CONFLITO NA EUROPA

Guerra na Ucrânia provoca maior êxodo interno na Europa em 20 anos

Relatório do Pentágono indica que a invasão russa na Ucrânia poderia levar quase 5 milhões de pessoas a deixar o país

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Estadão Conteúdo

Publicado em 27/02/2022 às 17:41
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A professora Mariia Fediaieva, de 34 anos, deixou pai e mãe na bombardeada cidade ucraniana de Kherson. Foi um pedido desesperado dos pais. "Precisei fugir sozinha. Meu pai tem problemas nos joelhos e não consegue andar. Minha mãe ficou para cuidar dele. Só posso rezar para que sobrevivam", disse ao Estadão, em uma viagem de 24 horas de trem de Kiev a Varsóvia. "O centro da cidade em que eu cresci está destruído. Um pouco de mim já morreu nesta guerra", acrescentou, com a voz chorosa.

Mariia é uma entre milhares de refugiados que tornam a guerra da Rússia com a Ucrânia o estopim do maior êxodo de refugiados desde os conflitos nos Bálcãs, no fim dos anos 1990. A última vez que um enfrentamento interno na Europa provocou tamanha onda de refugiados foi em 1999, no Kosovo, com a fuga de 1,5 milhão de pessoas. Um relatório do Pentágono indica que a invasão russa na Ucrânia poderia levar quase 5 milhões de pessoas a deixar o país: a maior crise humanitária no continente desde a 2.ª Guerra. Segundo a ONU, em apenas três dias de conflito, mais de 150 mil pessoas já deixaram a Ucrânia.

A nova legião de ucranianos em rota de fuga busca abrigo nos países vizinhos. Um dos principais destinos é a Polônia, para onde partem trens abarrotados de Kiev em direção a Varsóvia, capital polonesa. O Estadão acompanhou a viagem no comboio que partiu da capital ucraniana na noite de sexta-feira. Mulheres sem maridos, filhos sem pais e o medo dos próximos dias tomaram conta do trem rumo a Varsóvia. O cerco dos russos a Kiev ampliou a fuga em massa de cidadãos em busca de segurança. Houve quem deixasse a capital apenas com a roupa do corpo.

PARTIDA. Ainda nas plataformas da estação de Kiev, uma multidão corria em direção aos trens, deixando suas casas às pressas. Quem não conseguiu entrar nos vagões, gritou e implorou. Com o espaço aéreo fechado e as rotas de trens cada vez mais escassas, havia o receio de que as opções de fuga escasseariam.

O maquinista precisou gritar para controlar a quem tentava entrar pelas janelas. O desespero generalizado e o empurra-empurra assustavam as crianças de colo, que começaram a chorar.
Famílias separadas pela falta de vagas dividiram os alimentos: um tanto para quem vai, outro tanto para quem fica. A baixa oferta de comida em Kiev já é uma realidade. Os centros de compras e os hotéis foram abandonados pelos funcionários. Quem fica se prepara para falta de energia e água.

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