Javier Milei troca ataques por pragmatismo com Xi Jinping

Quando ainda era candidato à presidência da Argentina, Milei declarou que não faria "acordos com comunistas", na China ou no Brasil

Publicado em 20/11/2024 às 20:51
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No ano passado, o então candidato à presidência Javier Milei declarou que a Argentina não faria "acordos com comunistas", na China ou no Brasil, chamando seus líderes de "assassinos" e "ladrões". Era uma tentativa de canalizar as energias populistas de Donald Trump e outros ícones globais da extrema direita em uma mensagem política vencedora.

Na terça-feira (19), o Milei se viu apertando a mão do presidente chinês, Xi Jinping, na cúpula do G20, e prometendo impulsionar o comércio com Pequim, um dia depois de seu ministro da Economia assinar um acordo de exportação de gás natural argentino para o Brasil.

Milei até concordou com uma declaração conjunta endossada pelos líderes mundiais, apesar de suas tentativas anteriores de "roubar" o cargo de anfitrião do G20, que ficou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os momentos finais da cúpula do Rio revelaram a tendência mais pragmática do argentino, o que foi uma surpresa.

OBJEÇÕES

A resistência argentina ao comunicado do G20 concentrou-se em cláusulas relacionadas à tributação dos mais ricos e à regulamentação do discurso online. Os delegados argentinos também tentaram bloquear discussões sobre igualdade de gênero e as referências à agenda 2030 da ONU sobre desenvolvimento sustentável.

Os críticos no Rio viram o presidente argentino como um sabotador. Os apoiadores em seu país o aplaudiram como um líder da "nova desordem mundial". Milei, inicialmente, parecia imune a essas preocupações no Rio, mas acabou assinando a declaração sob pressão internacional.

Alguns temem que a eleição de Trump tenha encorajado ainda mais Milei e outras figuras extremistas a abandonar os compromissos da ONU e os acordos multilaterais. Segundo Roberto Goulart Menezes, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília, "condicionar a política externa da Argentina ao futuro presidente dos EUA" aumenta o risco de o país ficar isolado.

De fato, na tradicional foto de família do G-20 - tirada pela segunda vez, porque o presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, não compareceram à primeira - Milei foi o único que faltou na fila. Não haveria uma terceira tentativa.

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