O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou na quinta-feira (27) Joe Biden, seu rival democrata na disputa pela reeleição, ao aceitar formalmente a indicação republicana no encerramento da Convenção Nacional do Partido Republicano. O discurso confrontativo abriu a corrida pela Casa Branca, com as eleições americanas marcadas para novembro.
Trump voltou a combinar patriotismo e retórica antissocialista para traçar um apocalipse caso Biden, que chama de "marionete da esquerda radical", chegue ao poder em 3 de novembro.
"Esta eleição decidirá se salvamos o sonho americano ou se permitimos que uma agenda socialista derrube nosso precioso destino", disse o presidente, ao lado de bandeiras americanas em um imponente palanque montado nos jardins da Casa Branca.
"Biden é fraco", declarou a respeito do ex-vice-presidente de Barack Obama. "Não é o salvador da alma dos Estados Unidos (...) e se tiver a oportunidade, ele será o destruidor da grandeza americana".
A segunda indicação do magnata republicano, de 74 anos, acontece em um cenário de crise de saúde, econômica e social sem precedentes, com quase 180.000 mortes provocadas pela covid-19, taxa de 10,2% de desemprego e grandes manifestações contra o racismo e a brutalidade policial.
Mas, em desvantagem nas pesquisas, Trump se apresentou como o único líder capaz de velar pelos americanos. "Ninguém estará a salvo nos Estados Unidos de Biden", completou.
Trump também prometeu "acabar" com o coronavírus com uma vacina até o fim do ano. "Produziremos uma vacina até o fim do ano, talvez antes", disse. "Derrotaremos o vírus, acabaremos com a pandemia e sairemos mais fortes do que nunca".
Um total de 58,2% dos americanos não aprovam a gestão de Trump na pandemia, de acordo com o site FiveThirtyEight.com.
A covid-19 quase não foi citada na convenção, exceto nas palavras de compaixão da primeira-dama, Melania, que reconheceu na terça-feira o impacto do "inimigo invisível" e a dor e angústia provocadas.
A outra voz que expressou a preocupação do presidente com a covid-19 foi a sua filha mais velha e assessora, Ivanka, que na quinta-feira apresentou o pai em um discurso repleto de elogios no qual pediu "mais quatro anos". "Com um coração repleto de gratidão e otimismo ilimitado" com a candidatura, o presidente encerrou uma Convenção Nacional Republicana celebrada em grande parte em formato virtual, mas que em nenhum momento deixou de ser um espetáculo sobre Trump.
Fogos de artifício e as estrofes da Ave Maria finalizaram o evento, marcado por quatro dias de elogios a Trump como um virtuoso da economia, defensor da vida e de Deus, além de firme na aplicação da lei.
Mas enquanto o presidente era a aplaudido em um ambiente de gala, sem distanciamento social ou máscaras, era possível ouvir o som dos manifestantes do movimento "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam), reunidos diante da Casa Branca para expressar revolta e pedir a saída de Trump.
Trump fez uma entrada triunfal, ao lado da primeira-dama, diante de mais de mil convidados e dois telões.
O cenário, que gerou críticas por confundir os limites tradicionalmente respeitados entre as funções do presidente e as ações do candidato, contrastou com os protestos que abalaram várias cidades americanas durante a semana.
Abaladas por atos de violência, as manifestações têm como alvo Kenosha, uma pequena cidade de Wisconsin, onde no domingo um policial branco atirou pelas costas em um jovem negro, Jacob Blake. Na quarta-feira, um adolescente branco, supostamente partidário de Trump, foi detido sob a suspeita de matar duas pessoas e ferir gravemente uma terceira durante confrontos na noite anterior. "Senhor presidente, faça com que nos sintamos seguros de novo", afirmou o ex-prefeito Nova York e assessor de Trump, Rudy Giuliani, em um discurso.
Biden respondeu no Twitter às críticas de Trump. "Recordem: todos os exemplos de violência que Donald Trump denuncia aconteceram durante seu mandato. Sob sua liderança. Durante sua presidência".
O candidato democrata criticou o que considera uma exploração cínica de eventos trágicos por parte do presidente. "Ao invés de tentar acalmar as águas, joga lenha na fogueira. A violência não é um problema para ele, é uma estratégia política", afirmou em um discurso mais cedo.
A candidata a vice de Biden, Kamala Harris, criticou o presidente por não ter cumprido o dever de proteger os americanos. Ela disse que "sempre defenderá" os manifestantes pacíficos, mas não os que "saqueiam e cometem atos de violência". Também advertiu contra quem deseja fazer justiça com as próprias mãos, uma referência velada ao adolescente detido.