Venezuela é o país com maior desnutrição na América do Sul, mostra estudo

No Brasil, houve 10% de aumento da insegurança alimentar grave ou moderada
Katarina Moraes
Publicado em 22/01/2023 às 8:56
O relatório pontuou que os preços dos alimentos subiram aproximadamente 13% no Brasil Foto: ADRIANA GUARDA/JC IMAGEM


Com informações da Carta Capital

Um estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostrou que a Venezuela é tida como o país com o maior índice de desnutrição (22,9%), seguida do Equador (15,4%) e da Bolívia (13,9%). 

O relatório destaca que o Brasil, um país de grande população, teve uma taxa baixa de desnutrição (4,1%), mas com o maior número de pessoas desnutridas: 8,6 milhões.

Os dados apontaram que a prevalência da fome na América Latina e no Caribe aumentou em 28% entre 2019 e 2021, em meio à pandemia da covid-19. São oito milhões de pessoas nessa situação.

Ainda, que há 40% de pessoas em insegurança alimentar - sem acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficientes para a sobrevivência. Enquanto isso, a média mundial é de 29,3%.

No Brasil, houve 10% de aumento da insegurança alimentar grave ou moderada. O país tem 131 milhões de pessoas que não consegue arcar com os custos de uma alimentação saudável.

O relatório “Panorama Regional da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina” mostrou que há dificuldade em acesso a uma dieta saudável, apontando aumento nos preços internacionais dos alimentos. 

No Caribe, em 2020, 52% da população não pôde ter acesso a uma dieta saudável pela alta nos preços. Na América Central, o índice é de 27,8%. Na América do Sul, 18,5%.

O relatório pontuou que, entre abril de 2021 e abril de 2022, os alimentos subiram 15% no Chile, aproximadamente 13% no Brasil e 11% em países como Uruguai e México.

As consequências são a pandemia e da guerra entre a Rússia e a Ucrânia são as justificativas para o fenômeno e que a inflação dos alimentos tem sido maior que a inflação sobre os produtos, em geral. 

O relatório destacou o crescimento das desigualdades na América Latina e no Caribe, nos últimos quatro anos, na região que já é a mais desigual do mundo, e queda nas condições sociais experimentada há quase uma década.

Por exemplo, em 2014, a região tinha atingido o seu índice mais baixo de fome. As políticas sociais eram relativamente vitoriosas, por exemplo, no Brasil. Entretanto, enquanto a fome aumentou em um patamar de 22,5% no mundo, entre 2015 e 2021, o crescimento foi 48,3% na região.

“Não existe uma política individual que possa resolver este problema de forma independente. Os mecanismos de coordenação nacional e regional precisam ser reforçados para responder à fome e à desnutrição”, afirmou o diretor assistente da FAO e representante regional para a América Latina e o Caribe, Mario Lubetkin.

DESNUTRIÇÃO NA AMÉRICA DO SUL

O relatório defende o fortalecimento de programas que apoiem a produção de alimentos oriundos da agricultura familiar e de baixa escala para beneficiar agricultores enquanto reduz o custo dos alimentos.

As políticas comerciais e de mercado podem desempenhar um papel fundamental na melhoria da segurança alimentar e nutricional. Uma maior transparência e eficiência melhoram o comércio agroalimentar inter-regional, substituindo a incerteza pela previsibilidade e estabilidade do mercado.

"Estamos falando da região do mundo com a dieta saudável mais cara, que afeta particularmente as populações vulnerabilizadas - pequenos agricultores, mulheres rurais e populações indígenas e afrodescendentes - que alocam uma porcentagem maior de sua renda para a compra de alimentos", disse a diretora regional do IFAD Rossana Polastri.

"Para reverter esta situação, devemos promover soluções inovadoras que diversifiquem a produção e aumentem a oferta de alimentos saudáveis e que melhorem o acesso dos pequenos produtores a mercados e alimentos de qualidade, incluindo soluções digitais que articulem a oferta e a demanda de alimentos de qualidade".

Possíveis soluções

O relatório também descreve como alguns programas de proteção social sensíveis à nutrição têm funcionado e são essenciais para apoiar as dietas da população mais vulnerável, particularmente em períodos de crise.

"A insegurança alimentar continuará a aumentar devido à crise de preços dos alimentos e combustíveis causada pelo conflito na Ucrânia e pelas consequências da COVID-19", disse Lola Castro, Diretora Regional do PMA. "Devemos agir agora, mas como podemos fazer isso? Apoiando os governos para expandir as redes de proteção social porque a pandemia mais uma vez demonstrou que a proteção social é útil para melhorar a acessibilidade de uma dieta saudável, evitando que crises como esta atinjam ainda mais as populações afetadas".

Outras políticas alimentares, tais como rotulagem nutricional, subsídios a alimentos nutritivos e tributação para alimentos não saudáveis ou não nutritivos que não contribuem para dietas saudáveis, se bem concebidas, podem melhorar a acessibilidade econômica de dietas saudáveis, prevenir condições debilitantes e doenças relacionadas ao excesso de peso e à obesidade.

"Devemos redobrar os esforços para combater a má nutrição em todas as suas formas, promovendo políticas públicas para criar ambientes alimentares saudáveis, eliminar as gorduras trans produzidas industrialmente, implementar rótulos de advertência frontal, regular a publicidade de alimentos insalubres, estabelecer importos a bebidas açucaradas, apoiar a alimentação saudável e a atividade física nas escolas", disse a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne.

"Entender os fatores que determinam as más práticas alimentares é fundamental para encontrar soluções e garantir que todos na região tenham acesso a alimentos saudáveis", disse ela.

Por exemplo, países com níveis mais altos de pobreza e desigualdade tendem a ter dificuldades mais significativas de acesso a uma dieta saudável, que está diretamente associada a uma maior prevalência da fome, desnutrição crônica em meninos e meninas, e anemia em mulheres de 15 a 49 anos.

"Para que as crianças cresçam saudáveis, não é apenas urgente apenas garantir a disponibilidade de alimentos nutritivos, mas também é necessário desenvolver políticas públicas que garantam uma nutrição adequada, além de aconselhamento nutricional, focado em ações para as populações mais vulnerabilizadas", disse Garry Conelly, diretor regional da UNICEF para a América Latina e Caribe.

O panorama socioeconômico da América Latina e do Caribe não é encorajador. Os grupos populacionais mais afetados são as crianças menores de cinco anos e as mulheres, que sofrem uma maior prevalência de insegurança alimentar do que os homens.

O Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutricional 2022 é uma publicação conjunta da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO); do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (IFAD); da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS); do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (PMA).


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