TU BISHVAT – O "Ano -Novo das Árvores" no Calendário Judaico
Os judeus celebram o Tu Bishvat "Ano-Novo das Árvores" que traduz os conceitos bíblicos da Torá, responsabilidade em preservar o mundo em que vivemos

JÁDER TACHLITSKY
O judaísmo tem uma visão otimista do papel da humanidade neste mundo. Ele nos ensina e nos estimula a acreditar que não somos apenas frutos da criação divina, mas parceiros estabelecidos neste planeta para construir um mundo de paz, justiça e fraternidade.
Não acredita em determinismos naturais ou sociais. Crê no livre-arbítrio. Na nossa capacidade, como seres humanos, de refletir, de nos congregarmos e de nos associarmos na edificação daquilo que compreendemos ser o melhor.
Estamos agora celebrando a festividade de Tu Bishvat, o “Ano-Novo das Árvores”. Ela traduz os conceitos bíblicos, expressos na Torá, de nossa responsabilidade em preservar o mundo em que vivemos.
Neste ano, a festividade iniciou-se ao anoitecer da quarta-feira (12/02) e encerrou-se ao anoitecer da quinta-feira (13/02).
Há leis específicas sobre o descanso do solo, para restaurar seus nutrientes; sobre o plantio de árvores, excedendo aquelas que, porventura, tenham sido derrubadas; sobre o respeito aos animais, não permitindo o abuso sobre eles e garantindo-lhes o descanso, existente no sétimo dia, o Shabat, da mesma forma que é assegurado às pessoas.
Citando o rabino Jonathan Sacks “A lei judaica protege a posse, mas a distingue da propriedade. Todas as coisas pertencem de fato a D’us e, assim, sou apenas o fiel depositário do que possuo (...) Não há propriedade definitiva no judaísmo. O que temos, pertence a D’us. Somos meros guardiões legais. Daí vem a legislação ambiental judaica: não podemos destruir sem necessidade, mesmo as coisas que são nossas.”
Há milhares de anos já era parte essencial da perspectiva de vida judaica, o conceito de respeito à vida em todas as suas formas e a responsabilidade pela preservação do patrimônio ambiental no qual vivemos.
Do mesmo modo, há a responsabilidade sobre o direito à vida e a dignidade de todos os seres humanos, independentemente de sua origem, crença, convicções, dado que somos todos frutos da criação. Somos diferentes, frutos da diversidade, mas iguais em nossa humanidade.
Com a restauração da pátria judaica, em todo o seu processo, assumiu-se como um caráter prioritário o cuidado com a terra, com os parcos mananciais de água, com o florestamento de terras áridas.
Em 1901 foi fundado o Keren Kayemet leIsrael (Fundo Comunitário para Israel), talvez a primeira ONG ambiental do planeta, que vem cuidando desses aspectos primordiais da sustentabilidade.
Com o passar do tempo, o KKL assumiu essa responsabilidade não apenas com o Estado de Israel, mas compartilhando suas experiências inovadoras ao redor de nosso planeta.
Em quantos momentos da história o ser humano individual ou coletivamente se deixou tomar por sentimentos de intolerância, desrespeito, falta de empatia?
Como tudo isso se traduziu em discursos de ódio e implantação de ações e regimes de terror e matança, contrários a tudo o que representa a capacidade de integração entre indivíduos, culturas, povos e nações?
Neste Tu Bishvat, o Ano-Novo das Árvores, trazemos uma reflexão:
Vamos educar nossas crianças, no sentido da valorização da santidade da vida. De enxergar, em cada ser vivo, a maravilha da obra da criação. Ensinar-lhes o respeito à diversidade e a valorização de todos os seres humanos na riqueza de suas origens, culturas e sonhos.
Trabalhemos para lado a lado, irmãos e irmãs em humanidade, construirmos a sociedade que plantará árvores no solo e sementes de amor nos corações!
Essa é a grande colheita que desejamos.
Que no futuro possamos recordar não vidas ceifadas, mas florestas espalhadas no solo da comunhão universal!
Jàder Tachlitsky é economista, professor de Cultura Judaica e História Judaica, também coordenador de Comunicação da Federação Judaica de Pernambuco