O governo dos EUA decidiu nesta quarta-feira (17) restabelecer as sanções ao petróleo e ao gás da Venezuela, em razão do veto do regime chavista a candidaturas da oposição para as eleições presidenciais de julho, especialmente a inabilitação de María Corina Machado, acusada de corrupção, e de sua substituta, Corina Yoris, sem razão aparente.
As sanções haviam sido suspensas em outubro, por um prazo de seis meses, como parte do Acordo de Barbados, entre a ditadura de Nicolás Maduro e opositores. A condição para levantar o cerco americano era a realização de eleições livres, o que não aconteceu, na avaliação da Casa Branca.
"Depois de uma revisão minuciosa da situação na Venezuela, os EUA determinaram que Maduro e seus representantes não cumpriram plenamente os compromissos assumidos no acordo eleitoral assinado com a oposição", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller.
De acordo com um funcionário de alto escalão do Tesouro dos EUA, haverá um período de transição de 45 dias para o encerramento das operações de empresas americanas na Venezuela, para que a medida não provoque incerteza no mercado global de energia.
A partir de agora, empresas americanas que queiram fazer negócios com o chavismo deverão ser autorizadas por Washington, que poderá emitir "licenças específicas" após uma avaliação "caso a caso".
Lula
O tema foi assunto de uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com seu colega colombiano, Gustavo Petro, ontem, na visita oficial do brasileiro a Bogotá. A diplomacia brasileira é contra o uso de sanções para resolver a crise venezuelana, já que as restrições apenas isolam ainda mais o regime chavista, na visão do Itamaraty. No encontro de ontem, Lula voltou a dizer a Petro que é contra as sanções.
Embora Maduro tenha marcado a eleição para 28 de julho e convidado observadores internacionais para monitorar o processo, ele usou seu controle total sobre as instituições para minar os principais rivais. Além da inabilitação de María Corina e de Yoris, vários opositores foram presos nos últimos seis meses, muitos eram assessores ou filiados à Plataforma Unitária Democrática (PUD), coalizão liderada por María Corina, que havia vencido as primárias da oposição e favorita contra Maduro, segundo pesquisas.
Impacto
A decisão de retomar as sanções dificulta ainda mais a exploração de petróleo e gás na Venezuela, que há muito tempo está sucateada pela falta de investimentos e a péssima gestão administrativa da estatal PDVSA.
Especialistas dizem que a Venezuela não terá tempo suficiente para atrair os grandes investimentos de capital necessários para relançar a produção no país, que está no topo das maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo.
O endurecimento das sanções, no entanto, não afeta diretamente a Chevron, a última grande perfuradora de petróleo dos EUA na Venezuela, que foi autorizada a aumentar os embarques graças a uma licença emitida em 2022, em meio a preocupações de que a invasão da Ucrânia pela Rússia reduzisse o fornecimento global de energia e aumentasse o preço dos combustíveis em um ano eleitoral.
"O verdadeiro teste à seriedade do governo americano em relação à Venezuela é a Chevron", afirmou Elliott Abrams, que foi enviado especial de Donald Trump para a Venezuela. "Deixar essa licença em vigor sugere que o governo se preocupa mais em manter os preços do petróleo baixos até às eleições, e com os lucros da Chevron, do que com os interesses de segurança nacional dos EUA e a liberdade na Venezuela."
Biden
O presidente americano, Joe Biden, enfrenta uma disputa acirrada contra Trump e uma eventual disparada no preço dos combustíveis pode enterrar sua candidatura à reeleição. Embora sinalize sua crescente frustração com Maduro, é pouco provável que a Casa Branca regresse à fracassada campanha de "pressão máxima" tentada por Trump, que apenas fortaleceu o poder do chavista.
"Tornou-se impossível para a Casa Branca fingir que o governo de Maduro, de alguma forma, estava cumprindo - ou mesmo pretendia cumprir - o acordo implícito no levantamento parcial das sanções", disse Christopher Sabatini, pesquisador da Chatham House em Londres. "Ignorar isso teria feito os EUA parecerem fracos e teria reduzido significativamente a sua credibilidade na aplicação de sanções, não apenas à Venezuela, mas a outros países."