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O Seminário de Olinda

O Seminário de Olinda era o cérebro da época colonial e lá foram forjados os homens destemidos que não envergaram a coluna para ninguém

Por JC Publicado em 23/03/2025 às 0:00


PADRE BIU DE ARRUDA

Neste ano de 2025, o Seminário de Olinda completou 225 anos, conscientizando e formando gerações. Antes de parabenizar o ilustre desconhecido da maioria do povo, é preciso contextualizar um pouco a história, visto que tudo teve início em 1551, com a chegada de Duarte Coelho, primeiro donatário da Capitania Pernambucana; e depois, a vinda dos jesuítas.


Naquele longínquo tempo, onde o credo cristão católico foi anunciado sob a maternal proteção da Mãe da Graça, padroeira do Seminário de Olinda. Imagem que ainda hoje pode ser vista na casa de formação; doação de Duarte Coelho para a primeira ermida de pau a pique. A partir daquele tempo, foi fundado o primeiro Colégio do Norte e Nordeste do Brasil, com o apanágio e o zelo dos jesuítas. Tudo florescia. Havia preocupação em falar de Deus para os silvícolas. E assim, despontava na alta colina olindense, uma nova história, que anos mais tarde, sofreu com o ataque dos calvinistas holandeses, e também, com a perversa ação pombalina.


Diante desse pequeno esboço histórico, voltar-se-á o olhar para a Casa de Heróis, como é conhecido o Seminário de Olinda. Foi, justamente, em 1800, com a chegada de Dom José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho às plagas pernambucanas, que foi fundado o Seminário de Olinda. Antes, Colégio Real dos Jesuítas, e, por doação régia, agora propriedade da Diocese de Olinda. O novo bispo que veio de Portugal, com olhar aquilino e ideais renovadores, implanta em Olinda, um incipiente estilo de formação, que foi um divisor de águas. Sem olvidar, que recebeu também o ônus de governar a Capitania.


Por ser um bispo devotado à formação acadêmica, escolheu os professores pela meritocracia. Para tanto, basta lembrar que o professor de Geometria, padre João Ribeiro, com habilidade ímpar, idealizou e desenhou a bandeira pernambucana; apenas para citar um talento da época que lecionava no Seminário de Olinda.


O Seminário de Olinda era o cérebro pensante da época colonial. Lá, foram forjados os homens destemidos que não envergaram a coluna para ninguém. Sob os umbrais daquela casa, passaram figuras exponenciais, que não contaram histórias; pelo contrário, fizeram a história para a posteridade proclamar. Naquele espaço carcomido pelo tempo, mas que não se rendeu aos furiosos ataques inimigos, conviveram em harmonia e com desejos libertários, muitos homens de fé e de coragem inabaláveis, encontrando na formação acadêmica e espiritual o estímulo contumaz para a liberdade. E “pela liberdade, assim como pela honra, pode-se e deve-se arriscar a vida”, parafraseando Miguel de Cervantes.

O Seminário de Olinda era o farol onde as mentes humanas eram cada vez mais alumiadas, pois, naquele ambiente, fervilhava os ideais libertários, contagiando os que lá moravam. E, por causa de homens destemidos e com fé inquebrantável pela liberdade, Pernambuco deixou de ser quintal da Coroa por mais de 70 dias, se tornando uma República, com governo autônomo; uma nação livre, independente. E lembrar que tudo isso foi idealizado e executado no Seminário de Olinda, puxa vida, que bravos guerreiros!


Foi nesta atmosfera que eclodiu a tão conhecida e destemida Revolução dos Padres de 1817, que teve como exímios pensadores, padre Roma, padre Miguelinho, padre João Ribeiro, padre Mororó, padre Venâncio e tantos outros; sem esquecer, é claro, o destemido Frei Caneca, que, embora tenha sido preso, não baixou a guarda antes de tombar diante de um público dividido, em 1824. Para o povo, um herói, para a Coroa, um agitador.


Por isso, não foi à toa que, para alguns, o Seminário de Olinda chegou a ser comparado a uma Nova Coimbra. Daí, depreende-se o seu valor, a sua importância para a história pernambucana. Sem esquecer que, antes do Grito do Ipiranga, Pernambuco saiu na frente, por causa do destemor e desejo pela liberdade, daqueles que queriam um povo livre das amarras da Coroa. Viva o Seminário de Olinda!

Pe. Biu de Arruda – é da Arquidiocese de Olinda e Recife e Pároco da Paróquia de Santa Luzia na Estância

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