Atalanta e o Valencia, em 19 de fevereiro, teve um papel-chave na epidemia.

Naquele dia, 45.792 espectadores assistiram à vitória da Atalanta por 4 a 1 no estádio San Siro, em Milão.

A cada gol, milhares de abraços nas arquibancadas e nos bares.

A ameaça do coronavírus ainda parecia longe, num momento em que não existia nenhum caso da doença na Itália.

Mas, a partir de 4 de março, a curva de contaminados em Bérgamo começou a subir drasticamente e a partida da Champions foi uma verdadeira "bomba biológica", segundo o relato de alguns especialistas.

Bomba biológica


Após a partida de volta, em 10 de março de Valencia, o técnico da Atalanta, Gian Piero Gasperini, prometeu uma "grande festa", só que "mais tarde". E o clube pediu aos torcedores que não se reunissem para celebrar a histórica classificação para as quartas de final da Champions. Naquele momento, o vírus já fazia um estrago na Itália.

Submetida, como o restante do país, a rigorosas medidas de confinamento por dois meses, Bérgamo começou a reviver a partir de 4 de maio.

Mas, na parte alta da cidade, onde costumam se reunir hordas de turistas, há pouca gente nas ruas.

"Em geral, servimos 150 mesas ao meio-dia e 50 à noite. Agora, com sorte, podemos chegar a 20 mesas no dia todo", relatou à AFP Marcello Menalli, proprietário do "Caffè del Tasso", um dos mais antigos restaurantes da Itália.

Neste domingo, o futebol permitirá a Bérgamo dar um passo a mais rumo à normalidade, quando a Atalanta receber o Sassuolo em sua primeira partida desde a suspensão do futebol, em 9 de março.

Quarto colocado no Campeonato Italiano, com chances de classificação para a próxima Champions, o clube vive sua melhor temporada na história.

"Quando penso nisso, me parece absurdo. Esta felicidade esportiva coincide com uma imensa dor na cidade", declarou Gasperini ao diário "La Gazzetta dello Sport".

Volta à normalidade

"Esta partida é uma pequena volta à normalidade. Mas, como já disseram jogadores e técnicos, pensaremos nos que viveram momentos difíceis", explicou à AFP Andrea Sigorini, torcedor da Atalanta de 36 anos.

"Temos vontade de ver a Atalanta voltar a jogar, devido ao nível que tinha, o que permitirá falar sobre outra coisa que não seja o coronavírus", continuou.

Esta opinião é compartilhada por Marino Lazzarini, membro do conselho de administração do clube e presidente da Amigos da Atalanta, associação que reúne 6.000 torcedores.

"Há uma vontade de ver futebol, mas sem esquecer dos que nos deixaram. Entre amigos e conhecidos, perdi 40 pessoas. O futebol ajuda, não a esquecer, mas sim a desfrutar um pouco", explicou este homem de 71 anos, que frequenta os jogos da Atalanta desde que tinha 4 anos de idade.

Capitão da equipe, o argentino "Papu" Gómez se mostrou favorável à volta do futebol, apesar da oposição de alguns grupos de torcedores.

"Há dois meses eu teria sido contra. Mas agora que há mais segurança, sou favorável. Bérgamo vive pelo futebol, respira futebol. Mas Bérgamo não esquecerá", explicou o jogador ao diário "Corriere dello Sport".

Os que aplaudem a volta do futebol, embora com portões fechados, querem descobrir o que o destino reserva para a Atalanta nesta incrível temporada.

"A parada chegou no momento mais bonito da temporada. Esperamos que o sonho possa voltar", declarou Andrea Siforini, enquanto que Lazzarini cita um "momento de apogeu".

A Atalanta tem a chance de brilhar ainda mais no cenário do futebol europeu, enquanto que Bérgamo tenta voltar a viver.

VEJA MAIS CONTEÚDO

Comentários

Últimas notícias