Israel bombardeou Gaza nesta segunda-feira (24), um dia após o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, afirmar que a fase "intensa" da guerra contra o Hamas está prestes a terminar em Rafah, no sul do devastado território palestino.
"A fase intensa dos combates contra o Hamas está prestes a terminar", declarou Netanyahu ao Channel 14, em sua primeira entrevista à imprensa local desde o início da guerra contra o movimento islamista palestino Hamas em 7 de outubro.
O primeiro-ministro israelense, que enfrenta pressões internas e externas cada vez mais intensas, destacou que isto "não significa que a guerra esteja a ponto de terminar, mas que a fase intensa da guerra está prestes a terminar em Rafah".
OFENSIVA ISRAELENSE
Os soldados israelenses lançaram no início de maio uma ofensiva terrestre na cidade, localizada no extremo sul da Faixa de Gaza e onde dezenas de milhares de palestinos buscaram refúgio dos combates em outras partes do território.
A localidade foi alvo de disparos de artilharia nesta segunda-feira. Também foram registrados bombardeios no campo de refugiados de Nuseirat, no centro, e no bairro de Zeitun, na Cidade de Gaza, ao norte, onde houve combates, segundo testemunhas.
"Já não há água nem comida. Estamos totalmente encurralados", relatou Haitham Abu Taha, um palestino que retornou a Rafah.
CONTROLE MILITAR
Netanyahu, que lidera uma coligação de partidos de direita e de extrema direita, indicou, quando questionado sobre o pós-guerra em Gaza, que Israel manterá "o controle militar em um futuro próximo".
O premiê israelense também afirmou nesta segunda-feira perante o Parlamento que está "comprometido com a proposta israelense" que foi aprovada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de cessar-fogo, mas afirmou que seu país não vai acabar com a guerra enquanto não eliminar o Hamas.
O plano exposto no final de maio por Biden, que o apresentou como uma iniciativa israelense, prevê um cessar-fogo de seis semanas acompanhado de uma retirada israelense das zonas densamente povoadas de Gaza, a libertação dos reféns, além da troca por prisioneiros palestinos em Israel.
O plano busca estabelecer um cessar-fogo "permanente" em uma fase posterior, condicionado a que o Hamas "respeite seus compromissos".
O Hamas, que governa o estreito território desde 2007, insistiu que qualquer acordo para uma trégua deve incluir "um cessar-fogo permanente e uma retirada completa" das tropas israelenses de Gaza, algo que Israel rejeita.
A guerra começou em 7 de outubro, quando comandos do Hamas invadiram o sul de Israel e mataram 1.194 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Os milicianos também sequestraram 251 reféns, dos quais 116 seguem retidos em Gaza, e entre os quais 41 teriam morrido, de acordo com o Exército israelense.
Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva militar na Faixa de Gaza, que até o momento deixou 37.626 mortos, na maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território.
O Exército israelense e o Fórum das Famílias de Reféns confirmaram nesta segunda-feira a morte de um militar beduíno vítima do ataque do Hamas em 7 de outubro e cujo corpo foi levado para Gaza.
O governo israelense enfrenta grandes manifestações que exigem eleições antecipadas e o retorno dos reféns.
O Fórum das Famílias de Reféns condenou essas declarações e disse que "o fim dos combates em Gaza sem a libertação dos sequestrados constituiria um fracasso nacional sem precedentes".
PRESSÕES CONTRA ISRAEL
O governo de Netanyahu enfrenta uma forte pressão interna e no sábado mais de 150 mil pessoas protestaram em Tel Aviv, segundo os organizadores, para exigir eleições antecipadas e o retorno dos reféns.
Durante a entrevista, Netanyahu declarou que "após o final da fase intensa" em Rafah, poderemos deslocar algumas forças para o norte", na fronteira com o Líbano, onde suas tropas mantêm trocas de tiros quase diárias com o movimento islamista Hezbollah desde o início da guerra.
As tensões fizeram com que milhares de residentes dos dois lados da fronteira abandonassem suas casas.
"Haverá guerra", afirma Helene Abergel, uma moradora de Kiryat Shemona que deixou sua casa no norte de Israel e vive em um hotel em Tel Aviv.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, está em Washington para uma visita "crucial" e se reuniu com o chefe da CIA, Bill Burns. Além disso, tem encontros previstos com o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, e com o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken.
"Eu gostaria de enfatizar que o compromisso principal de Israel é devolver os reféns, sem exceção, a suas famílias e lares", disse Gallant antes do início das reuniões.
Além da ofensiva militar, Israel impôs um cerco a Gaza que impede a entrada de alimentos, combustíveis, água e medicamentos.
A ONU alerta de maneira reiterada para os riscos de fome enfrentado pelos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza.
O "colapso da ordem civil" em Gaza gerou saques e contrabando que "impedem" a entrega de ajuda humanitária, denunciou Philippe Lazzarini, diretor da UNRWA, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos.