Putin se diz disposto a diálogo com Ucrânia ante apelos de cessar-fogo

Em setembro, Moscou reivindicou a anexação de quatro regiões que ocupa parcialmente na Ucrânia, assim como já havia feito com a península ucraniana da Crimeia em março de 2014
AFP
Publicado em 05/01/2023 às 14:06
Vladimir Putin é o atual presidente da Rússia Foto: Mikhail Klimentyev / Sputnik / AFP


O presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta quinta-feira (5) que está disposto a dialogar com a Ucrânia, se Kiev aceitar as "novas realidades territoriais", em meio aos apelos para um cessar-fogo às vésperas do Natal ortodoxo.

Em uma conversa por telefone com Putin, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu a aplicação de um "cessar-fogo unilateral" para iniciar negociações de paz com Kiev.

O russo respondeu que está pronto para um "diálogo sério" com a Ucrânia, desde que as autoridades de Kiev cumpram as exigências russas e aceitem "as novas realidades territoriais" que surgiram após a invasão do país no final de fevereiro.

Em setembro, Moscou reivindicou a anexação de quatro regiões que ocupa parcialmente na Ucrânia, assim como já havia feito com a península ucraniana da Crimeia em março de 2014.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, recusa-se a negociar com a Rússia, enquanto Putin estiver no poder, insistindo em que o objetivo é recuperar todos os territórios ocupados.

Em sua conversa com Erdogan, Putin denunciou novamente o "papel destrutivo dos Estados ocidentais" no conflito. Ele acusou os países ocidentais de fornecerem a Kiev "armas e equipamentos militares, informações operacionais e alvos", segundo um comunicado do Kremlin.

Na Rússia, foi Kirill, patriarca da Igreja Ortodoxa Russa e próximo a Putin, quem pediu um cessar-fogo na véspera do Natal ortodoxo, que é comemorado no sábado.

"Eu, Kirill, patriarca de Moscou e de toda Rússia, dirijo-me a todas as partes envolvidas no conflito fratricida para lhes pedir que estabeleçam um cessar-fogo e uma trégua de Natal", anunciou no site da Igreja.

O líder ortodoxo, de 76 anos, pediu que as armas silenciem das 12h (7h no horário de Brasília) de 6 de janeiro até 00h00 de 7 de janeiro (19h de 6 de janeiro no horário de Brasília).

Segundo ele, esta trégua permitirá aos ortodoxos "assistirem às missas na véspera de Natal e no dia do nascimento de Cristo" na Ucrânia.

Esta mensagem pode ter, no entanto, pouco impacto na Ucrânia, onde a influência do Patriarcado de Moscou diminuiu nos últimos anos, até a criação, entre 2018 e 2019, de uma Igreja independente da tutela religiosa russa.

Em maio, logo após o início da invasão russa, a Igreja Ortodoxa Ucraniana rompeu relações com Moscou.

Nesta quinta-feira, um assessor da Presidência ucraniana, Mikhailo Podoliak, considerou o apelo do líder religioso a uma trégua uma "armadilha cínica" e um "elemento de propaganda".

Os apelos de cessar-fogo ocorrem dias depois de um ataque ucraniano na véspera de Ano Novo com pelo menos 89 soldados russos mortos em Makeyevka, na região anexada de Donetsk.

O Exército russo admitiu este balanço, sem precedentes, e foi alvo de duras críticas.

Segundo a imprensa russa, o prédio atacado foi totalmente destruído por projéteis lançados de sistemas HIMARS, um tipo de armamento fornecido pelos Estados Unidos. No local, estavam centenas de recrutas, ou seja, soldados não profissionais.

No terreno, os combates continuam intensos, especialmente em Bakhmut, no leste, que as tropas russas - apoiadas por mercenários do grupo Wagner - tentam controlar há meses.

Segundo o balanço diário da Presidência ucraniana, cinco pessoas morreram, e oito ficaram feridas nas últimas 24 horas.

O chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, considerado próximo a Putin, anunciou nesta quinta-feira os primeiros indultos para prisioneiros russos que concordaram em lutar na Ucrânia.

"Vocês trabalharam até o final do seu contrato. Trabalharam honestamente, com dignidade", disse Prigozhin em um vídeo transmitido pela agência de notícias russa Ria Novosti.

O responsável pediu ainda à sociedade russa que "trate com o maior respeito estes homens", que lutaram durante seis meses em troca de sua liberdade. 

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