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Afeganistão: relação forte, porém mais discreta entre talibãs e Al-Qaeda

"O que está acontecendo no Afeganistão é uma clara e contundente vitória da Al-Qaeda", afirmou Colin Clarke, diretor de pesquisas do Centro Soufan

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AFP

Publicado em 16/08/2021 às 11:41
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Os talibãs foram expulsos do poder há 20 anos por permitirem que a Al-Qaeda organizasse os atentados de 11 de setembro. Agora, os insurgentes, de volta ao poder em Cabul, devem adotar mais prudência, embora seus vínculos com o grupo extremista possam continuar fortes.

 

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Quando negociaram com Washington, os talibãs prometeram que não protegeriam os combatentes da Al-Qaeda, fundada por Osama Bin Laden e responsável pelos mais graves atentados já executados contra os Estados Unidos.

 

Mas esta promessa não convence ninguém.

"Os talibãs nunca foram sinceros sobre a ruptura de suas relações com a Al-Qaeda e nunca deveríamos ter acreditado neles", afirmou Michael Rubin, ex-funcionário do Pentágono e pesquisador do conservador American Enterprise Institute (AEI).

"Não estamos falando de dois grupos militares que cortam suas relações, e sim de irmãos ou primos", disse.

"A presença dos Estados Unidos e da Otan impediu que a Al-Qaeda utilizasse o Afeganistão como um santuário. Não podiam operar livremente. Agora, todas as apostas estão abertas", completou em uma entrevista à AFP.

As relações entre os dois braços do islamismo ultrarradical são muito próximas em vários aspectos. Os pais de Sirajudin Haqani e do mulá Yaqubi, ambos altos dirigentes talibãs, estavam vinculados a Bin Laden. O líder talibã Haibatullah Akhundzada foi elogiado como "emir dos fiéis" pelo líder da Al-Qaeda, Ayman al Zawahiri, quando foi nomeado em 2016.

Edmund Fitton-Brown, coordenador da equipe da ONU responsável por monitorar o grupo Estado Islâmico, a Al-Qaeda e os talibãs, afirmou em fevereiro em uma entrevista ao canal americano NBC acreditar que a direção da Al-Qaeda seguia "sob a proteção" dos talibãs.

Mas a natureza precisa de seus vínculos ainda deve ser definida. Os talibãs não podem permitir-se cometer o mesmo erro que há 20 anos, sob risco de violentas represálias ocidentais, ou inclusive de isolamento da China ou Rússia, que muitos acreditam que reconhecerão rapidamente o novo regime.

O grupo fundado por Bin Laden também mudou profundamente nas últimas duas décadas. Com um funcionamento decentralizado, a Al-Qaeda chegou vários países do mundo, do continente africano ao sudeste da Ásia, passando pelo Oriente Médio.

E, apesar do enfraquecimento de seu órgão central, o grupo ganhou agilidade e resistência.

Sua presença no Afeganistão será mais clandestina, menos oficial, prevê Aymenn Jawad Al-Tamimi, pesquisador do programa sobre extremismo da Universidade George Washington. "Não acredito que os talibãs permitam que abram campos de treinamento que possam ser detectados a partir do exterior e bombardeados", afirmou.

Os novos governantes de Cabul podem tentar adotar uma política similar a que se acusa Teerã, ou seja, "manter os líderes da Al-Qaeda sob prisão domiciliar, enquanto possibilitam margem de manobra para que se comuniquem com seus afiliados no exterior".

No mínimo, a velocidade com que acabaram com o governo anterior demonstra sua força ante o regime, assim como os erros de interpretação dos países ocidentais a respeito dos acontecimentos.

"Observe o que a CIA ignorou: os talibãs começaram a negociar com os líderes locais para conseguirem sua deserção e... eles se mobilizaram por todo o país para se prepararem para ataques em cada capital de província", disse Michael Rubin.

Uma nova situação deve se impor em todo o país. O grupo responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001 pode sonhar agora com reconstituição.

"O que está acontecendo no Afeganistão é uma clara e contundente vitória da Al-Qaeda", afirmou Colin Clarke, diretor de pesquisas do Centro Soufan, com sede em Nova York. "É um evento que poderá utilizar para atrair novos recrutas e criar um impulso que não consegue desde a morte de Bin Laden em 2011.

 

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