União Europeia pressiona Israel a aceitar Estado palestino
O chanceler espanhol, José Manuel Albares, afirmou que Madri defende a convocação de uma conferência da paz para "implementar a solução de dois Estados"
Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia (UE) pressionaram, nesta segunda-feira (22), por uma solução baseada em dois Estados para o conflito israelense-palestino, após realizarem contatos informais separadamente com seus homólogos de Israel e da Autoridade Palestina.
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, reforçou que o bloco quer "construir uma solução de dois Estados".
"Paz e a estabilidade não podem ser construídas apenas por meios militares (...) Qual outra solução vocês consideram? Fazer todos os palestinos partirem? Matá-los?", questionou.
Borrell fez estas declarações antes de os ministros europeus realizarem reuniões em separado em Bruxelas com o chanceler israelense, Israel Katz, e seu homólogo palestino, Riyad al Maliki.
Al Maliki disse esperar que a UE comece a "contemplar sanções contra [o primeiro-ministro israelense, Benjamin] Netanyahu e outros que realmente estão destruindo as possibilidades de uma solução de dois Estados".
O chanceler espanhol, José Manuel Albares, afirmou que Madri defende a convocação de uma conferência da paz para "implementar a solução de dois Estados".
"Um Estado palestino realista e viável envolve Gaza e a Cisjordânia sob a mesma Autoridade Nacional palestina, conectadas por um corredor para que haja continuidade territorial, com acesso ao mar através de um porto em Gaza, e com a sua capital em Jerusalém Oriental", afirmou.
Ao chegar à sede das reuniões, Katz ignorou as perguntas da imprensa e se limitou a afirmar que seu país estava concentrado em obter a libertação dos reféns capturados pelo grupo islamista Hamas em 7 de outubro.
Borrell afirmou no encerramento do encontro que para a UE "a prioridade é fornecer apoio à população de Gaza", diante de sua situação humanitária atual.
"Mais morte, mais destruição, mais sofrimento para os habitantes de Gaza não ajudarão a derrotar o Hamas ou a sua ideologia. Não trarão mais segurança a Israel, pelo contrário", declarou.
O chefe da diplomacia europeia não escondeu sua irritação com a decisão de Katz de mostrar um vídeo sobre um antigo plano israelense de construir uma ilha artificial que serviria de porto, além de outro projeto de uma malha ferroviária até a Índia.
O diplomata israelense "poderia ter aproveitado melhor o seu tempo", alfinetou Borrell, uma vez que os planos dos vídeos "não tinham muito a ver com o que estávamos discutindo".
Pressão diplomática
Os ministros da UE também convidaram seus homólogos saudita, Faisal Bin Farhan Al Saud, jordaniano, Ayman Safadi, e egípcio, Sameh Shoukry.
O ministro jordaniano Safadi afirmou que a recusa de Israel à solução de dois Estados "é uma ameaça ao futuro da região", citando a pressão mundial por esta medida.
De todos estes interlocutores árabes, os ministros da UE querem conhecer seus pontos de vista, já que Bruxelas considera que todos eles poderão desempenhar um papel importante após o fim do conflito.
Uma fonte diplomática da UE admitiu que não se espera nenhuma decisão concreta dessas negociações, mas acrescentou que a presença de Katz e de Al Maliki em Bruxelas no mesmo dia deve ser vista como um "símbolo forte".
A UE já manifestou sua preocupação com o alto número de vítimas nos bombardeios lançados por Israel contra Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro, que deixou cerca de 1.140 mortos em solo israelense.
De acordo com o movimento islamista palestino, mais de 25 mil pessoas morreram em Gaza até o momento pelos ataques de Israel.
No entanto, a UE não conseguiu até agora alcançar uma posição unificada sobre a necessidade de um cessar-fogo.
Na reunião desta segunda-feira, os ministros europeus também discutiram sobre uma possível missão da UE no Mar Vermelho, onde os rebeldes huthis do Iêmen, apoiados pelo Irã, atacaram vários navios mercantes.
A ideia é implantar três navios de combate no Mar Vermelho. Por enquanto, Itália, França, Países Baixos, Alemanha e Bélgica manifestaram vontade de participar, enquanto Espanha se desvinculou da iniciativa.
Segundo a ideia original, a missão naval da UE teria a missão de derrubar mísseis ou drones lançados pelos huthis contra navios mercantes, mas não de realizar ataques a alvos terrestres no Iêmen.