Israel bombardeou, nesta quarta-feira (5), o centro da Faixa de Gaza em sua ofensiva contra o movimento islamista palestino Hamas, em meio a novos esforços dos mediadores para obter um cessar-fogo.
Quase um mês após o início da ofensiva terrestre contra Rafah, no sul do território palestino, que Israel apresentou como a etapa final da guerra, os combates ficaram mais intensos nos últimos dias no centro da Faixa.
O Exército israelense confirmou operações em Bureij e Deir al Balah, no centro do território, e anunciou que "eliminou" vários integrantes do grupo islamista. Os soldados também prosseguem com as ações na área de Rafah, segundo um comunicado.
Palestinos deslocados, carregando seus poucos pertences, abandonaram o campo de Bureij e partiram em busca de um lugar mais seguro, informaram os correspondentes da AFP. Durante a noite, um bombardeio perto da entrada do campo e disparos de artilharia no sudeste de Deir al Balah provocaram várias vítimas, segundo testemunhas.
Depois de quase oito meses de guerra, Egito, Estados Unidos e Catar, os países mediadores, continuam com os esforços para que Israel e Hamas aceitem um acordo de cessar-fogo, alguns dias após o anúncio de uma proposta do presidente americano Joe Biden.
O plano divulgado por Biden – que afirmou que a iniciativa foi apresentada por Israel – prevê um cessar-fogo de seis semanas e a retirada israelense das zonas mais populosas de Gaza, a libertação de alguns reféns, em particular mulheres e pessoas com doenças, e de prisioneiros palestinos detidos por Israel.
Uma fonte do governo do Catar disse que o diretor da CIA, William Burns, viaja nesta quarta-feira a Doha para "continuar trabalhando com os mediadores e concluir um acordo" de cessar-fogo.
Reunião no Catar
O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, e o chefe da inteligência egípcia, Abbas Kamel, reuniram-se com membros do Hamas em Doha nesta quarta-feira para discutir uma trégua em Gaza, confirmou à AFP uma fonte próxima às negociações.
Segundo o portal americano de notícias Axios, o conselheiro especial do presidente Joe Biden para o Oriente Médio, Brett McGurk, desembarcará nesta quarta-feira no Cairo para tentar avançar com a proposta de acordo.
A guerra na Faixa de Gaza começou após o ataque sem precedentes do Hamas contra o sul de Israel em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram 1.194 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Os combatentes sequestraram 251 pessoas, que foram levadas para Gaza. Uma trégua no fim de novembro permitiu a libertação de mais vários reféns, mas 120 permanecem em cativeiro em Gaza, das quais 41 teriam morrido.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e iniciou uma ofensiva no território palestino que deixou 36.586 mortos até o momento, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, território governado pelo Hamas desde 2007.
As exigências contraditórias dos dois lados deixam poucas esperanças para a concretização do plano proposto por Biden.
O Hamas insiste em um "cessar-fogo permanente" enquanto Israel quer "destruir" o movimento islamista, considerado "terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
O Catar anunciou que aguarda uma "posição clara" de Israel, que pareceu estabelecer uma distância do plano.
O gabinete de guerra israelense se reuniu na terça-feira à noite para discutir os últimos acontecimentos na guerra em Gaza, pouco depois do anúncio do apoio dos dois partidos ultraortodoxos do governo de Benjamin Netanyahu à proposta revelada por Biden.
"Água de esgoto"
Segundo o canal de televisão público israelense Kan, o gabinete decidiu pedir garantias aos Estados Unidos para continuar a guerra contra o Hamas caso o movimento islamista viole o acordo.
No norte de Israel, a fronteira com o Líbano é cenário de trocas de tiros diárias entre as tropas israelenses e o movimento Hezbollah, aliado do Hamas.
Netanyahu afirmou, nesta quarta-feira, que Israel está "preparado para uma operação muito intensa" na fronteira com o Líbano.
Mas o porta-voz do departamento de Estado, Matthew Miller, alertou contra uma "escalada" no país e destacou que colocaria "a segurança" e "a estabilidade" de Israel em perigo.
A crise humanitária persiste e a organização Oxfam denunciou na terça-feira as condições sanitárias "deploráveis" na área de Al Mawasi, perto de Khan Yunis, no sul.
Os bombardeios israelenses e bloqueios "tornam praticamente impossível" o acesso dos grupos humanitários a civis, "retidos e famintos", segundo a Oxfam.
Os moradores de Gaza foram obrigados a "beber água de esgoto" e a comer ração para animais, denunciou o diretor regional da Organização Mundial da Saúde (OMS).