MANIFESTAÇÃO

Franceses planejam paralisar o país nesta terça-feira (7) em greve contra a reforma da Previdência

Projeto do governo francês pretende adiar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030 e de antecipar para 2027 a exigência de contribuir por 43 anos para receber a pensão integral

Filipe Farias
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Filipe Farias
Publicado em 06/03/2023 às 10:43
FRANCOIS LO PRESTI / AFP
Franceses pretendem paralisar a França em protesto contra a reforça da Previdência - FOTO: FRANCOIS LO PRESTI / AFP

Da AFP

Os sindicatos pretendem "paralisar a França" na terça-feira (7) com a retomada das grandes manifestações contra a reforma da Previdência do presidente liberal, Emmanuel Macron, acusado de "permanecer surdo" à rejeição popular.

"Convoco os trabalhadores, os cidadãos, os aposentados a protestar em grande número", afirmou nesta segunda-feira (6) Laurent Berger, líder do sindicato CFDT. "O presidente não pode permanecer surdo", acrescentou à rádio France Inter.

Dois em cada três franceses, segundo as pesquisas, são contrários ao projeto de adiar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030 e de antecipar para 2027 a exigência de contribuir por 43 anos (e não 42 como atualmente) para receber a pensão integral.

O governo afirma que ao elevar uma das menores idades de aposentadoria da Europa pretende evitar um déficit da Previdência. "Vamos cumprir o objetivo de um sistema equilibrado até 2030", disse o porta-voz do Executivo, Olivier Véran.

Desde a apresentação do projeto em janeiro, os sindicatos organizaram grandes mobilizações, incluindo a maior em três décadas no país, em 31 de janeiro - de 1,27 a 2,8 milhões de pessoas -, o que não foi suficiente para forçar um recuo do governo.

A partir de terça-feira, a mobilização "vai acelerar" diante de uma posição "cada vez mais dura" do governo, afirmou o líder da central CGT, Philippe Martinez, ao Le Journal du Dimanche.

Os serviços ferroviários na França e o transporte público de Paris, crucial para a economia da capital, devem ser muito prejudicados pela greve, que os sindicatos desejam prolongar por outros dias.

"Teremos dias difíceis. É provável que as coisas não acabem em 7 de março à noite ou na manhã de 8 de março", advertiu o ministro dos Transportes, Clément Beaune. O governo estimula o teletrabalho para os que têm a opção.

Os sindicatos também pediram o fechamento total das escolas. Obras paralisadas, lojas fechadas, pedágios abertos ou estradas bloqueadas também estão no programa de ações previstas.

Os caminhoneiros já iniciaram a greve e provocaram engarrafamentos em cidades como Lille (norte) ou Rouen (nordeste). Desde sexta-feira passada, trabalhadores do setor de energia provocaram reduções na produção em várias usinas nucleares.

Apesar do objetivo de bloquear a economia, o impacto das greves será "limitado", segundo os analistas do banco ING, que calculam, em caso de longas paralisações, uma queda de apenas 0,2 ponto percentual no PIB.

LUTA CONTRA REFORÇA DA PREVIDÊNCIA NA FRANÇA

A última vez que os franceses conseguiram evitar uma reforma da Previdência aconteceu em 1995. Os sindicatos paralisaram os serviços de trens e metrô por três semanas e conseguiram manter um grande apoio da opinião pública.

A maioria dos franceses apoia atualmente o princípio de greves prorrogáveis (56%) e o objetivo sindical de "paralisar a França" (59%) para forçar o governo a recuar, de acordo com uma pesquisa da Elabe publicada nesta segunda-feira.

O projeto, no entanto, segue o trâmite parlamentar. Depois de passar pela Assembleia (câmara baixa), o plenário do Senado (câmara alta) debate desde quinta-feira as propostas, que avançam graças ao apoio da oposição de direita.

O governo optou por um polêmico procedimento parlamentar que limita o tempo de debate e permite aplicar as medidas caso as duas câmaras do Parlamento não aprovem o mesmo texto até 26 de março. A Assembleia não votou o projeto.

O Dia Internacional da Mulher, na quarta-feira (8), também pode registrar uma forte mobilização, em particular quando os opositores do projeto consideram que as mulheres são um dos grupos mais prejudicados pela reforma.

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