Beirute

Libaneses temem falta de pão depois da tragédia do porto de Beirute

A destruição do porto da capital libanesa limitou ainda mais o acesso à comida importada pelo país, como o trigo necessário para a produção de pão

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Publicado em 07/08/2020 às 10:50 | Atualizado em 07/08/2020 às 10:59
IBRAHIM AMRO / AFP
As explosões aconteceram nesta terça-feira (4), na região portuária de Beirute, no Líbano. - FOTO: IBRAHIM AMRO / AFP

O trigo está espalhado pelo chão, misturado às cinzas, escombros e cimento. A explosão do porto de Beirute afetou os maiores silos de armazenamento de cereais do Líbano, provocando o pânico entre a população pelo medo de escassez de pão.

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A destruição do porto da capital libanesa limitou ainda mais o acesso à comida em um país que importa 85% de seus alimentos, como o trigo necessário para a produção de pão, um alimento imprescindível na dieta libanesa e que atualmente é vendido com preço subsidiado de 2.000 libras libanesas (1,20 euro) o pacote de 900 gramas.

"Quando vimos os silos, entramos em pânico", admite Ghasan Bu Habib, presidente da rede de padarias Wooden Bakery.

Quase 15.000 toneladas de trigo, milho e cevada armazenadas em silos antiquados, de mais de 50 anos, foram destruídos na gigantesca explosão, assim como uma fábrica de farinha que ficava ao lado.

Os libaneses temem que a destruição dos silos, com capacidade para armazenar 120.000 toneladas, acentue a escassez de trigo no Líbano, que já era grave pela profunda crise econômica no país. 

 

As importações foram reduzidas nos últimos meses pela falta de liquidez e as restrições bancárias.

As atividades nos contêineres de cereais já havia diminuído 45% no primeiro semestre de 2020 na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com o Blominvest Bank, enquanto os preços aumentaram de maneira expressiva devido à desvalorização da libra libanesa.

"Já tínhamos dificuldades com a pouca farinha e trigo disponíveis", reconhece Ghasan Bu Habib. "As fábricas de farinha não tinham o trigo ou combustível necessários para funcionar", explica o presidente da Wooden Bakery: as 50 unidades da rede recebiam apenas dois terços da farinha necessária por dia.

Após a explosão, o medo tomou conta dos habitantes de Beirute e centenas de pessoas correram para uma padaria no bairro comercial de Hamra, onde compraram cinco pães ao invés de apenas um pelo temor de uma eventual escassez, afirma Haidar Mussaui, funcionário do estabelecimento.

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"O pão é a única coisa que pode saciar os pobres, já que não podemos sentar para comer um bife com faca e garfo", lamenta.

Os gerentes da padaria tentaram acalmar os libaneses assegurando uma reserva de trigo suficiente para um mês e que novas importações devem chegar esta semana aos portos de de Trípoli (norte) e Saida (sul), menores que o de Beirute.

"Nada é comparável ao porto de Beirute, onde cargas de cereais desembarcavam as 24 horas do dia", recorda Musa Khury, empresário agrícola que administrou um armazém de cereais em Beirute entre 2014 e 2017.

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) também afirmou que teme "a curto prazo um problema de abastecimento de farinha".

"Já enfrentamos a COVID-19 e a crise econômica, agora esta catástrofe", lamenta Suha Zeaiter, diretora executiva do banco de alimentos libanês que organiza programas de distribuição de alimentos para as famílias pobres.


 

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