O julgamento criminal contra Donald Trump, o primeiro ex-presidente da história dos Estados Unidos a se sentar no banco dos réus, começou nesta segunda-feira (15) com a seleção do júri em um tribunal de Nova York, em plena campanha para as presidenciais de novembro de 2024.
O destino do empresário de 77 anos será decidido por 12 jurados e seis suplentes, que começaram a ser selecionados nesta segunda entre 500 candidatos. O júri dará um veredicto unânime ao final de um processo que deve durar até dois meses.
Dos primeiros 96 candidatos que entraram na sala da Suprema Corte de Manhattan, mais de 50 disseram que não seriam imparciais e foram dispensados antes do fim do primeiro dia.
ESCOLHA DOS CANDIDATOS
Escolhidos por sorteio, os candidatos são identificados por um número para ocultar seus nomes por razões de segurança e devem completar um questionário minucioso sobre suas preferências políticas, os meios pelos quais se informam, e sua imparcialidade e capacidade para definir o destino de um dos políticos mais influentes dos últimos tempos, tanto para os Estados Unidos quanto para o resto do mundo. A seleção deve durar vários dias.
Trump é acusado de ocultar um pagamento de US$ 130 mil (R$ 672 mil, na cotação atual) à ex-atriz pornô Stormy Daniels para comprar seu silêncio sobre um suposto caso extraconjugal que remonta a 2006 e para proteger sua campanha eleitoral em 2016, na qual acabou vencendo contra a democrata Hillary Clinton.
Antes de começar o julgamento propriamente dito, o juiz de instrução Juan M. Merchan rejeitou várias petições da defesa, incluindo o pedido de afastamento do caso.
O juiz também advertiu o magnata, que em alguns momentos balançava a cabeça com irritação para expressar sua desaprovação e chegou a ser surpreendido dormindo, de que poderia ser acusado de desacato em caso de interrupção do processo.
PROBLEMA COM O JUIZ
Do lado de fora da corte, Trump disse à imprensa que tem "um problema real" com o juiz. "Não vamos ter um julgamento justo", afirmou, antes de se referir ao magistrado como um "juiz muito conflituoso".
No próximo 24 de abril, será decidida durante uma audiência uma denúncia da Promotoria de que o republicano teria violado a ordem do juiz que lhe proibiu de se referir ao caso, especialmente em suas redes sociais, onde costuma criticar Merchan, sua família e as testemunhas que comparecerão ao julgamento.
O bilionário não é acusado do pagamento em si para ocultar um relacionamento sexual que ele sempre negou, mas por tê-lo disfarçado como despesas legais da Trump Organization, sua empresa familiar, o que pode resultar em uma condenação de até quatro anos de prisão.
Trump é acusado de 34 falsificações de documentos contábeis da Trump Organization para camuflar os pagamentos feitos a Daniels como "despesas legais", adiantadas do próprio bolso pelo então advogado do republicano e homem de confiança, Michael Cohen, atualmente seu inimigo declarado e que será uma das testemunhas-chave da acusação.
O julgamento terá que determinar o que Trump sabia sobre esses pagamentos, pelos quais Cohen já foi condenado.
Uma sentença de culpabilidade não seria um obstáculo para que Trump se candidate às eleições presidenciais de 5 de novembro, onde enfrentará pela segunda vez o democrata Joe Biden, que o derrotou há quatro anos.
Não o impedirá nem mesmo de assumir a Presidência, mas sem dúvida pode afetar suas chances de vencer, apesar de ter uma multidão de seguidores.
"PONTO RIDÍCULO"
Para o republicano, o julgamento é uma "perseguição política" orquestrada pelos democratas para impedir que ele realize seu sonho de retornar à Casa Branca.
"Isso é um ataque aos Estados Unidos. Nunca aconteceu nada parecido", disse ao chegar ao tribunal.
Shawn, um dos poucos simpatizantes que compareceram ao tribunal para apoiar Trump, afirma que "estamos chegando a um ponto realmente ridículo". "No final do dia, é uma interferência eleitoral. Eles estão tentando impedir que um oponente político ganhe", afirmou à AFP.
Já Jamie Bauer, uma crítica ao ex-presidente, argumenta, pelo contrário, que a "interferência eleitoral" ocorreu no pagamento pelo silêncio "para encobrir informações que ele considerava prejudiciais para sua campanha".
"MUITO EM JOGO"
Este é uma das diversas frentes abertas pelo magnata nova-iorquino, que acumulou sua fortuna no setor imobiliário e na construção de campos de golfe e que alega ser vítima de "uma caça às bruxas".
O republicano também é acusado de tentar reverter os resultados das eleições presidenciais de 2020 e pelo manuseio irresponsável de documentos sigilosos que levou para sua residência ao deixar a Casa Branca.
"Muito está em jogo, porque Trump e seus advogados conseguiram até agora adiar os [outros] julgamentos" para depois das eleições, diz à AFP Carl Tobias, professor de direito da Universidade de Richmond.