Presidente do Peru descarta renúncia e insiste que Congresso antecipe eleições

Dina Boluarte, garantiu que não vai renunciar diante dos protestos violentos desatados após a destituição de seu antecessor, Pedro Castillo
Filipe Farias
Publicado em 18/12/2022 às 17:10
Presidente do Peru, Dina Boluarte, vai enviar ao congresso pedido de antecipação das eleições Foto: LUIS IPARRAGUIRE/AFP


Da AFP

A presidente do Peru, Dina Boluarte, garantiu que não vai renunciar diante dos protestos violentos desatados após a destituição de seu antecessor, Pedro Castillo, e insiste que o Congresso deve antecipar as eleições, e o papa Francisco pediu diálogo neste domingo (18) para superar a crise.

Ao lado de seus ministros e dos chefes das Forças Armadas e da polícia, Boluarte ofereceu uma entrevisSEGta coletiva para explicar as ações de seu governo para enfrentar as manifestações iniciadas em 7 de dezembro.

"O que se resolve com a minha renúncia? Aqui vamos permanecer, firmes, até que o Congresso resolva a antecipação das eleições [...] Exijo que se reconsidere a votação" de sexta-feira, quando o Parlamento votou contra adiantar o pleito de 2026 para 2023.

O presidente do Congresso, José Williams, detalhou que a votação está pendente de reconsideração em uma sessão futura. Segundo pesquisas recentes, 83% da população considera que adiantar as eleições é a saída para a crise.

Segundo a Defensoria do Povo, os protestos deixam 19 mortos e 569 feridos em confrontos com as forças de segurança.

Em alguns casos, como em Ayacucho (sul), as mortes ocorreram após enfrentamentos com militares, que foram autorizados a atuar na segurança pública como parte da instalação de um estado de emergência.

A Defensoria pediu uma investigação criminal devido aos relatos de disparos diretos contra o corpo por parte de militares. Entre as vítimas há menores de idade.

Na oração do Angelus deste domingo, o papa Francisco rezou pelo Peru para que "cesse a violência" e "se empreenda o caminho do diálogo para superar a crise política e social que afeta a população".

Calma e diálogo

As manifestações - mais intensas na região sul dos Andes peruanos, assolada pela pobreza e com demandas sociais represadas - exigem a libertação de Castillo, a renúncia de Boluarte, o fechamento do Parlamento e eleições gerais imediatas.

"Só vamos conseguir trabalhar com calma, cordialidade e diálogo sincero e aberto [...] Como vamos brigar entre nós peruanos, arruinar nossas instituições, bloquear estradas?", considerou a presidente, que é natural de Apurímac e difundiu parte de sua mensagem em quíchua, idioma falado por parte importante dos habitantes andinos do país.

Ela também explicou que a presença das Forças Armadas nas ruas é para "cuidar e proteger" os cidadãos, "porque esta situação [protestos] estava ficando fora de controle" com a presença de "grupos violentos".

"Estes grupos não surgiram da noite para o dia, estavam organizados taticamente para bloquear rodovias", acrescentou.

Além disso, a governante, que está no cargo há dez dias, também anunciou a recomposição de seu gabinete de ministros. Dois deles renunciaram em reprovação às mortes de manifestantes.

Boluarte, a primeira mulher a assumir a presidência no Peru, um país conservador, considerou que seu governo é de "transição" e que as críticas podem ter conotação machista.

Protestos perdem força

As manifestações começaram depois que Castillo, um professor rural de esquerda e de origem humilde, tentou dar um autogolpe de Estado em 7 de dezembro, fechar o Congresso, intervir nos poderes públicos e governar por decreto.

Castillo foi detido em "flagrante" quando tentava chegar à embaixada do México para pedir asilo. A Justiça decidiu na quinta-feira que o ex-presidente permanecerá preso por 18 meses, até junho de 2024, enquanto é investigado por rebelião.

A Defensoria reportou no sábado mais de 70 estradas bloqueadas e mobilizações em Ayacucho (sul), Cusco e Puno (sudeste) e Junín (centro). Também houve marchas pedindo paz em algumas localidades e confrontos com a polícia em Arequipa (sul).

Na capital Lima, foram registradas pequenas manifestações a favor e contra o governo.

O chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas, Manuel Gómez de la Torre, garantiu que "a normalidade está sendo recuperada paulatinamente em rodovias, aeroportos e cidades. Estamos voltando à normalidade, que ainda não está assegurada. Contudo, sejamos positivos".

"A tendência é de baixa, mas mantemos o alerta, a situação de violência não acabou e a crise continua", disse o ministro da Defesa, Alberto Otárola.

Saída de Machu Picchu

Cerca de 200 turistas que permaneciam ilhados em Machu Picchu por causa dos protestos deixaram a cidadela neste sábado em trem, após o desbloqueio de parte de uma linha férrea que manifestantes tinham bloqueado com pedras.

O trem chegou até um setor próximo da localidade de Piscacucho, na região de Cusco (sul), onde uma enorme rocha impedia a passagem, constatou a AFP.

A partir dali, os turistas, entre eles norte-americanos e europeus, caminharam cerca de dois quilômetros para embarcar em veículos que os levarão a Cusco, onde há um aeroporto internacional.

"Estou melhor agora, estávamos preocupados. Não trouxe meus remédios para hipertensão e apenas tínhamos roupas para um dia. Estou feliz de voltar a Cusco", disse à AFP o turista canadense Alex Lim, de 41 anos, que viajava com sua esposa.

Da cidadela inca, outros 200 turistas caminharam pela ferrovia até a localidade de Ollantaytambo, a cerca de 30 km, para fazer conexão até Cusco.

Além disso, cerca de 4.500 turistas puderam deixar Cusco na sexta-feira, após a reabertura do aeroporto.

"Temos que transmitir uma boa imagem para o mundo, o Peru é uma sociedade de paz. Os turistas podem vir com a segurança de que vamos recebê-los de braços abertos e que poderão retornar vivos a seus países de origem", afirmou Boluarte.

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