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Jornal francês diz que Bolsonaro provoca 'caos na saúde e semeia a morte' durante crise do coronavírus

Publicação francesa afirma que presidente brasileiro faz 'cálculo político insensato' ao defender a manutenção da atividade econômica a qualquer custo

Gabriela Carvalho
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Gabriela Carvalho
Publicado em 19/05/2020 às 9:58 | Atualizado em 19/05/2020 às 10:20
Reprodução/Le Monde
Jornal francês Le Monde teceu críticas ao presidente Jair Bolsonaro por postura durante a pandemia do coronavírus - FOTO: Reprodução/Le Monde

Um dos mais famosos e tradicionais jornais da França, "Le Monde", publicou um editorial em seu site e jornal nesta segunda-feira (18) afirmando que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nega a "catástrofe" referente ao coronavírus e conduz o país em uma via "extremamente perigosa". Segundo o diário, a postura de Bolsonaro "causa caos na saúde e semeia a morte".

O "editorial" é o nome dado ao artigo que representa a opinião do veículo de comunicação que o publica.

A publicação francesa começa com a afirmação: “Não há dúvida de que há algo podre no reino do Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro, pode afirmar sem se preocupar que o coronavírus é uma 'gripezinha' ou uma 'histeria' nascida da 'imaginação' da imprensa”, diz.

“Oficial subalterno expulso do exército e um obscuro deputado de extrema-direita, zombado por seus pares por três décadas, Bolsonaro não tinha nada de um estadista. Chegando ao poder, consumido pela amargura e pela nostalgia, o ex-capitão da reserva continuou a acusar o odiado ‘sistema’. Postura que, durante um período de pandemia aguda, causa caos na saúde e semeia a morte”, diz o texto.

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“Le Monde” opina que há “algo de podre” no país quando:

- Bolsonaro participa de aglomerações e clama as autoridades locais a abandonar as restrições impostas para contenção da expansão da pandemia em um momento em que “os cemitérios do país registram um número recorde de enterros”.

- O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se refere ao novo coronavírus como “comunavírus”, ao afirmar que a pandemia é resultado de “um complô comunista”.

- O ministro da saúde Nelson Teich deixa o cargo quatro semanas após sua nomeação por “divergências de pontos de vista”, no dia em que o país chegou a 240 mil casos confirmados e mais de 16 mil mortos.

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De acordo com o diário francês, “para muitos, as horas sombrias que o Brasil atravessa lembram as da ditadura militar, quando o país foi submetido ao medo e à arbitrariedade”.

“O Brasil de Bolsonaro habita um mundo paralelo, um teatro do absurdo onde fatos e realidade não existem mais. Nesse universo sob tensão, nutrido por calúnias, incoerências e provocações mortíferas, a opinião é polarizada em uma nuvem espessa de ideias simples, mas falsas”.

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O texto afirma que a negação da gravidade da pandemia faz com que metade da população não leve em consideração os apelos dos profissionais da saúde, dos governadores e dos prefeitos para que mantenham o distanciamento social.

O jornal diz que Bolsonaro defende que a atividade econômica deve continuar a todo custo fazendo um “cálculo político insensato” de que “os feitos devastadores da crise serão atribuídos aos seus opositores”.

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“Nesse país, que saiu há apenas 25 anos da ditadura, onde a democracia segue frágil e até disfuncional, o fato de politizar dessa maneira uma crise de saúde é totalmente irresponsável”, segundo o "Le Monde".

 

 

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