SHAVUOT – É Preciso Colher o Conhecimento e a Paz

No passado, no período bíblico, havia as assim chamadas, Festas de Peregrinação, quando todos que podiam, dirigiam-se a Jerusalém.

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Publicado em 16/06/2024 às 0:00
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JÁDER TACHLITSKY

No passado, no período bíblico, havia as assim chamadas, Festas de Peregrinação, quando todos que podiam, dirigiam-se a Jerusalém, ao Templo Sagrado, para levar suas oferendas.
A primeira era Pessach, a páscoa judaica, que celebrava a libertação da escravidão do Egito.
A segunda era Shavuot, que relembrava a chegada do povo hebreu ao Monte Sinai, onde Moisés recebera as Tábuas da Lei com o decálogo.
A terceira era Sucot, que demarcava os quarenta anos da vida no deserto até a chegada à Terra Prometida de Canaã.
Não há mais o Templo Sagrado, por duas vezes destruído: pelos babilônios, em 586 AC e pelos romanos, em 70 DC. Mas essas festividades continuaram sendo celebradas pelos judeus até os nossos dias.
Shavuot, acontece sete semanas após o início de Pessach.
Como é de praxe nas festividades judaicas, além de seu conteúdo religioso, Shavuot retrata o profundo vínculo do povo judeu com a Terra de Israel.
O período de sua comemoração coincide com a época da colheita do trigo.
Por isso, é também conhecida como Festa da Colheita (Chag Hakatzir), o que está registrado na história de Rute, jovem moabita que, assim como sua sogra, Noemi, ficara viúva. Quando do regresso de Noemi de Moab para Israel, Rute resolve acompanhá-la proclamando “Aonde fores, irei ..., o teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus.” Ambas eram muito pobres e Rute foi até a plantação de trigo de Boaz, um parente de seu marido, que desconhecia essa proximidade. Rute desfrutava da respiga, parte da colheita que propositalmente era deixada para os menos afortunados, seguindo as leis bíblicas que preconizavam o papel social da produção. Por fim Rute se casa com Boaz e reza a tradição que se tornou a bisavó do rei David.
A história de Rute ilustra bem um dos aspectos basilares do judaísmo. O compromisso com a justiça social e com a responsabilidade coletiva na construção de um mundo mais justo e inclusivo.
Shavuot também é conhecida como Festa das Primícias (Chag Habikurim).
Era costume na antiguidade que as pessoas levassem oferendas ao Templo Sagrado, representadas pelos primeiros frutos colhidos e pelos primeiros rebentos, entre os rebanhos.
Constituem símbolos da festividade as sete espécies vegetais bíblicas da Terra de Israel: trigo, cevada, uva, azeitona, tâmara, figo e romã.
Apesar da origem da festa estar ligada a um viés mais histórico e religioso, o movimento que forjou a criação do Estado de Israel fortaleceu a tradição do vínculo com a terra, particularmente a partir da criação dos kibutzim (comunidades socialistas) e moshavim (cooperativas), no futuro estado judeu.
É especialmente belo ver a mobilização dessas comunidades na celebração da festa, trazendo a público os frutos das colheitas, transportados em carros agrícolas, bem como acompanhar o desfile das mães com seus recém-nascidos.
Em Shavuot há a prática de uma virada cultural noturna nas sinagogas, abordando temas judaicos e assuntos contemporâneos.
A leitura dos Dez Mandamentos faz parte do ritual.
É importante refletir o quão revolucionárias foram essas leis em um passado tão remoto. Leis estas, que traziam uma nova perspectiva no relacionamento social, em uma época que predominava o arbítrio e o totalitarismo.
O costume nesse período de consumir laticínios deriva da compreensão de que assim como o leite nutre o nosso corpo, a Torá (parte mais sagrada da Bíblia judaica) nutre nosso espírito.
No calendário judaico, Shavuot é sempre comemorado em Israel no dia 6 do mês de Sivan. No restante do mundo é acrescido também o dia 7 do mesmo mês. Neste ano de 2024, pelo calendário gregoriano, iniciou ao anoitecer da terça, 11 de junho e se encerrou ao anoitecer da quinta, 13 de junho.
Que sempre as festividades inspirem os homens e as mulheres no caminho da paz e da concórdia. Shalom!
Jáder Tachlitsky é economista, professor de Cultura Judaica e História Judaica e coordenador de comunicação da Federação Israelita de Pernambuco.

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