A política e os batráquios

A complexa tarefa de exercer a política exige habilidades e capacidades que ultrapassam a razão
GUSTAVO KRAUSE
Publicado em 10/12/2022 às 16:58
A complexa tarefa de exercer a política exige habilidades e capacidades que ultrapassam a razão Foto: MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL


O batráquio é membro de um grupo de carnívoros anfíbios que inclui sapos, rãs e pererecas.
A política, diz Hannah Arendt, tem por base a pluralidade de homens e a convivência dos diferentes.
Por sua vez, as regras de convivência evitam “a guerra de todos contra todos” e asseguram a passagem entre a barbárie para um estado mais avançado que é o da civilização.

Para Aristóteles, o homem é um animal político e é de sua natureza viver em sociedade para governar e ser governado. Daí, advém a política que é ciência, arte e ética na busca do bem comum.

Há um ponto convergente nas definições: a política é uma necessidade vital para a sociedade e, para o seu bom exercício, é fundamental, na visão de Max Weber, possuir três atributos: paixão (compromisso com a causa), responsabilidade (capacidade de dar resposta às demandas) e senso de proporção (realismo).

A complexa tarefa de exercer a política exige habilidades e capacidades que ultrapassam a razão, o rigor das ciências e recebe a influência de percepções intuitivas captadas pelas antenas da sensibilidade. É o que se convencionou denominar “faro” político.

Neste sentido, a realpolitik requer o uso cada vez mais ampliado do repertório de virtudes no espaço em que opera, em especial, os detentores do poder.

A propósito, este é o cenário da conjuntura política em que o Presidente eleito, Lula, vem se movimentando e demonstrando enorme capacidade de “engolir sapos”, bicho feio e nada apetitoso.
Candidato, elegeu-se com a promessa de pacificação dos ânimos beligerantes – a prioridade das prioridades – que têm envenenado as relações sociais; Presidente eleito, Lula busca definir um governo que desafia a vocação hegemônica do PT, mas que atende ao conjunto de forças que lhe dão sustentação.
Surge uma procedente indagação: Quais os termos e o preço da nova coalizão?

Tradicionalmente, frentes políticas têm por base o consenso programático. Não é o caso. Por enquanto, o governismo atávico e a gula fisiológica dão as cartas do jogo. Os batráquios – orçamento secreto, reeleição do atual Presidente da Câmara, cacofonia da equipe de transição e loteamento ministerial – estão engolidos e devidamente digeridos.

O preço é alto, porém, contrariar o modus operandi é alternativa indesejável.

É a hora de entrar em campo o estadista, avis rara, assim definido por Kenneth Minogue (1930-2013): “Os estadistas – o mais alto estágio político – são aqueles que equilibram a convicção interior com talento de transformar em vantagem cada oportunidade”.

Gustavo Krause, ex-governador de Pernambuco

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