TERREMOTO: tragédia pressiona ONGs e países ocidentais a ajudarem Síria

O governo de Bashar al-Assad está isolado internacionalmente e sujeito a inúmeras sanções
Lucas Moraes
Publicado em 07/02/2023 às 14:25
Terremoto na Turquia Foto: ILYAS AKENGIN / AFP


AFP

O terremoto na Turquia e na Síria aumenta a pressão sobre organizações humanitárias e países ocidentais para que ajudem a população síria, especialmente na zona rebelde de Idlib, no norte do país.

Horas depois do tremor mortal de segunda-feira (6), a comunidade internacional se mobilizou pela Turquia, enviando rapidamente ajuda de emergência. Países como França, Alemanha e Estados Unidos também prometeram ajudar as vítimas sírias, mas sem enviar ajuda imediata.

"A Síria continua sendo uma área sombria, do ponto de vista legal e diplomático", avalia o diretor do programa para a Síria da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), Marc Schakal, pedindo que a ajuda seja enviada "o mais rápido possível".

Schakal teme que ONGs locais e internacionais se vejam sobrecarregadas em um país devastado por quase 12 anos de guerra civil que opõe uma multidão de lados – forças governamentais, rebeldes, jihadistas e curdos, entre outros – e tropas de vários países estrangeiros estão mobilizadas.

O terremoto deixou mais de 1.600 mortos na Síria, e o balanço de vítimas não para de aumentar.

A ajuda é crucial, porque "a situação da população já era dramática", afirma o professor Raphaël Pitti, responsável pela ONG francesa Mehad, especialmente preocupado com a província de Idlib.

Um dos principais problemas é o acesso a este último reduto controlado por rebeldes e jihadistas, onde vivem 4,8 milhões de pessoas, explica o especialista.

Além disso, o governo de Bashar al-Assad está isolado internacionalmente e sujeito a inúmeras sanções.

Pontos de acesso

Quase toda a ajuda humanitária que chega a esta região da Turquia passa por Bab al-Hawa, o único ponto de acesso, obtido por meio de uma resolução da ONU.

Enviar ajuda através do território sírio controlado por Damasco seria diplomaticamente difícil. Significaria também que o governo oficial concorda em dar essa ajuda à população das áreas rebeldes e que os beligerantes concordam em sua distribuição.

Outro elemento complicador é que a passagem de Bab al-Hawa foi afetada pelo terremoto, disse a ONU, nesta terça.

Após a tragédia, o governo sírio, alvo de sanções internacionais desde o início da guerra em 2011, pediu o envio de ajuda aos demais países da comunidade internacional.

O embaixador da Síria na ONU, Bassam Sabbagh, garantiu na segunda-feira que esta ajuda será "para todos os sírios em todo o território". Impôs, no entanto, uma condição: que essa ajuda fosse distribuída de dentro do país, sob controle do governo.

"Os acessos a partir da Síria existem. Podem ser coordenados com o governo, e estamos dispostos a fazer isso", disse o diplomata, rejeitando a possibilidade de levar a ajuda através de acessos transfronteiriços.

"Canais habituais"

A França mantém suas reservas, enquanto a Alemanha pediu a abertura de outros pontos de acesso.

"Todos os atores internacionais, incluindo a Rússia, deveriam aproveitar sua influência sobre o 'regime' sírio para que chegue a ajuda humanitária destinada às vítimas", afirmou a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock.

A França pode estar menos presente do que "em outras crises", na medida em que é "incômodo" ir a um país, cuja legitimidade desconhece, avalia Emmanuel Dupuy, presidente do Instituto de Prospecção e Segurança.

Para Raphaël Pitti, as áreas sob domínio de Damasco provavelmente receberão ajuda internacional. "Como sempre aconteceu há dez anos", ressalta.

O professor teme, contudo, que a população de Idlib, onde vivem "2,8 milhões de refugiados", fique para trás, especialmente porque as autoridades turcas já estão sobrecarregadas com suas próprias áreas devastadas pelo terremoto.

Hoje, a comunidade católica de Santo Egídio, com sede em Roma, fez um apelo pela suspensão das sanções, uma convocação reforçada pelo Crescente Vermelho.

Já o porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, Jens Laerke, afirmou que é "imperativo" que todo o mundo considere a situação como "uma crise humanitária, em que há vidas em jogo".

 

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