O chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, anunciou, nesta quarta-feira (10), a morte de três dos seus filhos em um bombardeio israelense na Faixa de Gaza e alertou que o ataque não acabará com a determinação do movimento islamista após seis meses de guerra.
O líder do movimento islamista palestino, radicado em Doha, no Catar, confirmou à rede Al Jazeera o "martírio" de "três filhos" e de alguns dos seus "netos".
Segundo a rede catari, um drone atingiu o veículo da família no acampamento de refugiados de Al Shati, no norte do estreito e devastado território palestino. Em comunicado, o Hamas confirmou a morte dos três filhos de Haniyeh e de quatro dos seus netos.
O Exército israelense confirmou que um de seus bombardeios em Gaza matou três filhos de Haniyeh, identificados como Mohamed, Hazem e Amir. Em um comunicado, garantiu que os três eram membros do braço militar do grupo islamista.
"Este derramamento de sangue nos tornará ainda mais firmes em nossos princípios", disse o chefe do grupo islamista, que governa Gaza desde 2007.
"Se o inimigo acredita que atacar os meus filhos no auge das negociações e antes do Hamas ter dado a sua resposta fará com que o movimento mude a sua postura, está enganado. As posições não mudarão", acrescentou.
O bombardeio ocorreu apesar dos esforços dos mediadores internacionais para alcançar uma trégua nos combates. Também coincidiu com o primeiro dia do Eid al-Fitr, dia que marca o fim do ramadã.
A guerra eclodiu em 7 de outubro, após o ataque do Hamas ao sul de Israel, que deixou 1.170 mortos, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados israelenses.
O movimento islamista também fez 250 reféns, dos quais 129 permanecem em Gaza, incluindo 34 que teriam morrido, segundo as autoridades israelenses.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, que considera uma organização terrorista, opinião respaldada por Estados Unidos e União Europeia. O país lançou uma ofensiva implacável que já deixou 33.482 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território.
Críticas de Biden
Israel bombardeou novamente o norte e o centro de Gaza nesta quarta-feira, incluindo o acampamento de Nuseirat, matando 14 pessoas, entre elas crianças, segundo o Hamas.
Os países mediadores – Catar, Egito e Estados Unidos – aguardam respostas a uma nova proposta de trégua em três fases que apresentaram a Israel e ao Hamas no domingo.
A primeira fase contempla uma trégua de seis semanas, a libertação de 42 reféns detidos em Gaza em troca de 800 a 900 palestinos presos em Israel, a entrada diária de 400 a 500 caminhões de ajuda alimentar e o retorno dos deslocados pela guerra às suas casas no norte de Gaza.
Na semana passada, o Hamas lembrou suas exigências, que incluem um cessar-fogo definitivo, a retirada das tropas israelenses de Gaza, um aumento da ajuda humanitária, a volta dos deslocados e um acordo "sério" para a troca de reféns por prisioneiros palestinos.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que criticou duramente a estratégia militar em Gaza do governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta quarta-feira que Israel não está permitindo a entrada da ajuda necessária no território palestino. "Não é suficiente", declarou o democrata após uma conversa por telefone com Netanyahu.
Na semana passada, o governo israelense anunciou a abertura de novos pontos de acesso de ajuda à Faixa de Gaza, especialmente na fronteira norte do território.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, garantiu nesta quarta-feira que esta abertura está sendo preparado. "Prevemos inundar Gaza de ajuda e chegar a 500 caminhões diários", disse.
Apesar das advertências internacionais, o ministro do gabinete de guerra de Israel, Benny Gantz, insistiu em que as tropas israelenses invadirão Rafah e voltarão para Khan Yunis, de onde se retiraram na semana passada.
O Exército terá que lutar durante anos "na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e no front do Líbano", afirmou, acrescentando que "do ponto de vista militar, o Hamas foi derrotado".
As forças israelenses afirmam que Rafah, na fronteira fechada com o Egito, é o último reduto do Hamas em Gaza. Cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem lá, a maioria deslocada pela guerra, segundo a ONU.
Por toda Gaza, os palestinos celebram com tristeza o fim do ramadã, reunindo-se em abrigos improvisados em torno de alguns doces ou pequenos bolos preparados apesar da escassez.
Em Jerusalém, a multidão de fiéis reunidos na Esplanada das Mesquitas, em meio a rigorosas medidas de segurança, estava completamente consternada pela tragédia de Gaza.
"É o Eid mais triste que já vivemos", disse Rawan Abd, uma enfermeira de 32 anos de Jerusalém Oriental, a parte palestina da cidade ocupada e anexada por Israel.