AFP
Quando um pontífice morre, seu funeral e sucessão são estabelecidos pela Constituição Apostólica, mas desta vez, com o falecimento de Bento XVI, o Vaticano terá que improvisar, pois é a primeira vez na história que serão celebrados os serviços fúnebres de um papa emérito, sem funções. De acordo com a Constituição Apostólica promulgada em 1996 por João Paulo II, um Papa deve ser enterrado entre quatro e seis dias após a sua morte.
O funeral de Bento XVI será celebrado nesta qunita-feira (5) por Francisco, na Praça de São Pedro, cinco dias após sua morte. A cerimônia começará às 08h30 GMT (05h30 de Brasília) e, além de inédita, será solene, segundo o Vaticano.
Normalmente, a morte do sumo pontífice desencadeia a rápida convocação de um conclave no qual os cardeais escolhem seu sucessor. Esse cenário está descartado neste caso, já que Francisco ocupa o trono de Pedro desde 2013, após ter sido eleito após a renúncia de Bento XVI naquele ano. Trata-se da primeira vez na história moderna que um papa presidirá os funerais de seu antecessor.
Vários chefes de Estado e dirigentes figuram na lista de personalidades que anunciaram a presença no funeral, que acontece na Praça de São Pedro e será presidido pelo papa Francisco.
Entre eles estão o presidente polonês, Andrzej Duda, e seu primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki; a presidente húngara, Katalin Novàk; e, provavelmente, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que na terça-feira (3) prestou homenagem ao corpo exposto de Bento XVI na Basílica do Vaticano.
O funeral contará ainda com a presença da rainha Sofia da Espanha e do rei Felipe da Bélgica.
Também estarão presentes o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, um católico fervoroso, e a eslovena Nataa Pirc Musar.
O francês Emmanuel Macron enviará o ministro do Interior, Gérald Darmanin. Por sua parte, Joe Biden será representado pelo embaixador americano junto à Santa Sé, Joe Donnelly.
A Secretaria de Estado do Vaticano convidou oficialmente apenas dois países, Alemanha e Itália, país de nascimento e o de residência, respectivamente. Os demais participam em caráter privado.
Embora as autoridades de Roma tenham ordenado medidas especiais de segurança, com mais de mil agentes mobilizados e o fechamento de algumas ruas, não se espera a presença de um milhão de pessoas, como foi o caso do funeral do papa polonês João Paulo II, em abril de 2005.
Na ocasião, estiveram presentes figuras como o presidente Lula, George Bush pai e filho, Bill Clinton, os presidentes do Irã e do Afeganistão, entre outros.
Poucas são as personalidades políticas da América Latina que até agora anunciaram sua presença. Entre os confirmados está o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Alvaro Leyva.
Em oito anos de pontificado (2005-2013), Bento XVI visitou a região duas vezes: foi ao Brasil em 2007 e, em 2012, visitou México e Cuba.
Todas as conferências episcopais da América Latina lamentaram sua morte e o governo hondurenho proclamou quatro dias de luto nacional.
Cerca de 3.700 religiosos, além de cardeais e freiras, devem participar da cerimônia, entre eles seminaristas e sacerdotes latino-americanos que estudam ou trabalham em Roma.
Tudo está pronto na imensa Esplanada de São Pedro, onde uma estrutura coberta foi montada para abrigar o altar no átrio da Basílica.
De acordo com a Constituição Apostólica promulgada em 1996 por João Paulo II, um Papa deve ser enterrado entre quatro e seis dias após a sua morte.
Com este ato, se encerrará a saga dos "dois papas", que conviveram durante quase uma década no menor Estado do mundo.
Em 2005, o corpo de João Paulo II - último Papa falecido - foi exposto antes de seu funeral solene na Praça de São Pedro, na presença de numerosos chefes de Estado e de governo, reis e rainhas, além de fiéis, que fizeram longas filas por horas para homenageá-lo.
Na ocasião, a cerimônia oficial foi presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger, então líder do Dicastério para a Doutrina da Fé, que foi eleito posteriormente por seus pares ao trono de São Pedro.
Um milhão de pessoas compareceram ao funeral do carismático Papa polonês.
Embora a popularidade de Bento XVI nunca tenha alcançado a de João Paulo II, o papa alemão, líder da Igreja Católica de 2005 a 2013, foi um ex-chefe de Estado e, como tal, seu enterro deve atrair uma multidão de altos dignitários e fiéis.
Ao final do funeral, ao qual poderão assistir todos os fiéis sem necessidade de entrada, o caixão do papa emérito será enterrado nas grutas vaticanas, onde estão os túmulos dos papas, informou o Vaticano em nota.
A Santa Sé não informou se o sepultamento será no túmulo que foi de seu antecessor, João Paulo II, vazia depois que seu caixão foi trasladado em 2011 para uma capela da basílica, após sua beatificação.
O biógrafo oficial de Bento XVI, o jornalista alemão Peter Seewald, revelou em 2020 que ele desejava ser enterrado no túmulo de João Paulo II, de quem foi um colaborador próximo.
Quando um Papa morre, o anel feito especialmente para cada novo pontífice e usado antigamente como selo para documentos também é destruído.
No caso de Bento XVI, o anel foi marcado com um "X" após a sua renúncia, para inutilizá-lo.