Relegado a um lugar menos relevante nos debates eleitorais a cada dois anos, o processo de escolha dos integrantes do Poder Legislativo merece mais atenção de todos nós. Com grande peso nas decisões que vão, de certa forma, apontar os rumos do País, do Estado ou da cidade, o tempo dedicado pelo eleitor para a escolha dos seus parlamentares é inversamente proporcional ao seu impacto no cotidiano da população. Aliás, é lamentável, mas tenho certeza de que muitos sequer se lembram em quem votaram para deputado, senador ou vereador nas últimas eleições.
A formação do Parlamento tem efeito direto no Executivo, onde é cada vez mais clara a dependência ao que pensa ou ao que quer o Legislativo. Com papel constitucional de propor, analisar e validar, ou não, projetos que se tornarão leis, tem potencial para “paralisar” um chefe de Estado ou mesmo inviabilizar sua gestão. E, mesmo assim, poucos eleitores se preocupam em discutir sobre aquele ou aquela que receberá seu voto. É como se seu papel fosse menor e menos relevante na dinâmica democrática do País, onde tradicionalmente todas as atenções se voltam para quem vai se sentar na cadeira do Executivo.
É comum ver eleitores votando no “amigo do amigo de um primo distante”, algo que funciona quase como um “favor”. E é certamente o “favor” mais caro que alguém pode fazer. Além de jogar por terra sua voz no Congresso, pagará uma conta alta se esse “amigo do amigo de um primo distante” for alguém sem posição e que entregue seus valores e conceitos em prol de si mesmo na primeira oportunidade.
Uma Câmara Federal forte e que realmente represente os interesses do povo, como é o conceito central de sua existência, deve ser capaz de analisar com profundidade e apontar caminhos para problemas sociais e econômicos – para citar apenas alguns dos desafios. Tanto é esse seu papel que a formação de 513 cadeiras em Brasília ou de 49 lugares, como é o caso da Assembleia Legislativa de Pernambuco, é resultado direto do número de eleitores. E cabe aqui destacar também o papel do Senado, cuja composição tem como diretriz representar os Estados, tanto que suas cadeiras são referentes aos 27 existentes, ao contrário de guardar relação com quantitativo de eleitores. Nessa Casa, todos os entes federativos têm o mesmo peso nas votações.
Hoje, discute-se muito na sociedade os ganhos com a diversidade cultural, de raça, de gênero e de orientação sexual que, junto com as várias perspectivas e repertórios, podem contribuir nas empresas para soluções inovadoras e trazer para todos olhares e dores - nem sempre percebidos pelo coletivo. É dessa mesma diversidade de ótica, de vivência que precisa ser composto um Parlamento.
Precisamos de legisladores que tenham a capacidade de raciocinar para além dos seus currais eleitorais, com toda utopia que esse desejo carregue. Pessoas capazes de olhar para a sociedade e captar as necessidades que são inegociáveis - por mais que façam parte da base de sustentação desse ou daquele Governo. Claro que não vamos “sonhar” com a independência total entre os Poderes, mas o contraponto e a capacidade de refletir deve existir em toda esfera. E isso depende do perfil do político que cada eleitor vai escolher.
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