Carnaval, alegria e reflexão
Ao contrário do frevo "Atrás do Trio Elétrico", de Caetano Veloso, não vão somente os "vivos" (encarnados), mas também os "vivos" desencarnados

JOSÉ EDSON FURTADO DE MENDONÇA
Carnaval, entrudo, ou entrada na Quaresma são termos referentes aos três dias (oficiais) de festas momescas que precedem a Quarta-Feira de Cinzas. Esse período de folia pagã é marcado pelo "adeus à carne", ou "carne nada vale", que originou o termo Carnavale, ou "Carnaval".
As origens das festividades do “Rei Momo” remontam aos primórdios da civilização greco-romana (com o Deus Dionísio e os Césares), quando os soberanos guerreiros antigos, se entregavam aos prazeres coletivos, comemorando suas vitórias com orgias e bacanais (de Baco) e as Saturnálias (do Rei Saturno), ocasiões em que se imolava uma vítima humana.
Consta igualmente que, o Carnaval foi adaptado pela Igreja Católica e desembarcou no Brasil no Séc. XVII, trazido por portugueses. A miscigenação da tradição europeia, com os ritmos musicais da África, criou no Brasil, um dos maiores espetáculos populares do mundo, impactando substancialmente a economia, em setores como turismo, lazer, entretenimento e negócios.
Outrossim, ao contrário do que afirma o frevo “Atrás do Trio Elétrico”, de Caetano Veloso, não vão somente os “vivos” (encarnados), como também os “vivos” (desencarnados) que participam em número muito maior, corroborando o que Paulo de Tarso afirma, em (Hb, 12:1), sobre a “nuvem de testemunhas”; o autor ressalta que essa massa de espíritos, ainda muito materializada, cresce sobremaneira nos dias de realização de festas pagãs, aproveitando-se do ambiente favorável de vibrações grosseiras provenientes de excessos deliberados.
Nesse contexto, no livro “Nas Fronteiras da Loucura”, o autor, Manoel Philomeno Miranda, relata episódios protagonizados pelo venerando Espírito Bezerra de Menezes, na condução de equipes espirituais socorristas junto a hordas de foliões, em grande desequilíbrio moral, durante o Carnaval carioca de 1982. Vale a pena conferir.
Por outro lado, é com muita saudade e alegria que lembramos momentos inesquecíveis dos dias de carnaval na nossa juventude dourada, quando participávamos de desfiles de carros (no corso), além de brincar em clubes também e, apreciávamos memoráveis blocos carnavalescos puxados por animados foliões envergando fantasias originais e criativas exaltando a coreografia com danças tradicionais, os maracatus, os caboclinhos, os caboclos de lança e tantos outros folguedos que emprestavam um colorido todo especial enchendo as ruas, avenidas, praças, praias e clubes sociais; com seus encantadores desfiles, o povo realmente se esbaldava, caía na folia, improvisando e usando mil modos de fantasias, disfarces, máscaras, pinturas embriagando-se de uma alegria contagiante, vibrando de contentamento e autêntico divertimento saudável juntamente com seus familiares e amigos que brincavam ao som de orquestras, bandas, charangas improvisadas, memoráveis canções entoadas por com um coro de foliões a se confraternizarem evocando temas e memórias inesquecíveis do riquíssimo folclore popular brasileiro e africano refletindo magnificamente a diversidade cultural do patrimônio imaterial da humanidade. Que belos tempos, que belos dias que não voltam mais!
No entanto, em tempos mais recentes, diante de grandes e complexas mudanças sociais da modernidade, aquelas festividades, como outras, foram perdendo a sua originalidade e propósito ao assumirem um caráter de exploração mercantilista contextualizado por tristes eventos de violências, desregramentos, desestruturações várias que implicaram em uma forte modificação da forma de participação nos eventos populares, notadamente no que se refere à segurança e bem-estar da população como um todo. Desse modo, muitas pessoas optaram por se resguardar durante os feriados prolongados, aproveitando-os para viajar, descansar, curtir outras opções.
Finalizando, é oportuno lembrar que tais intervalos na rotina normal das atividades laborais da vida podem ser bem aproveitados, respeitando a decisão de cada um, como ótima oportunidade de cuidar do seu crescimento intelectual-moral, lendo uma obra edificante, praticando meditação para aprimorar o autoconhecimento, o trabalho no bem, as relações interpessoais e a conexão com o Pai Celestial. Tenhamos todos um excelente período de Momo!
José Edson F. Mendonça presta colaboração ao movimento espírita, como escritor, palestrante e diretor do Instituto Espírita Gabriel Delanne, rua São Caetano, 220, Campo Grande - Recife/PE