IVAN ROCHA
Há poucos dias me perguntaram quais seriam os desafios do cristianismo nos dias de hoje. Não tenho uma resposta completa ainda, mas certamente que um deles é aprender a amar, na prática. Segundo o Novo Testamento, mais importante do que os atos externos de religiosidade, do que uma pauta moral ou mesmo do que um padrão de comportamento, é a motivação do coração do cristão.
Jesus ensina que, mais do que o adultério consumado fisicamente, o cristão deve se importar com o adultério consumado no coração, pelo olhar e pelo pensamento (Mt 5:28). Paulo ensina que mais importante do que entregar os bens aos pobres, pregar ou ter fé, é fazer isso por causa e em função do amor (1Co 13)!
Há muitos que dizem que Deus é amor (na teoria) mas desfilam ódio nas redes sociais, nos púlpitos e nas conversas. Quando a igreja foi fundada por Jesus, no poder do Espírito Santo, os cristãos se reuniam para partir o pão, para orações e estudos “louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo” (Atos 2:47). Hoje infelizmente grande parte da igreja não conta com a simpatia do povo. Pelo contrário, a igreja tem rivalizado com o povo e conta com a sua antipatia.
Jesus foi chamado de “amigo dos pecadores” (Lc 7:31-34) mas temo que a igreja esteja se tornando inimiga de quem não está dentro dos seus muros. Paulo, ensinando sobre os requisitos para que alguém se torne um bispo, diz que ele deveria ter “um bom testemunho com os de fora” (1Tm 3:7) e eu temo que muitos líderes religiosos não atinjam esse critério.
Eu não defendo que os cristãos devam ser omissos. Há necessidade de sermos firmes, de defendermos a fé que abraçamos, de denunciarmos abusos e injustiças, e especialmente acredito que temos o dever de não negociar a fé e a Palavra de Deus. Naturalmente a pregação da Palavra de Deus ofenderá quem não crê! Ninguém gosta de ouvir que somos todos pecadores. Ninguém gosta de ouvir sobre inferno entre outros temas.
MOTIVADOS PELO AMOR
Mas se é verdade que devemos ser motivados pelo amor e que devemos cair na graça do povo e ter um bom testemunho dos de fora, só poderemos seguir pregando firmemente com lágrimas nos olhos, muita empatia e coração cheio de misericórdia! O meu amigo e pastor Marcondes Soares diz: “As pessoas não precisam concordar com a gente, mas elas precisam nos respeitar. Respeito se conquista com respeito e não com despeito!”
O desafio é amar de verdade, na prática. Tanto é assim que Joseph Aldrich disse: “Amizade é a chave da boa evangelização. Quem ganha almas é sábio.” Como convidar uma pessoa que está sendo sempre ofendida e desrespeitada a abraçar a nossa fé? Que essa reflexão inacabada nos ajude a olhar para dentro e avaliar a expressão prática da nossa fé e como ela tem se manifestado em amor, em dias de tanto ódio e polarização. Que o Senhor Jesus nos ajude. Amém!
Ivan Rocha é pastor da Igreja Episcopal Carismática do Brasil, Catedral da Reconciliação.