Da AFP
Ao menos 59 imigrantes morreram em um naufrágio neste domingo (26) perto da cidade italiana de Crotone, na região da Calábria (sul), poucos dias após a aprovação de uma polêmica lei sobre o resgate de imigrantes no mar.
"Até o momento o número de vítimas fatais confirmado é 59", declarou Vincenzo Voce, prefeito de Crotone, ao canal de notícias Sky TG-24.
De acordo com as equipes de resgate, a embarcação transportava mais de 120 pessoas e bateu contra rochas a alguns metros da costa. O Corpo de Bombeiros afirmou que mais de 200 pessoas estavam a bordo.
Nas imagens divulgadas pela polícia italiana é possível observar pedaços de madeira espalhados na praia, para onde se dirigiram as equipes de emergência, enquanto os resgatados aguardavam a transferência para um centro de acolhimento.
A primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido 'Fratelli d'Italia' (FDI, Irmãos da Itália, extrema-direita), expressou "profunda dor" em um comunicado e afirmou que é "criminoso enviar ao mar uma embarcação de apenas 20 metros com 200 pessoas a bordo e com uma previsão do tempo ruim".
"O governo está comprometido a impedir as saídas e este tipo de tragédia. E continuará a fazer isto ao exigir, antes de qualquer coisa, uma colaboração maior dos Estados de saída e de origem", completou.
O presidente da República da Itália, Sergio Mattarella, informou que muitos imigrantes eram procedentes do Afeganistão e do Irã, "fugindo de condições muito difíceis".
Após a tragédia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu a urgência de avançar com a reforma do direito de asilo na União Europeia.
"É necessário redobrar os esforços em relação ao Pacto sobre a Migração e o Direito de Asilo, assim como sobre o Plano de Ação para o Mediterrâneo Central", afirmou.
O naufrágio aconteceu poucos dias após a aprovação no Parlamento italiano de novas e polêmicas regras para o resgate de imigrantes, apoiadas pelo governo dominado pela extrema-direita.
"Imigração clandestina"
Meloni chegou ao poder em outubro com uma coalizão que prometeu a redução da entrada de imigrantes ao país.
A nova lei obriga os navios humanitários a fazer apenas um resgate por saída ao mar. Os críticos afirmam que a norma aumenta o risco de mortes no Mediterrâneo central, área considerada a travessia mais perigosa do mundo para os imigrantes.
A situação geográfica da Itália faz do país um destino preferencial para os demandantes de asilo que viajam do norte da África para a Europa.
Roma critica há vários anos o número de chegadas a seu território, embora a maioria dos imigrantes abandone a península e siga para outros países.
De acordo com o ministério do Interior, quase 14.000 imigrantes entraram na Itália desde o início do ano, contra 5.200 no mesmo período no ano passado e 4.200 em 2021.
Para o ministro italiano do Interior, Matteo Piantedosi, esta "tragédia demonstra como é absolutamente necessário lutar de maneira firme contra as redes de imigração clandestina".
Embora as ONGs resgatem apenas um pequeno percentual deles - a maioria é interceptada pela Guarda Costeira ou por navios da Marinha -, o governo as acusa de estimular as viagens e e de encorajar os traficantes com suas operações.
O papa Francisco expressou sua "dor" e afirmou que reza "por cada um, pelos desaparecidos e para os outros imigrantes que sobreviveram".
Filippo Grandi, titular do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), lamentou "outro terrível naufrágio" e afirmou que "chegou o momento para que os Estados parem de debater e estabeleçam medidas justas, eficazes e compartilhadas para evitar novas tragédias".