Relatório

Cresce o número de jornalistas mortos e detidos no mundo, denuncia RSF

As Américas formam a região mais perigosa do mundo para a imprensa, segundo o relatório

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Publicado em 14/12/2022 às 8:01 | Atualizado em 14/12/2022 às 8:03
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O jornalista Dom Phillips foi morto na Amazônia - FOTO: @DOMPHILLIPS VIA TWITTER
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O número de jornalistas detidos no mundo registrou um novo recorde em 2022, com 533, afirma o relatório anual da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgado nesta quarta-feira (14).

O número de jornalistas assassinados (57) também aumentou, em particular devido à guerra na Ucrânia, depois de registrar números "historicamente baixos" em 2021 (48) e 2020 (50).

O relatório afirma que 11 repórteres foram assassinados no México, 20% do total, seis no Haiti e três no Brasil.

Os crimes, afirma a RSF, "transformaram as Américas na região mais perigosa do mundo para a imprensa, com quase metade (47,4%) dos jornalistas assassinados no mundo em 2022".

Mais da metade dos profissionais de imprensa detidos no mundo até 1º de dezembro estavam em cinco países: China (110), Mianmar (62), Irã (47), Vietnã (39) e Belarus (31).

O Irã é o único país que não estava nesta "lista sombria" em 2021, destaca a ONG, que publica o relatório anual desde 1995.

A República Islâmica prendeu um número "sem precedentes" de jornalistas em 20 anos, desde o início do movimento de protestos em setembro após a morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini.

A jovem de 22 anos morreu depois de ter sido detida pela polícia da moralidade por supostamente ter violado o rígido código de vestimenta para mulheres no Irã, que exige o uso do véu.

Trinta e quatro jornalistas foram detidos e se uniram aos 13 que já estavam detidos antes do início dos protestos.

"Os regimes ditatoriais e autoritários estão enchendo suas prisões com jornalistas mais rápido do que nunca", afirmou Christophe Deloire, secretário-geral da organização de defesa da liberdade de imprensa.

"Solidariedade"

"Este novo recorde no número de jornalistas detidos confirma a necessidade urgente de resistir a estes governos sem escrúpulos e estender nossa solidariedade ativa a todos aqueles que personificam o ideal de liberdade, independência e pluralismo no jornalismo"< acrescentou Deloire.

A RSF também destacou o número recorde de mulheres jornalistas detidas, 78, muito superior às 60 do ano passado.

"As jornalistas representam agora mais de 15% dos detidos, contra menos de 7% há cinco anos", afirma a RSF.

A organização citou os casos das iranianas Nilufar Hamedi e Elahe Mohammadi, duas das 15 jornalistas detidas durante os protestos, que fizeram reportagens sobre a morte de Amini e agora podem ser condenadas à pena de morte.

"É indicativo do desejo das autoridades iranianas de sistematicamente silenciar as mulheres", afirma a RSF.

A organização concedeu na segunda-feira o Prêmio de Coragem a uma delas, Narges Mohammadi, que foi detida várias vezes na última década.

Quase 75% dos jornalistas detidos estão na Ásia e Oriente Médio, informa a RSF, que destaca o aumento da repressão na Rússia após a invasão da Ucrânia.

Dom Phillips

CARL DE SOUZA / AFP
Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos no Brasil - CARL DE SOUZA / AFP

O jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira foram mortos a tiros na manhã do dia 5 de junho, durante uma expedição pelo Vale do Javari, e tiveram seus corpos queimados e enterrados.

Seus cadáveres só foram encontrados dez dias depois, após o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, indicar o local. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a área em que a dupla navegava é "palco de disputa entre facções criminosas que se destacam pela sobreposição de crimes ambientais, que vão do desmatamento e garimpo ilegal a ações relacionadas ao tráfico de drogas e de armas".

Dom era correspondente do jornal The Guardian. Britânico, ele veio para o Brasil em 2007 e viajava frequentemente para a Amazônia para relatar a crise ambiental e suas consequências para as comunidades indígenas e suas terras.

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